São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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BARRIL DE PÓLVORA

Atuação crescente de fundos de "hedge" no setor de energia eleva cotações e preocupa economistas e o FMI

Especulação também move alta do petróleo

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Um forte movimento de especulação promovido pelos chamados "hedge funds" tem contribuído para a disparada nos preços do petróleo, e seus efeitos preocupam o FMI (Fundo Monetário Internacional), Bancos Centrais de vários países e economistas.
É difícil calcular o tamanho da especulação nos preços e separar seus efeitos das pressões causadas por demanda alta e problemas como terrorismo, que afetam, eventualmente, a oferta e as exportações. Há quem estime que mais de US$ 10 das atuais cotações, que beiram US$ 55 por barril, sejam fruto de movimentos especulativos. Mas a maior parte dos economistas diz que é impossível saber esse número ao certo.
No entanto não há dúvida, entre especialistas, que os "hedge funds" -aplicações agressivas cujas estratégias de investimento são montadas em cima de imperfeições do mercado- estão por trás de parte da alta recente nos preços da commodity.
"Tem muita especulação envolvida no mercado, o que explica, em parte, os preços do petróleo", diz o economista James Knightely, do ING Financial Markets.
Um sinal de que a especulação voltou com força nas últimas semanas é a evolução do número de contratos futuros de compra e de venda de petróleo pelos chamados investidores não comerciais -ou especuladores-, que são principalmente os "hedge funds". O saldo líqüido é de mais de 130 mil contratos de compra -que refletem uma expectativa de alta dos preços-, contra cerca de 105 mil no início do último mês, na Bolsa de Chicago.
Dados da consultoria Hedge Fund Research mostram que os fundos que se dedicam a investir no setor de energia encerraram o segundo trimestre com patrimônio de US$ 3,27 bilhões, contra US$ 2,39 bilhões no fim de 2002.
Mas não quer dizer que essa seja a quantia movimentada por esses fundos no mercado futuro do petróleo. Por duas razões: 1) os "hedge funds" atuam no mercado alavancados, ou seja, podem apostar muito mais que seu patrimônio, 2) há outros fundos, como os especializados em macroeconomia, que contabilizam retorno negativo de 5% neste ano e precisam tentar reverter isso, que têm investido em petróleo.
"Sabemos que a demanda por petróleo vinha forte, e a oferta, apertada, e a capacidade extra também está pequena. Problemas recentes no Iraque e na Nigéria também afetaram os preços. Mas, além disso, há bastante especulação", diz Muhammad-Ali Zainy, analista sênior de petróleo do Centre for Global Energy Studies.
No total, o mercado de "hedge funds" tem um patrimônio estimado em US$ 900 bilhões e não pára de crescer-o que significa que seu poder de movimentar o mercado, dependendo do nível de alavancagem, é enorme.
Preocupado com o efeito da atuação dos "hedge funds" nos preços do petróleo, o FMI soltou um alerta há duas semanas.
"Melhorar a transparência nos mercados, incluindo o papel dos "hedge funds", ajudaria a fortalecer a supervisão no mercado", alertou o Fundo em relatório.
A instituição -assim como autoridades de diversos países- demonstrou temor sobre as conseqüências da atuação dos "hedge funds". O Fundo advertiu que a tendência dos fundos de buscarem ganhos muito altos pode prejudicar a recuperação global, já em processo de desaceleração.


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