São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Escolaridade maior eleva fosso entre negro e branco

Quanto mais anos de estudo, maior a vantagem salarial dos brancos, diz IBGE

Mulheres brancas têm renda superior à de homens negros; trabalhadoras negras estão na base da pirâmide salarial do país

ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Quanto maior a escolaridade do trabalhador, maior a diferença na renda de pretos e pardos em relação aos brancos, segundo estudo sobre as desigualdades de cor e raça divulgado ontem pelo IBGE.
Tendo como base a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) -restrita às seis maiores regiões metropolitanas-, o levantamento mostra que, em média, um branco ganhava em setembro deste ano R$ 1.292. É o dobro do rendimento verificado entre pretos e pardos (R$ 660). Em relação a setembro de 2005, houve pequena redução da distância entre brancos e pretos e pardos. Os brancos recebiam 102,9% a mais, e agora, 95,7%.
A pesquisa mostra que essa diferença não só persiste como fica mais intensa à medida que aumenta a escolaridade. Entre trabalhadores com menos de um ano de estudo, brancos ganham em média 15% a mais. A vantagem vai a 92% entre os com ao menos o nível médio.
O IBGE separou também só os trabalhadores com nível superior. Nesse caso, a diferença é de 48%. É menor que a verificada na população com ao menos ensino médio (onde estão incluídos também os com nível superior), mas bastante superior à encontrada entre os que têm entre 8 e 10 anos de estudo (ensino fundamental completo ou médio incompleto), que era de 24%. Pode-se concluir que o retorno salarial de cada ano a mais na escolaridade é maior para brancos, ainda que todos os grupos tenham aumento com mais educação.
O IBGE ressalva que a pesquisa não tem como avaliar a qualidade do ensino ou o tipo de curso no ensino superior. Um trabalhador branco, por exemplo, pode ter se formado numa carreira mais prestigiada e num curso de melhor qualidade do que um preto ou pardo com mesma escolaridade.
Para Cimar Pereira, gerente da PME, uma parte da diferença salarial entre esses grupos também é explicada pelo processo histórico de exclusão da população negra. Ele diz, no entanto, que o principal fator a diferenciar o rendimento do trabalho é a escolaridade. "Para entrar no mercado, tem que ter um passaporte, que é a escolaridade. Como a da população preta e parda é menor do que a da branca, isso dificulta mais a inserção. Além do mais, essa inserção, quando se dá, acaba sendo em ocupações de baixa qualidade, onde os rendimentos são piores", disse Pereira.
Uma maneira de ver esse abismo na escolaridade entre os dois grupos é verificar que só 8,2% dos pretos e pardos com mais de 18 anos ao menos freqüentaram universidade. Entre os brancos, esse percentual é de 25,5%. Comparando 2006 com 2002, a PME mostra que ambos os grupos melhoraram, mas a diferença permaneceu praticamente inalterada.
Como resultado dessa desigualdade, a pesquisa mostra que, no topo dos 10% de pessoas com maior rendimento (R$ 1.785, em média), 83,3% eram brancas, contra só 14,4% de pretos ou pardos. Nas faixas de menores rendimentos, os pretos e pardos eram a maioria -52,3% nos 10% mais pobres.
Além de comparar diferenças de cunho racial, a PME permite também analisar como essas diferenças aparecem entre homens e mulheres. A pesquisa mostra que o fator racial pesa mais do que o sexo no momento de explicar a diferença de renda. Homens, sejam eles brancos, pretos ou pardos, ganham mais, em média, do que as mulheres da mesma cor ou raça. As mulheres brancas, no entanto, apresentam renda maior até do que os homens negros. As mulheres pretas e pardas são as com menor renda.


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