São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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Santander prevê investir até US$ 27 bilhões no país

Montante viria puxado pela aquisição das operações do ABN Amro no Brasil

Premiê Zapatero e líderes empresariais espanhóis recebem Lula com elogios à economia brasileira e promessas de investimento

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula e o premiê espanhol, o socialista José Luís Zapatero

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia usar, desta vez com total razão, um de seus bordões preferidos e dizer que "nunca antes neste país" se ouviram tantos e tão rasgados elogios ao Brasil e seu governante.
O país, no caso, é a Espanha e, de fato, nos três encontros que Lula manteve ontem com empresários espanhóis, houve uma catarata de elogios ao Brasil e a seu governo. Melhor ainda: às palavras somou-se dinheiro, ao menos promessas.
Só o Banco Santander anuncia algo em torno de US$ 27 bilhões em novos investimentos como decorrência da incorporação do Banco Real, se se fechar a compra do ABN Amro holandês pelo consórcio de que participa o grupo espanhol.
O principal dos três encontros de Lula com o empresariado foi em pleno Palácio de Moncloa, a sede do governo, com a presença do premiê José Luís Rodríguez Zapatero. O entusiasmo foi tamanho que o grande patriarca do Santander, Emílio Botín, exigiu que as agências de "rating" concedam ao Brasil o "investment grade" o mais depressa possível.
O "grau de investimento" é um rótulo de bom pagador, atraindo investimentos externos ao país que o recebe.
Antes de Botín, o presidente da Telefónica de España, César Alierta, a outra das duas grandes empresas da nova armada espanhola, havia dito a mesma coisa. Não faltou um só dos dirigentes das grandes grifes da florescente economia espanhola para recitar loas a Lula e ao país. Botín já havia repetido outro bordão freqüente de Lula, o de que "o Brasil vive seu melhor momento econômico".
Antonio Brufal (da petrolífera Repsol-YPF) louvou "a transparência, o profissionalismo [da gestão] e a segurança jurídica" encontrados no Brasil. Ignacio Galán (Iberdrola, energia elétrica) falou da "magnífica política" de Lula". Salvador Gabarró (Gás Natural) louvou seu "socialismo pragmático", que entendeu que "sem desenvolvimento econômico não há desenvolvimento social".
Tudo e todos com as bênçãos do socialista Zapatero, para quem Lula "vai ser um dos grandes presidentes do século 21". O fato de Zapatero ter reunido em Moncloa os pesos pesados do empresariado é um tremendo aval ao Brasil. Desde Felipe González, os premiês se transformaram em ponta-de-lança da internacionalização das empresas espanholas.
Tanto é que Gerardo Díaz Ferrán, o presidente da Ceoe (Confederação Espanhola das Organizações Empresariais, a central empresarial), fez questão de dizer que Zapatero "já falou -e muito bem- em nome dos empresários". O que dissera Zapatero? Que "a Espanha aposta pelo Brasil".
Que o empresariado repita, em público, o que diz o premiê pode ser mero protocolo. Mas, em reunião anterior, as mesmas apostas no Brasil haviam sido repetidas calorosamente depois da exposição da ministra Dilma Rousseff sobre o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Ao ponto de, segundo ela, Francisco Luzón, responsável no Santander por América Latina, ter dito que o Brasil, em vez de ser ameaçado pela crise global, pode se beneficiar muito dela. O argumento, o mesmo de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, é o seguinte: há uma fuga de investidores de papéis de risco, como conseqüência da turbulência financeira. Com o PAC, o Brasil pode oferecer "ativos muito bons em investimentos produtivos", lembra Dilma, com retornos também muito bons.
Por "ativos produtivos", entendam-se hidrelétricas, rodovias, portos. Vender o PAC foi o grande objetivo da viagem de Lula à Espanha, cujos empresários despejaram US$ 15,5 bilhões em investimento direto no país, tornando-se o terceiro maior investidor estrangeiro no Brasil.


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