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Clientes da Cisco enfrentam falta de peças
Depois que a PF e a Receita desmontaram suposto esquema de subfaturamento, nenhuma grande importação foi feita
Clientes avaliarão se ficam com a Cisco ou partem para
a concorrência; mercado
aberto será disputado
por diversas empresas
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o escândalo de importações subfaturadas envolvendo
a Cisco e sua principal distribuidora no Brasil, a Mude, o
mercado de tecnologia da informação ganha um novo desenho. Nortel, Alcatel, Avaya,
3Com e Juniper estão no páreo
para ocupar o mercado que a
Cisco pode deixar em aberto. E
o espaço da Mude será dividido
com a Ingram Micro.
Esse cenário dependerá do
sucesso de uma "operação de
guerra" implantada pela Cisco,
que tenta evitar que seus clientes com planos de expansão em
curso sofram prejuízos.
Alguns desses projetos já estão congelados e serão decididos no início do próximo ano.
Até lá, esses clientes farão uma
avaliação para saber se continuam com a Cisco ou partem
para a concorrência.
A companhia americana tem
motivos para a pressa. Segundo
o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, desde que a Polícia
Federal e a Receita Federal
desmontaram suposto esquema de subfaturamento de produtos da Cisco no país -que teria gerado prejuízos aos cofres
públicos de cerca de R$ 1,5 bilhão-, nenhuma grande importação foi feita.
Isso porque a maior parte dos
produtos foi importada pela
Mude, que centralizava a operação da Cisco no Brasil. Desde
que o escândalo veio a público,
em meados de outubro, a Mude
está proibida de importar.
Segundo o ministério, em outubro só desembarcaram roteadores e "switchers" de menor porte, com custo médio variando de US$ 18 a US$ 63 a
unidade. As máquinas de maior
porte, que custam em média
US$ 28.311, não entraram.
Os roteadores, com os "switchers", são os responsáveis por
estabelecer a conexão entre os
computadores na internet. Eles
também mantêm a comunicação entre os equipamentos das
filiais de uma empresa.
Nas operadoras de telefonia,
por exemplo, essa rede de infra-estrutura chama-se "backbone". Quanto mais clientes,
maior o tráfego de dados pela
rede de telefonia e mais poderosas precisam ser as máquinas
para que o serviço não falhe.
Planos alternativos
A Telefônica, uma das empresas que mais utilizam equipamentos da Cisco, informa
que os atuais problemas com a
importação dos produtos de
tecnologia podem afetar o fluxo
de estoques para alguns projetos. Apesar disso, a empresa diz
que já tem planos alternativos
para amenizar esses efeitos.
Essas informações entram
em choque com o que afirmam
os integradores -companhias
que importam diretamente da
Cisco para atender principalmente as grandes empresas.
Segundo Herbert Pero, presidente da mineira Halógica Tecnologia, os produtos da Cisco
estão chegando normalmente.
"Estamos usando um sistema
chamado "Expedite" para agilizar as encomendas."
O "Expedite" só pode ser
acionado por clientes preferenciais da Cisco que, via internet,
fazem pedidos exigindo a entrega na metade do tempo previsto.
Pelos métodos tradicionais,
levam-se pelo menos 45 dias
para que as mercadorias sejam
entregues. Com o "Expedite",
elas chegam em 20 dias, no máximo. "Isso porque a matriz determina prioridade às suas fábricas", diz Pero.
Segundo ele, logo após o início da Operação Persona, que
deflagrou o escândalo da Cisco
em meados de outubro, o estoque da Mude foi apreendido, e a
matriz determinou que as empresas brasileiras refizessem
seus pedidos.
O Brasil passou, então, a ser
atendido no ritmo do "Expedite". "Mesmo assim, esses clientes tiveram de esperar pelo menos um mês a mais."
A Folha apurou com um dos
principais integradores da Cisco que os novos pedidos sofrerão atrasos de até dois meses
devido à sobrecarga nas aduanas no final deste ano.
Isso significa que os grandes
projetos -de instituições bancárias e empresas de telecomunicações, principalmente- só
serão consolidados no primeiro trimestre do próximo ano.
Só em 2008
Na Verto Technologies, que
atende empresas como CSN,
Siemens e Coca-Cola, os projetos estão em andamento.
"Ainda dá para esperar e ver
o que acontecerá com a Cisco",
afirma Aline Figueira, responsável pelo marketing da Verto.
"Mas, dependendo da situação,
vamos para a concorrência."
Embora afirme que os pedidos de importação estão chegando, a Telsinc, outro importante integrador da Cisco, decidiu não arriscar. Para isso, está
utilizando o estoque de roteadores e "switchers" do seu departamento de manutenção na
expansão da rede de dados e de
comunicação de seus clientes.
"Emprestamos os equipamentos para eles até que os
produtos importados sejam entregues", afirma Rogerio Vedovato, diretor de marketing.
Segundo ele, lojas que estão
abrindo filiais e redes que contratam mais funcionários para
atender o aumento do comércio no final do ano não poderiam ficar sem assistência.
"Por isso, decidimos usar o
estoque da manutenção. Se não
fosse assim, nosso negócio poderia ficar em risco", diz.
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