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Escolaridade maior eleva fosso entre negro e branco
Quanto mais anos de estudo, maior a vantagem salarial dos brancos, diz IBGE
Mulheres brancas têm renda superior à de homens negros; trabalhadoras negras estão na base da pirâmide salarial do país
ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Quanto maior a escolaridade
do trabalhador, maior a diferença na renda de pretos e pardos em relação aos brancos, segundo estudo sobre as desigualdades de cor e raça divulgado ontem pelo IBGE.
Tendo como base a PME
(Pesquisa Mensal de Emprego)
-restrita às seis maiores regiões metropolitanas-, o levantamento mostra que, em
média, um branco ganhava em
setembro deste ano R$ 1.292. É
o dobro do rendimento verificado entre pretos e pardos (R$
660). Em relação a setembro de
2005, houve pequena redução
da distância entre brancos e
pretos e pardos. Os brancos recebiam 102,9% a mais, e agora,
95,7%.
A pesquisa mostra que essa
diferença não só persiste como
fica mais intensa à medida que
aumenta a escolaridade. Entre
trabalhadores com menos de
um ano de estudo, brancos ganham em média 15% a mais. A
vantagem vai a 92% entre os
com ao menos o nível médio.
O IBGE separou também só
os trabalhadores com nível superior. Nesse caso, a diferença é
de 48%. É menor que a verificada na população com ao menos
ensino médio (onde estão incluídos também os com nível
superior), mas bastante superior à encontrada entre os que
têm entre 8 e 10 anos de estudo
(ensino fundamental completo
ou médio incompleto), que era
de 24%. Pode-se concluir que o
retorno salarial de cada ano a
mais na escolaridade é maior
para brancos, ainda que todos
os grupos tenham aumento
com mais educação.
O IBGE ressalva que a pesquisa não tem como avaliar a
qualidade do ensino ou o tipo
de curso no ensino superior.
Um trabalhador branco, por
exemplo, pode ter se formado
numa carreira mais prestigiada
e num curso de melhor qualidade do que um preto ou pardo
com mesma escolaridade.
Para Cimar Pereira, gerente
da PME, uma parte da diferença salarial entre esses grupos
também é explicada pelo processo histórico de exclusão da
população negra. Ele diz, no entanto, que o principal fator a diferenciar o rendimento do trabalho é a escolaridade. "Para
entrar no mercado, tem que ter
um passaporte, que é a escolaridade. Como a da população
preta e parda é menor do que a
da branca, isso dificulta mais a
inserção. Além do mais, essa inserção, quando se dá, acaba
sendo em ocupações de baixa
qualidade, onde os rendimentos são piores", disse Pereira.
Uma maneira de ver esse
abismo na escolaridade entre
os dois grupos é verificar que só
8,2% dos pretos e pardos com
mais de 18 anos ao menos freqüentaram universidade. Entre os brancos, esse percentual
é de 25,5%. Comparando 2006
com 2002, a PME mostra que
ambos os grupos melhoraram,
mas a diferença permaneceu
praticamente inalterada.
Como resultado dessa desigualdade, a pesquisa mostra
que, no topo dos 10% de pessoas com maior rendimento
(R$ 1.785, em média), 83,3%
eram brancas, contra só 14,4%
de pretos ou pardos. Nas faixas
de menores rendimentos, os
pretos e pardos eram a maioria
-52,3% nos 10% mais pobres.
Além de comparar diferenças de cunho racial, a PME permite também analisar como essas diferenças aparecem entre
homens e mulheres. A pesquisa
mostra que o fator racial pesa
mais do que o sexo no momento de explicar a diferença de
renda. Homens, sejam eles
brancos, pretos ou pardos, ganham mais, em média, do que
as mulheres da mesma cor ou
raça. As mulheres brancas, no
entanto, apresentam renda
maior até do que os homens negros. As mulheres pretas e pardas são as com menor renda.
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