São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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Contas externas têm saldo recorde

Sob influência da balança comercial, superávit das transações correntes alcança US$ 3,04 bi em julho

Expectativa do Banco Central, no entanto, é que saldo recue até o final do ano, em razão do aumento das importações


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Influenciada pela balança comercial, as contas externas brasileiras registraram recorde histórico em julho: um saldo positivo de US$ 3,043 bilhões. Apesar do bom resultado, não houve surpresas, já que o mercado financeiro e o próprio BC (Banco Central) projetavam um saldo positivo.
Esse desempenho, porém, não deve se manter ao longo do segundo semestre. A expectativa do Banco Central é a de um superávit de US$ 8,8 bilhões no ano, valor que é pouco mais da metade do que foi registrado em 2005 (US$ 14,193 bilhões). A explicação para isso também está na balança comercial. É que, no segundo semestre, deve haver redução no ritmo das exportações, enquanto as importações aumentarão entre setembro e novembro.
A queda no superávit em conta corrente já está refletida nos números acumulados no ano. De janeiro a julho, o superávit nas transações correntes ficou em US$ 6,130 bilhões, enquanto no mesmo período de 2005 foi de US$ 7,825 bilhões.
Essa queda não chega a ser considerada negativa porque o Brasil poderá aproveitar uma parcela maior dos recursos externos que entram no país para crescer. Se o saldo das transações com o exterior é muito elevado, significa que o país está deixando de aproveitar o financiamento externo para investimentos produtivos.
O balanço de pagamentos, que também inclui a entrada e a saída de capitais do país, ficou positivo em US$ 3,917 bilhões em julho.

Ganho com juros
A política do governo de redução da dívida externa e de acúmulo de reservas internacionais já está tendo impacto nas contas externas. A compra de dólares pelo Tesouro Nacional, que elevou as reservas em dólar para US$ 69,999 bilhões, fez a receita com o pagamento de juros sobre a aplicação desses recursos dobrar neste ano.
No primeiro semestre de 2005, o governo recebeu US$ 1,261 bilhão pela remuneração das reservas. Neste ano, a receita já chega a US$ 3,023 bilhões. Já a recompra de dívida externa só começará a ter impacto nas estatísticas ao longo do segundo semestre.
É que, como o governo antecipou o resgate de títulos com vencimento até 2010, o gasto neste ano foi elevado. De acordo com os dados do BC, as despesas com o pagamento de juros neste ano foram de US$ 9,924 bilhões, enquanto no mesmo período do ano passado ficaram em US$ 9,2 bilhões.
"A tendência no médio prazo é caírem as despesas com juros e continuar aumentando as receitas", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Esse movimento só deve se acentuar, já que o governo continua atuando forte no mercado de câmbio. No mês passado, as compras de dólares somaram US$ 4,4 bilhões em julho, e nos 15 primeiros dias de agosto já totalizam US$ 3,290 bilhões.
Essa estratégia tem benefícios, como a redução da vulnerabilidade em casos de crises cambiais e melhora na percepção do risco do país pelos investidores estrangeiros. Mas o custo fiscal de um volume elevado de reservas internacionais não é baixo.
Quando recompra a dívida externa, o governo está, na verdade, tomando dinheiro emprestado no mercado interno e pagando juros equivalentes à taxa Selic, hoje em 14,75%. Se deixasse os papéis da dívida externa em mercado, os juros que o Tesouro Nacional estaria pagando seriam muito menores, na faixa de 7%.
A diferença entre os juros internos e externos é o preço que o governo paga para reduzir seu endividamento externo.
"Essa estratégia se justificaria se houvesse alguma perspectiva de crise cambial. Não é o caso. Seria muito mais interessante acelerar a queda de juros para que o câmbio se desvalorizasse", diz o economista Sérgio Vale, da MB Associados.


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