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BARRIL DE PÓLVORA
Atuação crescente de fundos de "hedge" no setor de energia eleva cotações e preocupa economistas e o FMI
Especulação também move alta do petróleo
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Um forte movimento de especulação promovido pelos chamados "hedge funds" tem contribuído para a disparada nos preços do
petróleo, e seus efeitos preocupam o FMI (Fundo Monetário Internacional), Bancos Centrais de
vários países e economistas.
É difícil calcular o tamanho da
especulação nos preços e separar
seus efeitos das pressões causadas
por demanda alta e problemas como terrorismo, que afetam, eventualmente, a oferta e as exportações. Há quem estime que mais de
US$ 10 das atuais cotações, que
beiram US$ 55 por barril, sejam
fruto de movimentos especulativos. Mas a maior parte dos economistas diz que é impossível saber
esse número ao certo.
No entanto não há dúvida, entre
especialistas, que os "hedge
funds" -aplicações agressivas
cujas estratégias de investimento
são montadas em cima de imperfeições do mercado- estão por
trás de parte da alta recente nos
preços da commodity.
"Tem muita especulação envolvida no mercado, o que explica,
em parte, os preços do petróleo",
diz o economista James Knightely, do ING Financial Markets.
Um sinal de que a especulação
voltou com força nas últimas semanas é a evolução do número de
contratos futuros de compra e de
venda de petróleo pelos chamados investidores não comerciais
-ou especuladores-, que são
principalmente os "hedge funds".
O saldo líqüido é de mais de 130
mil contratos de compra -que
refletem uma expectativa de alta
dos preços-, contra cerca de 105
mil no início do último mês, na
Bolsa de Chicago.
Dados da consultoria Hedge
Fund Research mostram que os
fundos que se dedicam a investir
no setor de energia encerraram o
segundo trimestre com patrimônio de US$ 3,27 bilhões, contra
US$ 2,39 bilhões no fim de 2002.
Mas não quer dizer que essa seja
a quantia movimentada por esses
fundos no mercado futuro do petróleo. Por duas razões: 1) os
"hedge funds" atuam no mercado
alavancados, ou seja, podem
apostar muito mais que seu patrimônio, 2) há outros fundos, como
os especializados em macroeconomia, que contabilizam retorno
negativo de 5% neste ano e precisam tentar reverter isso, que têm
investido em petróleo.
"Sabemos que a demanda por
petróleo vinha forte, e a oferta,
apertada, e a capacidade extra
também está pequena. Problemas
recentes no Iraque e na Nigéria
também afetaram os preços. Mas,
além disso, há bastante especulação", diz Muhammad-Ali Zainy,
analista sênior de petróleo do
Centre for Global Energy Studies.
No total, o mercado de "hedge
funds" tem um patrimônio estimado em US$ 900 bilhões e não
pára de crescer-o que significa
que seu poder de movimentar o
mercado, dependendo do nível de
alavancagem, é enorme.
Preocupado com o efeito da
atuação dos "hedge funds" nos
preços do petróleo, o FMI soltou
um alerta há duas semanas.
"Melhorar a transparência nos
mercados, incluindo o papel dos
"hedge funds", ajudaria a fortalecer a supervisão no mercado",
alertou o Fundo em relatório.
A instituição -assim como autoridades de diversos países-
demonstrou temor sobre as conseqüências da atuação dos "hedge
funds". O Fundo advertiu que a
tendência dos fundos de buscarem ganhos muito altos pode prejudicar a recuperação global, já
em processo de desaceleração.
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