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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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OPINIÃO ECONÔMICA

A fonte certa para financiar produção

GILBERTO BOMENY

O s números da economia brasileira demonstram que os setores produtivos estão engessados, com poucas alternativas de captar recursos para investimentos. Por isso, foi positiva a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de convocar os fundos de pensão para impulsionar os investimentos em infra-estrutura em 2004 e os projetos incluídos no PPA (Plano Plurianual). Explica-se: esses fundos -considerando que seus recursos não se ancoram em dívidas- são uma das únicas alternativas à formação de poupança interna destinada a projetos de investimentos produtivos e podem estimular a retomada do crescimento sustentado. Seus recursos também não estão comprometidos com o Orçamento da União, Estados e municípios ou com quaisquer compromissos atrelados à dívida pública.
Assim, é natural que os fundos de pensão sejam responsáveis por numerosos projetos em todo o país, com resultados positivos em termos da geração de empregos em larga escala, atração de novos investimentos produtivos, nacionais e estrangeiros, e criação de bolsões de desenvolvimento.
Exemplos de realizações ancoradas em financiamentos efetuados com recursos dos fundos de pensão: o processo de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso; os investimentos do complexo turístico do porto de Sauípe, na Bahia; e o complexo do WTC (World Trade Center) em São Paulo.
Empresários de todos os setores reclamam muito da falta de crédito e cobram taxas de juros civilizadas para o financiamento de projetos produtivos. Na verdade, as linhas de crédito existem, teoricamente, somente no papel, mas não há recursos suficientes para as operacionalizar. Assim, alternativa muito viável seria "engordar" com recursos dos fundos de pensão as linhas existentes em bancos federais e estaduais, facilitando o acesso por parte das empresas, inclusive as pequenas e médias. Exatamente o que o presidente da República propõe para impulsionar os investimentos em infra-estrutura e o Plano Plurianual. Por que não multiplicar o modelo, utilizando-o em todos os setores?
Estima-se que, atualmente, o valor disponível nos planos de previdência complementar -que constituem as reservas dos fundos de pensão- some cerca de R$ 180 bilhões. É um montante expressivo, mas que precisa crescer cada vez mais, para fazer frente à demanda reprimida dos investimentos produtivos. Conforme observou o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, o país vislumbra hoje dois cenários bem distintos, no curto e no longo prazos. O primeiro é que a economia deverá ter pequena expansão neste segundo semestre, pois chegou ao limite da retração. De fato, os indicadores do primeiro trimestre de 2003 -PIB menor do que o de igual período de 2002, desemprego elevadíssimo, que chegou a 20,6% na Grande São Paulo, e queda de 8,6% no rendimento dos trabalhadores em abril em relação ao mesmo mês do ano passado- mostram que o crescimento será de ínfimo 1,5% neste ano, contra previsão anterior do Banco Central de 2,2%.
Mas o que esperar a partir de 2004?, pergunta o economista. Teremos um nível de crescimento adequado ou manteremos a modorrenta inércia de 1,5% ao ano, sempre aquém da expansão demográfica, da necessidade de criar empregos em larga escala, promover a inclusão social e o desenvolvimento?
Com certeza os fundos de pensão podem contribuir muito para inverter as condições pouco favoráveis para os investimentos hoje existentes no país. É óbvio que sua gestão tem de ser responsável e focada na meta de garantir as aposentadorias dos contribuintes. Porém é importante que seus gestores tenham consciência de que investir em um empreendimento pode parecer, num primeiro momento, menos interessante em termos de rendimento, pois são atraentes as taxas de juros do mercado financeiro, mas há um fator importante a ser considerado: um investimento produtivo cria empregos e renda, estimula os negócios e é muito mais seguro para o futuro do próprio fundo e para a garantia do pagamento das aposentadorias do que uma aplicação no sempre oscilante mercado financeiro globalizado. Dessa forma, a iniciativa do presidente Lula pode ser um dos passos mais concretos para viabilizar o seu "espetáculo do crescimento".


Gilberto Bomeny, 63, engenheiro, é presidente do World Trade Center Brasil.


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