São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo estuda aperto se crise aumentar

Medidas como conter gasto público e avançar a reforma da Previdência seriam adotadas para acalmar os mercados

Guido Mantega irá apresentar avaliação da conjuntura em reunião na segunda da coordenação política, no Planalto

VALDO CRUZ
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda reforçar a política econômica, com um aperto adicional nas áreas fiscal e monetária, caso a crise no mercado financeiro se prolongue e acabe afetando a economia como um todo.
Internamente, ainda não há um diagnóstico fechado sobre a gravidade da situação e os possíveis impactos na economia brasileira, mas as declarações públicas iniciais de que o país estaria protegido das turbulências -e poderia até se beneficiar da alta do dólar- já deram lugar a afirmações menos otimistas e mais cautelosas.
Na próxima segunda-feira, a tradicional reunião da coordenação política no Palácio do Planalto será dedicada a uma apresentação do ministro Guido Mantega (Fazenda) sobre a conjuntura econômica, que passou a inspirar mais pessimismo desde a última terça-feira, quando houve a última discussão sobre o tema entre Lula e principais auxiliares.
Segundo a Folha apurou, avalia-se na área econômica que, se necessário, o governo tem boas condições para lançar medidas para controlar o nervosismo dos investidores. Mas deve aguardar ainda a evolução dos indicadores nos próximos dias, para evitar que uma medida precipitada dê à crise uma dimensão ainda maior.
Os instrumentos à disposição são velhos conhecidos da era das crises financeiras que assolaram o país nos anos 1990 e no início desta década, mas seus efeitos, na visão da equipe econômica, tendem a ser menos dolorosos graças aos ganhos dos últimos anos de expansão da economia global.
Mesmo antes do agravamento da atual crise, o BC já dava sinais de que o cenário externo poderia levar a uma redução no ritmo de redução de sua taxa de juros -no mês passado, três diretores usaram esse argumento para defender uma redução de 0,25 ponto percentual da Selic, em vez do 0,5 ponto aprovado por quatro votos.
Só virão medidas mais drásticas se a alta do dólar ameaçar o controle da inflação -o dólar baixo barateia os importados e reduz os preços. Mas, ainda que seja preciso endurecer mais a política monetária, a taxa de juros atual, de 11,5% ao ano, está muito longe dos patamares de crises anteriores. Ao menos neste ano, o crescimento não está ameaçado, considera a área econômica.
Uma necessidade de aperto nos juros pode ser evitada ou atenuada com aumento do superávit primário, a parte da receita destinada ao abatimento da dívida pública. Até agora, não se fala em números, mas avalia-se que o anúncio de meta maior acalmaria o mercado.
Pela lógica já seguida em ocasiões semelhantes, o aumento do aperto fiscal tem o objetivo de garantir que a dívida pública não sairá do controle em caso de alta do dólar e/ou dos juros. O primeiro risco praticamente inexiste hoje porque, nos últimos anos, foi reduzida a zero a parcela da dívida vinculada à variação cambial, de 39% no início do governo Lula -e o BC conta com reservas recordes de US$ 160 bilhões, que não encorajariam apostas contra o real.
Há ainda à disposição do governo um conjunto de projetos com apelo no mercado que atualmente estão parados, mas podem ganhar força se a crise se prolongar. Classificado por auxiliares de Lula de "estoque de medidas conservadoras", lá estão a reforma da Previdência, rejeitada na campanha eleitoral e empurrada para um fórum "com a sociedade". O item seguinte é o projeto que limita a 1,5% por ano a expansão dos gastos com pessoal acima da inflação. Incluída no PAC, ela enfrenta resistência da base sindicalista do governo e não prosperou no Congresso.


Texto Anterior: Commodities: Queda nos preços será de curta duração, diz Goldman Sachs
Próximo Texto: Caixa-forte: Arrecadação recorde facilita aperto maior
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.