São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Clientes da Cisco enfrentam falta de peças

Depois que a PF e a Receita desmontaram suposto esquema de subfaturamento, nenhuma grande importação foi feita

Clientes avaliarão se ficam com a Cisco ou partem para a concorrência; mercado aberto será disputado por diversas empresas

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o escândalo de importações subfaturadas envolvendo a Cisco e sua principal distribuidora no Brasil, a Mude, o mercado de tecnologia da informação ganha um novo desenho. Nortel, Alcatel, Avaya, 3Com e Juniper estão no páreo para ocupar o mercado que a Cisco pode deixar em aberto. E o espaço da Mude será dividido com a Ingram Micro.
Esse cenário dependerá do sucesso de uma "operação de guerra" implantada pela Cisco, que tenta evitar que seus clientes com planos de expansão em curso sofram prejuízos.
Alguns desses projetos já estão congelados e serão decididos no início do próximo ano. Até lá, esses clientes farão uma avaliação para saber se continuam com a Cisco ou partem para a concorrência.
A companhia americana tem motivos para a pressa. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, desde que a Polícia Federal e a Receita Federal desmontaram suposto esquema de subfaturamento de produtos da Cisco no país -que teria gerado prejuízos aos cofres públicos de cerca de R$ 1,5 bilhão-, nenhuma grande importação foi feita.
Isso porque a maior parte dos produtos foi importada pela Mude, que centralizava a operação da Cisco no Brasil. Desde que o escândalo veio a público, em meados de outubro, a Mude está proibida de importar.
Segundo o ministério, em outubro só desembarcaram roteadores e "switchers" de menor porte, com custo médio variando de US$ 18 a US$ 63 a unidade. As máquinas de maior porte, que custam em média US$ 28.311, não entraram.
Os roteadores, com os "switchers", são os responsáveis por estabelecer a conexão entre os computadores na internet. Eles também mantêm a comunicação entre os equipamentos das filiais de uma empresa.
Nas operadoras de telefonia, por exemplo, essa rede de infra-estrutura chama-se "backbone". Quanto mais clientes, maior o tráfego de dados pela rede de telefonia e mais poderosas precisam ser as máquinas para que o serviço não falhe.

Planos alternativos
A Telefônica, uma das empresas que mais utilizam equipamentos da Cisco, informa que os atuais problemas com a importação dos produtos de tecnologia podem afetar o fluxo de estoques para alguns projetos. Apesar disso, a empresa diz que já tem planos alternativos para amenizar esses efeitos.
Essas informações entram em choque com o que afirmam os integradores -companhias que importam diretamente da Cisco para atender principalmente as grandes empresas.
Segundo Herbert Pero, presidente da mineira Halógica Tecnologia, os produtos da Cisco estão chegando normalmente. "Estamos usando um sistema chamado "Expedite" para agilizar as encomendas."
O "Expedite" só pode ser acionado por clientes preferenciais da Cisco que, via internet, fazem pedidos exigindo a entrega na metade do tempo previsto.
Pelos métodos tradicionais, levam-se pelo menos 45 dias para que as mercadorias sejam entregues. Com o "Expedite", elas chegam em 20 dias, no máximo. "Isso porque a matriz determina prioridade às suas fábricas", diz Pero.
Segundo ele, logo após o início da Operação Persona, que deflagrou o escândalo da Cisco em meados de outubro, o estoque da Mude foi apreendido, e a matriz determinou que as empresas brasileiras refizessem seus pedidos.
O Brasil passou, então, a ser atendido no ritmo do "Expedite". "Mesmo assim, esses clientes tiveram de esperar pelo menos um mês a mais."
A Folha apurou com um dos principais integradores da Cisco que os novos pedidos sofrerão atrasos de até dois meses devido à sobrecarga nas aduanas no final deste ano.
Isso significa que os grandes projetos -de instituições bancárias e empresas de telecomunicações, principalmente- só serão consolidados no primeiro trimestre do próximo ano.

Só em 2008
Na Verto Technologies, que atende empresas como CSN, Siemens e Coca-Cola, os projetos estão em andamento.
"Ainda dá para esperar e ver o que acontecerá com a Cisco", afirma Aline Figueira, responsável pelo marketing da Verto. "Mas, dependendo da situação, vamos para a concorrência."
Embora afirme que os pedidos de importação estão chegando, a Telsinc, outro importante integrador da Cisco, decidiu não arriscar. Para isso, está utilizando o estoque de roteadores e "switchers" do seu departamento de manutenção na expansão da rede de dados e de comunicação de seus clientes.
"Emprestamos os equipamentos para eles até que os produtos importados sejam entregues", afirma Rogerio Vedovato, diretor de marketing.
Segundo ele, lojas que estão abrindo filiais e redes que contratam mais funcionários para atender o aumento do comércio no final do ano não poderiam ficar sem assistência.
"Por isso, decidimos usar o estoque da manutenção. Se não fosse assim, nosso negócio poderia ficar em risco", diz.


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