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Preço do álcool na bomba está abaixo do custo em SP
Valor do litro não pode ser menor que R$ 1,30 e chega a ser vendido por R$ 1,09
Segundo o sindicato das distribuidoras, preço é baixo porque há empresas que não recolhem impostos; Ministério Público investiga
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O preço do litro do álcool hidratado nos postos em São
Paulo está abaixo do custo, segundo o Sindicom, sindicato
das distribuidoras de combustíveis, com base em levantamento feito pela ANP (Agência
Nacional do Petróleo).
O preço médio do litro do álcool em postos paulistas era de
R$ 1,27 no período de 6 a 12
deste mês , segundo a ANP. Deveria ser de R$ 1,35, no mínimo,
para remunerar distribuidoras
e postos de combustíveis que
recolhem impostos, segundo o
Sindicom e o Sincopetro, sindicato de postos de São Paulo.
Quem vende o litro do álcool
a menos de R$ 1,30 ou trabalha
com prejuízo, o que não justifica estar no negócio, ou sonega
impostos, segundo Alísio Vaz,
vice-presidente do Sindicom.
O custo médio do álcool na
usina, incluindo os impostos, é
de R$ 1,07. Se o preço médio no
posto é de R$ 1,27, significa, segundo Vaz, que sobra R$ 0,20
para dividir entre as distribuidoras e os postos. Alguns postos em São Paulo chegam a vender o litro a R$ 1,09, segundo levantamento da ANP.
"Isso é impossível e revela
claramente a sonegação de impostos nesse mercado", diz. A
margem razoável das distribuidoras é de R$ 0,05 a R$ 0,10 por
litro e a dos postos, de R$ 0,20 a
R$ 0,30 por litro, de acordo
com os cálculos do Sindicom.
A venda de álcool a preço
abaixo de custo está disseminada no Estado e preocupa as distribuidoras tradicionais, como
BR, Shell, Ipiranga e Esso, assim como a expansão de vendas
de novas distribuidoras.
De janeiro a junho deste ano,
Petronova, Twister e Gold detinham, juntas, cerca de 11% do
mercado de álcool vendido em
São Paulo, que somou 4,72 bilhões de litros de janeiro a julho
deste ano, segundo a ANP.
O volume vendido pelas três
novas distribuidoras é quase o
comercializado pela Shell, que
fechou com participação de
13,5%, no período. Procurados
pela Folha, representantes da
Petronova, da Twister e da
Gold não foram localizados.
A venda de álcool a preço
abaixo de custo preocupa cada
vez mais, segundo distribuidoras consultadas pela Folha, à
medida que o álcool passa a
substituir a gasolina. Em São
Paulo, por exemplo, a venda de
etanol já supera a da gasolina.
De janeiro a junho deste ano, a
venda de gasolina no Estado de
São Paulo foi de 3,79 bilhões de
litros, cerca de 1 bilhão de litros
a menos do que a de álcool.
Em Marília (SP), postos chegam a vender o litro do álcool a
R$ 0,95. O MPF (Ministério
Público Federal) instaurou um
procedimento para investigar a
prática de preços, que revela
indícios de sonegação fiscal.
Cerca de 60 postos devem
entregar notas fiscais de compra de álcool em agosto e setembro ao MPF. "Vou verificar
se há venda com prejuízo com
intenção de eliminar a concorrência ou se há falta de recolhimento de tributos", diz Jefferson Aparecido Dias, procurador do MPF em Marília e procurador regional dos direitos
do cidadão em São Paulo.
Dias já oficiou a ANP para
que envie a relação de distribuidoras e o volume de vendas
em São Paulo, o que deverá ser
feito em até 20 dias.
"Se houver indícios de sonegação, vou encaminhar as informações para a Fazenda paulista. O fato é que donos de postos que trabalham na legalidade não conseguem mais competir nesse mercado", diz. A
SDE (Secretaria de Direito
Econômico) e a ANP poderão
ser acionadas pelo procurador.
"Barrigas de aluguel"
A expansão do consumo de
álcool hidratado criou no mercado paulista, segundo distribuidoras, as empresas chamadas de "barrigas de aluguel".
São distribuidoras que sobrevivem por pouco tempo e operam apenas com uma central
de atendimento. Após o acúmulo de débitos fiscais, elas fecham ou trocam de nome. "Só
que conseguem desregular todo o mercado", diz Vaz.
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