São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Novo secretário de comércio vê entraves para as exportações

Titular da Secretaria de Comércio Exterior afirma que burocracia e gargalos em logística são principais problemas

Barral também aponta pouca eficiência do governo em atender as demandas do setor privado como obstáculo para exportador

Luiz Carlos Murauskas - 28.fev.07/Folha Imagem
Terminal de cargas no porto de Santos; gargalo em logística prejudica exportação do Brasil

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Excesso de burocracia, pouca eficiência do governo em responder aos pleitos da indústria e gargalos em logística representam os principais entraves para os exportadores, na avaliação do secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
Apesar dessas dificuldades, Barral respondeu com tom otimista a sua primeira entrevista exclusiva desde que assumiu o cargo, no mês passado.
Considerou "natural" a redução do superávit comercial, que caiu 9,9% nos dez primeiros meses deste ano em relação a igual período de 2006.
Barral afastou as preocupações sobre um impacto negativo da turbulência financeira internacional nas exportações brasileiras. Disse que o Brasil espera chegar a 1,25% do comércio mundial em 2010, contra o 1,14% atual. Autor de dois livros sobre antidumping, o secretário negou que o governo proteja a indústria nacional. Ele ressaltou que metade dos pedidos de defesa comercial é atendida, o que refletiria o cuidado do país em aplicar salvaguardas.
"O que é preciso lembrar é que o Brasil é um dos países mais criteriosos para a aplicação de medidas de defesa comercial", afirmou. Barral defende a entrada da Venezuela no Mercosul. E minimiza as reclamações dos membros atuais, dizendo que há uma insatisfação brasileira para cada queixa argentina.
A seguir, os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - A queda no volume do superávit preocupa?
WELBER BARRAL
- É natural, na história brasileira, haver oscilações entre superávit e déficit. Claro que o superávit é extremamente positivo. Há vários reflexos, como a valorização do câmbio nacional. Há um esforço do governo para aumentar as exportações e a meta de alcançar uma participação maior no mercado internacional. Temos 1,14% [hoje] e a meta é chegar a ter participação de 1,25% em 2010.

FOLHA - Não é muito tímido esse percentual? Países como a China e a Índia avançam muito mais...
BARRAL
- O Brasil começou um processo de inserção no mercado internacional, que vai implicar aumento de importações e de exportações. Isso vai ser natural. A China é um fenômeno que não dá para comparar, é o maior exportador mundial. Praticamente todo mundo tem déficit com ela. Com relação a países como o Brasil, estamos com um desempenho muito satisfatório.

FOLHA - Qual é o principal problema do Brasil hoje?
BARRAL
- Há um desafio de competitividade, que implica reduzir a burocracia. Burocracia é uma preocupação, principalmente pela dificuldade de pequenas e médias empresas e novos exportadores ingressarem no mercado internacional. Logística é uma preocupação. Eficiência institucional também, que é o governo responder, em curtíssimo espaço de tempo, às demandas do setor privado e criar regras que sejam ágeis e que punam os contraventores sem punir quem age legalmente. Ao lado disso, acrescentaria a preocupação de agregar valor às exportações. Temos de aproveitar o momento em que os preços internacionais são favoráveis e nos preparar para o caso de algum "soluço" internacional.

FOLHA - Como essa turbulência na área de crédito?
BARRAL
- Sendo otimista, esperava-se um impacto muito maior quando começou a turbulência. O fato de a crise não ter se refletido como se esperava é um sintoma da relevância de outros países no cenário internacional. Compare 2007 com 1929. Na década de 1930, alguns setores do comércio internacional caíram a 10% do que eram na década de 1920 -uma coisa absurda. Havia um grande ganhador da Primeira Guerra Mundial, que eram os Estados Unidos, com uma participação imensa no comércio internacional. Isso já não acontece hoje em dia.

FOLHA - Como o sr. vai lidar com as queixas do Mercosul?
BARRAL
- A importância do Mercosul deve ser sempre ressaltada. Agora, muitas das reclamações dos parceiros comerciais se refletem em um número igual de reclamações do Brasil. É natural. Todos os quatro países reconhecem que o Mercosul tem sido extremamente positivo no geral. Há problemas pontuais, de concorrência desleal, de barreiras, o mesmo que temos entre as regiões brasileiras. A Zona Franca de Manaus tem suas demandas, por exemplo, e o Nordeste tem outras.

FOLHA - Como o sr. vê a entrada da Venezuela no bloco?
BARRAL
- Em termos políticos, foi uma decisão do governo, que se baseou na vinculação de mais um Estado extremamente importante. Tem que se fazer essa diferença entre o que é o governo de Hugo Chávez e o que é a Venezuela como parceiro comercial. Os acordos comerciais são feitos para o futuro, não para o próximo governo. O comércio bilateral poderia ser muito maior. Além do petróleo, há vários outros produtos com grande competitividade para o Brasil.

FOLHA - Mas ainda falta clareza sobre as tarifas, a Venezuela faltou à última reunião...
BARRAL
- A entrada da Venezuela no Mercosul é o primeiro passo. Há um longo processo de negociação sobre desoneração tarifária, sobre cronogramas de liberalização, sobre setores que vão ser liberalizados etc.

FOLHA - Por que acelerar a aplicação de medidas antidumping, como fez o governo?
BARRAL
- O Brasil é um dos países mais criteriosos para a aplicação de defesa comercial -praticamente 50% das medidas solicitadas redundam na aplicação. Há mais medidas porque há mais demandas, mas não quer dizer que todos os pedidos sejam atendidos.

FOLHA - A aplicação de antidumping vem crescendo?
BARRAL
- Tem sido mais comum porque aceleramos o processo. Há um planejamento estratégico que tem facilitado o acesso da indústria e gerado mais demanda, tanto de defesa comercial como de outras matérias. Vamos lançar o novo Siscomex [Sistema Integrado de Comércio Exterior] e o drawback on-line, para dar mais agilidade. Nosso papel também é articular com outros ministérios, para que haja uma maior celeridade no transporte, na logística, na desburocratização e na fiscalização. Acelerar é o mote principal.


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