São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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OPINIÃO

Uma ótima época para ser banqueiro

FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"

OS ANÚNCIOS de resultados do Goldman Sachs e do JPMorgan Chase, bem como a iminente concordata do CIT Group, mostram que o momento é ótimo para os banqueiros.
Ao menos se você não tiver muito lixo tóxico em suas contas. Ou, para ser mais exato, se puder agir como se não estivesse nessa situação.
O momento é ótimo porque a concorrência está em queda, e as margens de lucros, em alta. Pode-se tomar empréstimos com garantia do governo -bem, da FDIC (agência federal garantidora dos depósitos bancários). Existem alguns incômodos populistas que não conseguem compreender que um setor que teria desabado não fosse a generosidade do governo agora veja motivos para retornar aos dias de bônus milionários para seus executivos, mas eles podem ser ignorados.
Um líder sindical que conheço estava resmungando alguma coisa do tipo "eu também lucraria muito se o Fed [o BC americano] me emprestasse dinheiro de graça", mas ele está apenas sendo invejoso.
O CIT, infelizmente, tem muitos maus empréstimos em sua contabilidade. E o mesmo aparentemente se aplica a muitos dos pequenos bancos dos EUA que sofrem de grande exposição aos imóveis comerciais. Por isso, talvez ainda haja muito sangue ainda por correr.
O CIT, e os demais bancos desse tipo, foi irresponsável durante o boom. Provavelmente não tão irresponsável quanto a AIG, mas a AIG ao menos teve a sabedoria de colocar todo o sistema financeiro em risco caso quebrasse. O CIT é simplesmente insignificante demais para ser salvo. Agora, o pessoal da AIG também está recebendo generosos bônus, o que simplesmente prova que o sucesso também pode nascer do fracasso (basta que seja um fracasso suficientemente estrondoso).
Quanto mais pequenas instituições de crédito falirem, melhores as notícias para quem se mantiver no negócio. Quanto menor a competição entre os fornecedores de empréstimos, melhor a margem de lucro.
Uma área em que existe menos competição é a dos cartões de crédito. Um artigo do "New York Times" fala sobre a raiva dos pequenos comerciantes quanto à elevação das tarifas cobradas pelas transações com cartões de crédito.
Eles querem que o governo limite as tarifas. Já eu tenho outra ideia. O ideal seria repassar as tarifas das operadoras de cartão aos consumidores de forma clara: o café custaria US$ 1,50 em dinheiro e US$ 1,79 se pago com o cartão. Caso a Visa ofereça melhor negócio que a American Express, o café pago com um cartão Visa custaria US$ 1,69. Um pouco de concorrência de preços viria a calhar.
Mas não existe muita competição no sistema financeiro atual. O resgate do governo americano permitiu que os bancos se mantivessem à tona. Mas não os livrou de seus empréstimos problemáticos e outros ativos ruins. Em lugar disso, o Congresso forçou as autoridades regulatórias a permitir que os bancos declarassem que os ativos disponíveis em seus balanços tinham valor muito superior àquele pelo qual poderiam ser vendidos.
As autoridades regulatórias, como apontou Jonathan Weil da agência Bloomberg, ainda classificam a capitalização do CIT como suficiente. E o mesmo se aplicava, é claro, ao Lehman Brothers. A lição óbvia a extrair é que as autoridades regulatórias ou não fazem a menor ideia sobre o que está acontecendo de verdade ou temem admitir que sabem. De qualquer forma, ser informado de que um banco está bem capitalizado, hoje em dia, representa um dado complemente inútil.
Há uma falta de crédito no mercado, e esse é um motivos para que os bancos possam cobrar preços tão salgados pelos empréstimos que oferecem. Mas essa falta prejudicará qualquer coisa que possa se assemelhar a uma recuperação econômica, o que pode deixar os ativos podres legados pela crise em posição ainda pior da que poderiam estar.
Mas não se desesperem. As grandes bonificações aos funcionários dos bancos podem ajudar alguns deles a adquirir aquelas casas imensas que foram construídas exatamente para pessoas como eles, nos bons e velhos dias.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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