|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANCIAMENTO
Capitalizadas e temendo insustentabilidade do crescimento, companhias emitem menos títulos que o esperado
Empresas relutam em captar recursos no país
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de o Banco Central prever crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) de 4,4% neste ano
-se confirmado, o maior ritmo
desde 1994-, as empresas brasileiras ainda demonstram certa timidez para buscar o mercado de
capitais doméstico como forma
de captar recursos para investir.
O volume total de emissões internas tem sido o mais fraco pelo
menos desde 1995 -excluído
2003, marcado por uma puxada
de freio na economia. Se comparado com o ano passado, porém,
há em 2004 uma expansão nesse
tipo de operação. Mas a maior
parte dos recursos obtidos vai para a rolagem de dívidas que estão
vencendo e não necessariamente
para novos investimentos.
O cenário para captação de recursos está melhor neste ano. O
país emitiu US$ 4,2 bilhões em títulos soberanos desde janeiro,
abrindo espaço para que empresas seguissem o caminho. O risco
dos empréstimos está menor,
uma vez que melhorou a classificação do Brasil feita por agências
como a Moody's, a S&P e a Fitch.
As emissões de títulos no mercado doméstico incluem diferentes modalidades de captação, sendo as principais as debêntures,
ações e notas promissórias.
Neste ano, as emissões totais somam cerca de US$ 4,45 bilhões,
muito pouco se comparado aos
picos recentes: em 2000, foram
emitidos, no mesmo período,
US$ 21,09 bilhões. Em 1998, foram
outros US$ 22,16 bilhões.
Analistas avaliam que os empresários ainda temem que o
atual aquecimento da economia
não seja duradouro e, assim, não
ampliam seus investimentos.
"Toda tomada de decisão de investimentos é sempre cautelosa.
O empresário ainda está esperando para ver se o crescimento econômico é realmente sustentado",
avalia Átila Noaldo, superintendente de mercado do Banif Investment Banking.
Para Noaldo, é fato que a economia está aquecida e se assim se
mantiver poderá provocar um
"maior interesse das empresas em
ampliar a capacidade de produção, criar novas plantas".
Outro ponto levantado pelos
analistas é de que as empresas estão capitalizadas, podendo deixar
o mercado de capitais para um
momento futuro.
Um bom exemplo disso é o segundo trimestre deste ano. Levantamento feito pela Folha com
dados da consultoria Economática com 102 empresas mostrou
que a receita líquida obtida por
elas no período registrou o melhor resultado da história do setor
de capital aberto no Brasil.
"As empresas também passam
por um significativo aumento no
fluxo de caixa, o que limita a necessidade de captar recursos",
afirma Paulo de Sá, estrategista da
Sul América Investimentos.
"Os empresários são muito desconfiados. Quando eles acreditarem que o crescimento atual é só o
começo de um ciclo virtuoso, teremos uma expansão mais forte
das emissões."
As empresas tem medo de captarem recursos, ampliarem seus
investimentos em produção e depois se depararem com um enfraquecimento da demanda e do
consumo, correndo o risco de terem que lidar com uma grande
capacidade ociosa.
O mercado internacional também não tem sido o caminho buscado pelas empresas. As captações no exterior têm se concentrado em operações de grandes empresas exportadoras e bancos.
Nesse cenário, há pelo menos
um destaque positivo: o lançamento de ações na Bovespa é o
maior em pelo menos oito anos.
Já são quatro as empresas que começaram a negociar ações na Bolsa em 2004. Para o fim deste mês,
é aguardada a estréia da quinta
empresa na Bolsa, a Grendene.
O processo começou em maio,
quando a empresa de cosméticos
Natura lançou seus papéis. Depois, vieram a companhia aérea
Gol, a ALL (América Latina Logística) e a CPFL Energia.
A companhia de seguros Porto
Seguro, a exportadora de maçãs
Renar e o laboratório Diagnósticos da América também já pediram registro de companhia de capital aberto junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
O mercado também espera, para os próximos meses, a estréia
das lojas Magazine Luiza.
A Bovespa já teve 592 empresas
listadas, em 1989. Hoje, são só 356.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Frase Índice
|