São Paulo, sexta-feira, 18 de setembro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Um PIB cinco estrelas na eleição?


Estimativas de mercado e governo convergem para PIB em alta de 5% em 2010; Lula prepara ainda pacote político


CHUTAR OU "estimar de modo informado" os números do crescimento econômico é um esporte quase tão desacreditado quanto o campeonato mundial de baratinhas, o de corridas de carros Fórmula 1, embora de modo um tanto injusto -ou ao menos pelos motivos errados (economistas batem muito seus carros no muro, mas raramente de propósito).
Mas conviria prestar atenção ao fato de que tanto os números da propaganda do governo como os das estimativas do mercado para o PIB de 2010 convergem para 5%. Há autoridades do governo mais otimistas até que o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Miguel Jorge, ministro do Desenvolvimento, falou ontem em 5%. O economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES, vem repetindo tal número faz tempo. Das consultorias mais sérias, a MB Associados subiu ontem sua projeção para o crescimento de 2010 de 4% para 5%. Os economistas do Bradesco ficam por aí, com 4,9%; os do Itaú, com 4,8%.
E daí? Prestar atenção à sintonia das expectativas públicas e privadas parece uma atitude assemelhada a ressaltar a importância das conjunções planetárias, na idiótica astrologia. Porém, esse início de disseminação do otimismo não é de todo sem consequência para o ânimo dos agentes econômicos -e também é reflexo desse mesmo ânimo. Não se trata de animação sem fundamento.
Os números do PIB foram melhores do que se poderia esperar, e os do comércio mal sentiram o choque inicial da crise no mercado de trabalho, que, no entanto, se dissipou rapidamente. A resistência do emprego foi uma das maiores surpresas do ano.
O clima de concórdia público-privado vai muito além das estatísticas. Lula agregou politicamente a maior parte da grande empresa. Nos itens da "pax" empresarial luliana podem ser lembrados: subsídios, aumento do crédito subsidiado (via BNDES), criação de fundos paraestatais de investimento (como aqueles para habitação e infraestrutura), apoio legal, extralegal e "muito legal" a fusões e aquisições, salvação de megaempresas quebradas etc.
Mesmo a intervenção do governo no mercado bancário, via expansão da atividade dos bancos estatais, nas internas é bem-vista pela banca, que em parte se beneficiou dela. Baixou, de resto, o tom das críticas ao nível da taxa de juros. O "mercado" faz menos alarde até a respeito da expansão do gasto público. Nem mesmo a desprivatização do petróleo suscita crítica forte. É um espanto.
A fim de deixar ainda menos barato o efeito de uma alta do PIB de eventuais 5% em 2010, o governo prepara sua política expansionista de propaganda política para o ano da eleição.
Além do já conhecido bumbo do petróleo verde-amarelo e da expansão de gastos públicos ainda maior para o ano que vem, soube-se ontem que Lula prepara uma "consolidação das leis sociais", segundo as palavras do próprio presidente em entrevista ao jornal "Valor Econômico".
Sabe-se lá o que sairá dessa ideia e se tal projeto de lei tem alguma chance de prosperar. Mas é certo que haverá uma grande consolidação da imagem do governo Lula por meio dessa iniciativa: a da propaganda de uma marca renovada, ou talvez requentada, e registrada para "entrar na história". No mínimo, para entrar na história da eleição.

vinit@uol.com.br


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