São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Negros são metade dos desempregados

Apesar de serem minoria da população em idade ativa, 50,8% dos desocupados em setembro eram pretos ou pardos, diz IBGE

Os brancos, que são 56,5% das pessoas em idade ativa, eram 49% dos desocupados; pretos e pardos também têm menor escolaridade

DA SUCURSAL DO RIO

Passados 118 anos da abolição da escravidão no Brasil, os pretos e pardos das principais metrópoles do país ainda sofrem mais com o desemprego e têm dificuldade de acesso ao mercado de trabalho.
Mais da metade (50,8%) dos desempregados em setembro deste ano eram pretos ou pardos, apesar de eles serem a minoria (42,8%) da população total em idade ativa (acima de dez anos), revela estudo especial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) feito a partir da PME (Pesquisa Mensal de Emprego).
Já os brancos, que representam 56,5% das pessoas em idade ativa, eram 48,6% dos desocupados. Nas seis regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife), os pretos e pardos têm sempre maior participação entre os desempregados do que na população. Dos 2,292 milhões de despregados em setembro, 1,164 milhão era composto de trabalhadores pretos ou pardos.
Em setembro, a taxa de desemprego dos pretos e pardos era de 11,8%, acima da média (10%). A taxa dos brancos se situava em 8,6%. Em todas as regiões, a taxa de pretos e pardos estava mais alta, mas a maior diferença ocorria em Salvador, onde há a maior população preta ou parda (82,1%) com mais de dez anos. Lá, a taxa de desemprego era de 14,7% entre os pretos e pardos e de 8,4% entre os brancos.
Historicamente, os negros sempre estão mais sujeitos ao desemprego nas metrópoles. Em setembro de 2005, os pretos e pardos também eram a maioria dos desocupados -54,9% do total. No mesmo mês de 2002, eles representavam 49,5%, percentual superior a sua participação na população ativa (42,6%). A taxa de desemprego também se mantém sistematicamente mais alta desde 2002.
Para Cimar Azeredo Pereira, gerente da PME, um dos motivos das diferenças é que na evolução histórica do país a população preta e parda não foi incluída. "Voltando para o passado, eles não vieram para cá como reis nem para investir. Vieram em navios negreiros. Essas pessoas nem eram remuneradas. Já passaram mais de cem anos. É um processo histórico que está de certa forma "doendo" no que tange a essas diferenças e causando esse abismo que as estatísticas mostram."
Para Pereira, outra razão para explicar as diferenças é a menor escolaridade de pretos e pardos -7,1 anos de estudo. Os brancos freqüentaram a escola por 8,7 anos -a média era de 8 anos.

Abismo
"As estatísticas mostram um verdadeiro abismo quando se compara a situação do mercado de trabalho para pretos e pardos. Grande parte dessas diferenças se deve à escolarização", disse Pereira.
Entre todas as pessoas com mais de dez anos, 45,9% dos brancos tinham mais de 11 anos de estudo, ou seja, ao menos o ensino médio. Para pretos e pardos, o percentual era de 28,5% -a média se situava em 38,6%.
Pelos dados da pesquisa, o perfil dos pertos e pardos também é mais jovem. A idade média era de 30,6 anos. Os brancos tinham 34,4 anos, em média. Da população em idade ativa na faixa dos 10 a 17 anos, 17,8% eram pretos e pardos -13,5% entre os brancos.
A jornada de trabalho média dos brancos ficou em 39,5 horas semanais em setembro. No caso dos pretos e pardos, estava um pouco menor: 38,7 horas.


Colaborou CLARICE SPITZ , da Folha Online, no Rio


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