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Negros são metade dos desempregados
Apesar de serem minoria da população em idade ativa, 50,8% dos desocupados em setembro eram pretos ou pardos, diz IBGE
Os brancos, que são 56,5% das pessoas em idade ativa, eram 49% dos desocupados; pretos e pardos também têm menor escolaridade
DA SUCURSAL DO RIO
Passados 118 anos da abolição da escravidão no Brasil, os
pretos e pardos das principais
metrópoles do país ainda sofrem mais com o desemprego e
têm dificuldade de acesso ao
mercado de trabalho.
Mais da metade (50,8%) dos
desempregados em setembro
deste ano eram pretos ou pardos, apesar de eles serem a minoria (42,8%) da população total em idade ativa (acima de dez
anos), revela estudo especial do
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) feito a
partir da PME (Pesquisa Mensal de Emprego).
Já os brancos, que representam 56,5% das pessoas em idade ativa, eram 48,6% dos desocupados. Nas seis regiões metropolitanas pesquisadas (São
Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife),
os pretos e pardos têm sempre
maior participação entre os desempregados do que na população. Dos 2,292 milhões de despregados em setembro, 1,164
milhão era composto de trabalhadores pretos ou pardos.
Em setembro, a taxa de desemprego dos pretos e pardos
era de 11,8%, acima da média
(10%). A taxa dos brancos se situava em 8,6%. Em todas as regiões, a taxa de pretos e pardos
estava mais alta, mas a maior
diferença ocorria em Salvador,
onde há a maior população preta ou parda (82,1%) com mais
de dez anos. Lá, a taxa de desemprego era de 14,7% entre os
pretos e pardos e de 8,4% entre
os brancos.
Historicamente, os negros
sempre estão mais sujeitos ao
desemprego nas metrópoles.
Em setembro de 2005, os pretos e pardos também eram a
maioria dos desocupados
-54,9% do total. No mesmo
mês de 2002, eles representavam 49,5%, percentual superior a sua participação na população ativa (42,6%). A taxa de
desemprego também se mantém sistematicamente mais alta desde 2002.
Para Cimar Azeredo Pereira,
gerente da PME, um dos motivos das diferenças é que na evolução histórica do país a população preta e parda não foi incluída. "Voltando para o passado, eles não vieram para cá como reis nem para investir. Vieram em navios negreiros. Essas
pessoas nem eram remuneradas. Já passaram mais de cem
anos. É um processo histórico
que está de certa forma "doendo" no que tange a essas diferenças e causando esse abismo
que as estatísticas mostram."
Para Pereira, outra razão para explicar as diferenças é a menor escolaridade de pretos e
pardos -7,1 anos de estudo. Os
brancos freqüentaram a escola
por 8,7 anos -a média era de 8
anos.
Abismo
"As estatísticas mostram um
verdadeiro abismo quando se
compara a situação do mercado
de trabalho para pretos e pardos. Grande parte dessas diferenças se deve à escolarização",
disse Pereira.
Entre todas as pessoas com
mais de dez anos, 45,9% dos
brancos tinham mais de 11 anos
de estudo, ou seja, ao menos o
ensino médio. Para pretos e
pardos, o percentual era de
28,5% -a média se situava em
38,6%.
Pelos dados da pesquisa, o
perfil dos pertos e pardos também é mais jovem. A idade média era de 30,6 anos. Os brancos
tinham 34,4 anos, em média.
Da população em idade ativa na
faixa dos 10 a 17 anos, 17,8%
eram pretos e pardos -13,5%
entre os brancos.
A jornada de trabalho média
dos brancos ficou em 39,5 horas semanais em setembro. No
caso dos pretos e pardos, estava
um pouco menor: 38,7 horas.
Colaborou CLARICE SPITZ ,
da Folha Online, no Rio
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