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OPINIÃO ECONÔMICA
A fonte certa para financiar produção
GILBERTO BOMENY
O s números da economia
brasileira demonstram que
os setores produtivos estão engessados, com poucas alternativas de
captar recursos para investimentos. Por isso, foi positiva a iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva de convocar os fundos de
pensão para impulsionar os investimentos em infra-estrutura
em 2004 e os projetos incluídos no
PPA (Plano Plurianual). Explica-se: esses fundos -considerando
que seus recursos não se ancoram
em dívidas- são uma das únicas
alternativas à formação de poupança interna destinada a projetos de investimentos produtivos e
podem estimular a retomada do
crescimento sustentado. Seus recursos também não estão comprometidos com o Orçamento da
União, Estados e municípios ou
com quaisquer compromissos
atrelados à dívida pública.
Assim, é natural que os fundos
de pensão sejam responsáveis por
numerosos projetos em todo o
país, com resultados positivos em
termos da geração de empregos
em larga escala, atração de novos
investimentos produtivos, nacionais e estrangeiros, e criação de
bolsões de desenvolvimento.
Exemplos de realizações ancoradas em financiamentos efetuados com recursos dos fundos de
pensão: o processo de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso; os investimentos do
complexo turístico do porto de
Sauípe, na Bahia; e o complexo do
WTC (World Trade Center) em
São Paulo.
Empresários de todos os setores
reclamam muito da falta de crédito e cobram taxas de juros civilizadas para o financiamento de
projetos produtivos. Na verdade,
as linhas de crédito existem, teoricamente, somente no papel, mas
não há recursos suficientes para
as operacionalizar. Assim, alternativa muito viável seria "engordar" com recursos dos fundos de
pensão as linhas existentes em
bancos federais e estaduais, facilitando o acesso por parte das empresas, inclusive as pequenas e
médias. Exatamente o que o presidente da República propõe para
impulsionar os investimentos em
infra-estrutura e o Plano Plurianual. Por que não multiplicar o
modelo, utilizando-o em todos os
setores?
Estima-se que, atualmente, o
valor disponível nos planos de
previdência complementar
-que constituem as reservas dos
fundos de pensão- some cerca
de R$ 180 bilhões. É um montante
expressivo, mas que precisa crescer cada vez mais, para fazer frente à demanda reprimida dos investimentos produtivos. Conforme observou o economista
Eduardo Giannetti da Fonseca, o
país vislumbra hoje dois cenários
bem distintos, no curto e no longo
prazos. O primeiro é que a economia deverá ter pequena expansão
neste segundo semestre, pois chegou ao limite da retração. De fato,
os indicadores do primeiro trimestre de 2003 -PIB menor do
que o de igual período de 2002,
desemprego elevadíssimo, que
chegou a 20,6% na Grande São
Paulo, e queda de 8,6% no rendimento dos trabalhadores em abril
em relação ao mesmo mês do ano
passado- mostram que o crescimento será de ínfimo 1,5% neste
ano, contra previsão anterior do
Banco Central de 2,2%.
Mas o que esperar a partir de
2004?, pergunta o economista. Teremos um nível de crescimento
adequado ou manteremos a modorrenta inércia de 1,5% ao ano,
sempre aquém da expansão demográfica, da necessidade de
criar empregos em larga escala,
promover a inclusão social e o desenvolvimento?
Com certeza os fundos de pensão podem contribuir muito para
inverter as condições pouco favoráveis para os investimentos hoje
existentes no país. É óbvio que sua
gestão tem de ser responsável e
focada na meta de garantir as aposentadorias dos contribuintes.
Porém é importante que seus gestores tenham consciência de que
investir em um empreendimento
pode parecer, num primeiro momento, menos interessante em
termos de rendimento, pois são
atraentes as taxas de juros do
mercado financeiro, mas há um
fator importante a ser considerado: um investimento produtivo
cria empregos e renda, estimula
os negócios e é muito mais seguro
para o futuro do próprio fundo e
para a garantia do pagamento das
aposentadorias do que uma aplicação no sempre oscilante mercado financeiro globalizado. Dessa
forma, a iniciativa do presidente
Lula pode ser um dos passos mais
concretos para viabilizar o seu
"espetáculo do crescimento".
Gilberto Bomeny, 63, engenheiro, é
presidente do World Trade Center Brasil.
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