São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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FINANCIAMENTO

Capitalizadas e temendo insustentabilidade do crescimento, companhias emitem menos títulos que o esperado

Empresas relutam em captar recursos no país

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o Banco Central prever crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,4% neste ano -se confirmado, o maior ritmo desde 1994-, as empresas brasileiras ainda demonstram certa timidez para buscar o mercado de capitais doméstico como forma de captar recursos para investir.
O volume total de emissões internas tem sido o mais fraco pelo menos desde 1995 -excluído 2003, marcado por uma puxada de freio na economia. Se comparado com o ano passado, porém, há em 2004 uma expansão nesse tipo de operação. Mas a maior parte dos recursos obtidos vai para a rolagem de dívidas que estão vencendo e não necessariamente para novos investimentos.
O cenário para captação de recursos está melhor neste ano. O país emitiu US$ 4,2 bilhões em títulos soberanos desde janeiro, abrindo espaço para que empresas seguissem o caminho. O risco dos empréstimos está menor, uma vez que melhorou a classificação do Brasil feita por agências como a Moody's, a S&P e a Fitch.
As emissões de títulos no mercado doméstico incluem diferentes modalidades de captação, sendo as principais as debêntures, ações e notas promissórias.
Neste ano, as emissões totais somam cerca de US$ 4,45 bilhões, muito pouco se comparado aos picos recentes: em 2000, foram emitidos, no mesmo período, US$ 21,09 bilhões. Em 1998, foram outros US$ 22,16 bilhões.
Analistas avaliam que os empresários ainda temem que o atual aquecimento da economia não seja duradouro e, assim, não ampliam seus investimentos.
"Toda tomada de decisão de investimentos é sempre cautelosa. O empresário ainda está esperando para ver se o crescimento econômico é realmente sustentado", avalia Átila Noaldo, superintendente de mercado do Banif Investment Banking.
Para Noaldo, é fato que a economia está aquecida e se assim se mantiver poderá provocar um "maior interesse das empresas em ampliar a capacidade de produção, criar novas plantas".
Outro ponto levantado pelos analistas é de que as empresas estão capitalizadas, podendo deixar o mercado de capitais para um momento futuro.
Um bom exemplo disso é o segundo trimestre deste ano. Levantamento feito pela Folha com dados da consultoria Economática com 102 empresas mostrou que a receita líquida obtida por elas no período registrou o melhor resultado da história do setor de capital aberto no Brasil.
"As empresas também passam por um significativo aumento no fluxo de caixa, o que limita a necessidade de captar recursos", afirma Paulo de Sá, estrategista da Sul América Investimentos.
"Os empresários são muito desconfiados. Quando eles acreditarem que o crescimento atual é só o começo de um ciclo virtuoso, teremos uma expansão mais forte das emissões."
As empresas tem medo de captarem recursos, ampliarem seus investimentos em produção e depois se depararem com um enfraquecimento da demanda e do consumo, correndo o risco de terem que lidar com uma grande capacidade ociosa.
O mercado internacional também não tem sido o caminho buscado pelas empresas. As captações no exterior têm se concentrado em operações de grandes empresas exportadoras e bancos.
Nesse cenário, há pelo menos um destaque positivo: o lançamento de ações na Bovespa é o maior em pelo menos oito anos. Já são quatro as empresas que começaram a negociar ações na Bolsa em 2004. Para o fim deste mês, é aguardada a estréia da quinta empresa na Bolsa, a Grendene.
O processo começou em maio, quando a empresa de cosméticos Natura lançou seus papéis. Depois, vieram a companhia aérea Gol, a ALL (América Latina Logística) e a CPFL Energia.
A companhia de seguros Porto Seguro, a exportadora de maçãs Renar e o laboratório Diagnósticos da América também já pediram registro de companhia de capital aberto junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
O mercado também espera, para os próximos meses, a estréia das lojas Magazine Luiza.
A Bovespa já teve 592 empresas listadas, em 1989. Hoje, são só 356.


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