São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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BC leiloa dólar das reservas para financiar exportador

Henrique Meirelles afirma que o setor de crédito começa a voltar à normalidade

Nos leilões, os bancos darão como garantia papéis que mantêm no exterior, como títulos da dívida brasileira e também de outros países

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central começa, na segunda-feira, a "irrigar" com dólares das reservas cambiais os bancos que financiam o comércio exterior brasileiro, setor mais afetado pela falta de crédito. Para isso, o BC vai fazer uma série de leilões de dólares, em que os bancos darão como garantia ativos que mantêm no exterior, como títulos da dívida brasileira ou de países com baixo risco de calote.
Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, os dólares deverão ir direto para o financiamento aos exportadores. Meirelles disse que não há limite para concessão, já que a demanda é inferior aos recursos que o BC possui. "Essa é uma medida possível porque o Brasil tem reservas suficientes. Pretendemos fazer os leilões na medida do necessário. O BC tem acesso aos dados de liberação [aos exportadores], então sabe quem estará cumprindo o acordo ou não", disse.
O anúncio do leilão foi feito depois de uma longa reunião, na véspera, do presidente e de diretores do BC com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e técnicos do ministério. O BC era contra a realização de leilões direcionados para o comércio exterior. Apesar de esse instrumento já ter sido usado na crise de 2002, a avaliação dos diretores do BC era que "havia mecanismos mais eficientes". Hoje, o país tem US$ 204 bilhões em reservas.
Além dos títulos emitidos pelos governos de outros países, também serão aceitos como garantia os contratos de ACE (Adiamento sobre Cambiais Entregues) e ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), mecanismos usados para financiar o comércio exterior.
O limite de recursos, os prazos de pagamento e as garantias serão definidas antes de cada leilão. Na segunda, serão oferecidos US$ 2 bilhões aos bancos. A remuneração do crédito será com base na Libor (juro interbancário internacional) e um "spread" (custo adicional) que será definido no leilão.
Apesar de o BC ter tomado a medida para gerar liquidez em dólar, Meirelles relatou que a falta de dinheiro em circulação no setor já está menos grave.
"Já está voltando ao normal, especialmente nos bancos oficiais", disse Meirelles. Segundo ele, o Banco do Brasil informou que até o final deste mês o fluxo já estará normalizado.
Sobre a normalização de outras linhas de financiamento, Meirelles disse que a liberação dos recursos dos empréstimos compulsórios já causa algum efeito. "Temos notado uma diminuição sensível na pressão sobre os bancos menores."
Com a crise financeira, o acesso de bancos e empresas brasileiras a linhas de crédito internacionais sofreu uma forte redução. O problema foi mais grave entre os exportadores, que usam créditos que têm a receber em dólar para obter financiamentos para produzir.
Além disso, muitas empresas que passaram a ter dificuldade em captar no exterior passaram a buscar financiamentos no mercado doméstico, e a maior procura por reais também deixou os bancos com dificuldades em atender toda a demanda pela moeda nacional.
Para os exportadores, a expectativa é que a medida do BC resolva a escassez de crédito das empresas. Mas há o receio de que o custo do financiamento fique mais alto. "Temos de ver qual será o juro final cobrado pelos bancos", disse o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro. Segundo ele, um acréscimo de US$ 15 bilhões no volume de crédito seria "suficiente" para desafogar o setor exportador.
Segundo o consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) Julio Gomes de Almeida, o custo dos financiamentos deverá ser maior. "No primeiro momento, o mais importante é haver disponibilidade de dinheiro. Mas o problema do custo terá de ser ajustado", diz.
Para Almeida, embora acertada, a decisão do Banco Central foi tardia. "Isso devia ter sido feito há um mês", afirma.

Colaborou a Folha Online



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