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Expansão da Caixa sacrifica lucro, e provisão explode
Forte alta no crédito vem acompanhada de queda de 54% no lucro no 1º semestre
Provisões para garantir empréstimos de maior risco também aumentam
nos primeiros seis meses do ano, em quase 80%
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A determinação do governo
para os bancos públicos acelerarem a liberação de crédito
diante da escassez no mercado
não se traduziu, até o momento, em ganhos financeiros para
as instituições. Banco 100% estatal, a Caixa Econômica Federal foi a instituição financeira
que mais conquistou mercado
dos concorrentes privados no
primeiro semestre. Por outro
lado, teve a maior queda de lucro entre os grandes bancos.
A Caixa teve lucro líquido de
R$ 1,158 bilhão no primeiro semestre, resultado 54,5% menor
do que os R$ 2,543 bilhões do
mesmo período de 2008. A
queda é fruto de margens menores de ganho e da expansão
pesada das provisões para cobrir eventuais calotes.
O lucro de bancos privados
como Itaú Unibanco, Bradesco
e Santander, que pisaram no
freio na concessão de crédito,
caiu menos ou até subiu. O do
Itaú teve queda de 17% no primeiro semestre ante o mesmo
período de 2008. O do Bradesco recuou 2%. Já o do Santander cresceu 6,7%.
O Banco do Brasil, que também ampliou oferta de crédito
a mando do governo, ficou com
lucro estável, uma alta de 0,6%.
Outra instituição pública que
teve queda no resultado foi o
BNDES: recuo de 83%.
Para abrir mercado, a Caixa e
o Banco do Brasil entraram em
um terreno visto como de alto
risco pelos bancos privados, segundo João Augusto Salles,
analista da consultoria Lopes
Filho. A Caixa ganhou mercado
nos principais segmentos -habitação, consumo, empresas,
depósito, poupança, CDB, fundos e cartões- e somou R$
323,6 bilhões em ativos, encostando no Santander/Real.
Enquanto o mercado teve
um crescimento de 19,3% na
carteira de crédito para pessoa
física, a Caixa teve uma alta de
49,3% na comparação como junho de 2008. No caso das empresas, em que a Caixa chegou
atrasada, o crescimento foi de
92,4%, enquanto o mercado teve alta de 18,7%.
O aumento das reservas para
se prevenir de possíveis calotes
foi um dos itens que mais consumiram o esforço das instituições públicas. A Caixa teve de
elevar em quase 80% as despesas com provisões para cobrir
inadimplência, num total de R$
1,548 bilhão, o que derrubou o
resultado no período.
Segundo a Caixa, a inadimplência para pessoa física está
em 5,4% da carteira, enquanto
o restante do mercado trabalha
com taxa de 8,6%. Já para pessoa jurídica, os atrasos acima
de 90 dias estão em 2,4%, ante
3,4% da média do mercado.
"Mostramos a inequívoca
importância dos bancos públicos em um cenário de crise. Os
números da Caixa demonstram
que é possível conceder crédito
e manter índices reduzidos de
inadimplência. Nosso balanço
mostra o fortalecimento das
instituições públicas", disse a
presidente da Caixa, Maria
Fernanda Coelho.
Os bancos públicos enfrentam uma estrutura cara de
agências e funcionários. O BB
tem índice de eficiência (percentual das receitas que cobre
custos fixos) de 77%; a Caixa, de
69,4%. No Itaú, esse número é
de 49%; no Bradesco, de 50%.
Para completar, os gastos
com pessoal na Caixa subiram
8,5%, e as despesas administrativas, 10,3%. "Com despesas altas e ganhos baixos, o resultado
da Caixa fica mais sensível às
despesas porque as receitas
não crescem na mesma velocidade", avalia Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating.
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