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Contas externas têm saldo recorde
Sob influência da balança comercial, superávit das transações correntes alcança US$ 3,04 bi em julho
Expectativa do
Banco Central, no entanto, é
que saldo recue até o final do ano, em razão do
aumento das importações
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Influenciada pela balança comercial, as contas externas brasileiras registraram recorde
histórico em julho: um saldo
positivo de US$ 3,043 bilhões.
Apesar do bom resultado, não
houve surpresas, já que o mercado financeiro e o próprio BC
(Banco Central) projetavam
um saldo positivo.
Esse desempenho, porém,
não deve se manter ao longo do
segundo semestre. A expectativa do Banco Central é a de um
superávit de US$ 8,8 bilhões no
ano, valor que é pouco mais da
metade do que foi registrado
em 2005 (US$ 14,193 bilhões).
A explicação para isso também
está na balança comercial. É
que, no segundo semestre, deve
haver redução no ritmo das exportações, enquanto as importações aumentarão entre setembro e novembro.
A queda no superávit em
conta corrente já está refletida
nos números acumulados no
ano. De janeiro a julho, o superávit nas transações correntes
ficou em US$ 6,130 bilhões, enquanto no mesmo período de
2005 foi de US$ 7,825 bilhões.
Essa queda não chega a ser
considerada negativa porque o
Brasil poderá aproveitar uma
parcela maior dos recursos externos que entram no país para
crescer. Se o saldo das transações com o exterior é muito elevado, significa que o país está
deixando de aproveitar o financiamento externo para investimentos produtivos.
O balanço de pagamentos,
que também inclui a entrada e a
saída de capitais do país, ficou
positivo em US$ 3,917 bilhões
em julho.
Ganho com juros
A política do governo de redução da dívida externa e de
acúmulo de reservas internacionais já está tendo impacto
nas contas externas. A compra
de dólares pelo Tesouro Nacional, que elevou as reservas em
dólar para US$ 69,999 bilhões,
fez a receita com o pagamento
de juros sobre a aplicação desses recursos dobrar neste ano.
No primeiro semestre de
2005, o governo recebeu US$
1,261 bilhão pela remuneração
das reservas. Neste ano, a receita já chega a US$ 3,023 bilhões.
Já a recompra de dívida externa só começará a ter impacto
nas estatísticas ao longo do segundo semestre.
É que, como o governo antecipou o resgate de títulos com
vencimento até 2010, o gasto
neste ano foi elevado. De acordo com os dados do BC, as despesas com o pagamento de juros neste ano foram de US$
9,924 bilhões, enquanto no
mesmo período do ano passado
ficaram em US$ 9,2 bilhões.
"A tendência no médio prazo
é caírem as despesas com juros
e continuar aumentando as receitas", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC,
Altamir Lopes.
Esse movimento só deve se
acentuar, já que o governo continua atuando forte no mercado de câmbio. No mês passado,
as compras de dólares somaram US$ 4,4 bilhões em julho, e
nos 15 primeiros dias de agosto
já totalizam US$ 3,290 bilhões.
Essa estratégia tem benefícios, como a redução da vulnerabilidade em casos de crises
cambiais e melhora na percepção do risco do país pelos investidores estrangeiros. Mas o
custo fiscal de um volume elevado de reservas internacionais
não é baixo.
Quando recompra a dívida
externa, o governo está, na verdade, tomando dinheiro emprestado no mercado interno e
pagando juros equivalentes à
taxa Selic, hoje em 14,75%. Se
deixasse os papéis da dívida externa em mercado, os juros que
o Tesouro Nacional estaria pagando seriam muito menores,
na faixa de 7%.
A diferença entre os juros internos e externos é o preço que
o governo paga para reduzir seu
endividamento externo.
"Essa estratégia se justificaria se houvesse alguma perspectiva de crise cambial. Não é
o caso. Seria muito mais interessante acelerar a queda de juros para que o câmbio se desvalorizasse", diz o economista
Sérgio Vale, da MB Associados.
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