São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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Expansão da Caixa sacrifica lucro, e provisão explode

Forte alta no crédito vem acompanhada de queda de 54% no lucro no 1º semestre

Provisões para garantir empréstimos de maior risco também aumentam nos primeiros seis meses do ano, em quase 80%


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A determinação do governo para os bancos públicos acelerarem a liberação de crédito diante da escassez no mercado não se traduziu, até o momento, em ganhos financeiros para as instituições. Banco 100% estatal, a Caixa Econômica Federal foi a instituição financeira que mais conquistou mercado dos concorrentes privados no primeiro semestre. Por outro lado, teve a maior queda de lucro entre os grandes bancos.
A Caixa teve lucro líquido de R$ 1,158 bilhão no primeiro semestre, resultado 54,5% menor do que os R$ 2,543 bilhões do mesmo período de 2008. A queda é fruto de margens menores de ganho e da expansão pesada das provisões para cobrir eventuais calotes.
O lucro de bancos privados como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, que pisaram no freio na concessão de crédito, caiu menos ou até subiu. O do Itaú teve queda de 17% no primeiro semestre ante o mesmo período de 2008. O do Bradesco recuou 2%. Já o do Santander cresceu 6,7%.
O Banco do Brasil, que também ampliou oferta de crédito a mando do governo, ficou com lucro estável, uma alta de 0,6%. Outra instituição pública que teve queda no resultado foi o BNDES: recuo de 83%.
Para abrir mercado, a Caixa e o Banco do Brasil entraram em um terreno visto como de alto risco pelos bancos privados, segundo João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho. A Caixa ganhou mercado nos principais segmentos -habitação, consumo, empresas, depósito, poupança, CDB, fundos e cartões- e somou R$ 323,6 bilhões em ativos, encostando no Santander/Real.
Enquanto o mercado teve um crescimento de 19,3% na carteira de crédito para pessoa física, a Caixa teve uma alta de 49,3% na comparação como junho de 2008. No caso das empresas, em que a Caixa chegou atrasada, o crescimento foi de 92,4%, enquanto o mercado teve alta de 18,7%.
O aumento das reservas para se prevenir de possíveis calotes foi um dos itens que mais consumiram o esforço das instituições públicas. A Caixa teve de elevar em quase 80% as despesas com provisões para cobrir inadimplência, num total de R$ 1,548 bilhão, o que derrubou o resultado no período.
Segundo a Caixa, a inadimplência para pessoa física está em 5,4% da carteira, enquanto o restante do mercado trabalha com taxa de 8,6%. Já para pessoa jurídica, os atrasos acima de 90 dias estão em 2,4%, ante 3,4% da média do mercado.
"Mostramos a inequívoca importância dos bancos públicos em um cenário de crise. Os números da Caixa demonstram que é possível conceder crédito e manter índices reduzidos de inadimplência. Nosso balanço mostra o fortalecimento das instituições públicas", disse a presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho.
Os bancos públicos enfrentam uma estrutura cara de agências e funcionários. O BB tem índice de eficiência (percentual das receitas que cobre custos fixos) de 77%; a Caixa, de 69,4%. No Itaú, esse número é de 49%; no Bradesco, de 50%.
Para completar, os gastos com pessoal na Caixa subiram 8,5%, e as despesas administrativas, 10,3%. "Com despesas altas e ganhos baixos, o resultado da Caixa fica mais sensível às despesas porque as receitas não crescem na mesma velocidade", avalia Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating.


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