São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2007 |
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Mutuários dos EUA já devem mais do que emprestaram
Financeira eleva os juros e famílias só conseguem pagar parte de dívida habitacional
MATTHEW GARRAHAN DO "FINANCIAL TIMES" EM LOS ANGELES Enquanto os mercados de ações mundiais vacilam com o colapso do mercado de empréstimos de segunda linha ("subprime") e a Countrywide, maior financeira de hipotecas dos EUA -que nesta semana tomou empréstimo de US$ 11,5 bilhões para honrar seus compromissos-, esforça-se para manter-se à tona, mutuários como Cynthia e Joe Esperaza enfrentam grandes problemas. Eles têm dois filhos e vivem em Santa Clarita, no vale de San Fernando, Califórnia. Tomaram um empréstimo da Countrywide três anos atrás, depois de receber material promocional de uma corretora de hipotecas local. Os Esperaza obtiveram uma taxa de "incentivo" de 1% nos primeiros dois meses do empréstimo. Mas, então, de acordo com eles, a taxa subiu em degraus de 2,8% no início, até chegar a 8% atualmente. Com o tempo, alcançará 9,5%. Dívida aumenta Em conseqüência disso, segundo os Esperaza, eles não conseguem pagar. Estão pagando mensalmente apenas parte dos juros devidos, e não o principal, e isso significa que sua dívida continua aumentando. Na indústria de hipotecas dos EUA, isso é conhecido como amortização negativa. Para os Esperaza, significa que emprestaram US$ 326 mil três anos atrás e hoje devem US$ 344 mil. "Disseram-nos que a taxa de juros continuaria igual", disse Cynthia. O corretor, segundo ela, explicou que "todo ano as prestações mudariam, mas não tão drasticamente". Conselheiros de crédito e ativistas sociais acusaram o credor de não fazer o suficiente para ajudar os mutuários endividados a refinanciar seus empréstimos. Na Califórnia, onde fica a sede da Countrywide, as execuções de hipotecas aumentaram 800%, pois os mutuários não conseguem pagar as prestações. "Temos uma longa lista de mutuários que não querem ajudar, e a Countrywide é um dos culpados neste momento", disse Frankie Ramierez, um oficial de empréstimos da Naca (Neighbourhood Assistance Corporation of America), um grupo sem fins lucrativos que ajuda pessoas de baixa renda a comprar casas. A Countrywide não respondeu sobre suas práticas de refinanciamento. Funcionários da Naca dizem que os problemas dos Esperaza não são raros. Outra família que buscou a ajuda da organização, e pediu para não ser citada, disse que está quase perdendo sua casa depois de fazer uma hipoteca com taxa reajustável na Countrywide. Seu empréstimo foi fixado em 5,9% nos primeiros dois anos. Depois desse período de "incentivo", a taxa subiu para 8,9%. E vai aumentar um ponto percentual a cada seis meses até alcançar 12,4%. "Eles não nos disseram que isso ia acontecer", diz o pai da família. Sua mulher acrescenta que lhe disseram que eles poderiam refinanciar o empréstimo antes do fim do período inicial de dois anos. "Mas, quando procurei minha corretora, ela se recusou a me atender e eu não consegui refinanciar o empréstimo", disse ela. "Fiquei confusa, mas estava tão entusiasmada por comprar minha casa. A pessoa que me ajudou não me disse para olhar o papel [que estava assinando]. Ela não disse que eu não poderia refinanciar." Agora, diz ela, "estamos lutando todo mês para pagar tudo". O credor não executou a hipoteca, mas ela diz que a família teme que isso aconteça. Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES Texto Anterior: Caixa-forte: Arrecadação recorde facilita aperto maior Próximo Texto: Confiança do americano é menor em 1 ano Índice |
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