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Novo secretário de comércio vê entraves para as exportações
Titular da Secretaria de Comércio Exterior afirma que burocracia e gargalos em logística são principais problemas
Barral também aponta pouca eficiência do governo em atender as demandas
do setor privado como obstáculo para exportador
Luiz Carlos Murauskas - 28.fev.07/Folha Imagem
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Terminal de cargas no porto de Santos; gargalo em logística prejudica exportação do Brasil
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Excesso de burocracia, pouca
eficiência do governo em responder aos pleitos da indústria
e gargalos em logística representam os principais entraves
para os exportadores, na avaliação do secretário de Comércio
Exterior, Welber Barral.
Apesar dessas dificuldades,
Barral respondeu com tom otimista a sua primeira entrevista
exclusiva desde que assumiu o
cargo, no mês passado.
Considerou "natural" a redução do superávit comercial, que
caiu 9,9% nos dez primeiros
meses deste ano em relação a
igual período de 2006.
Barral afastou as preocupações sobre um impacto negativo da turbulência financeira internacional nas exportações
brasileiras. Disse que o Brasil
espera chegar a 1,25% do comércio mundial em 2010, contra o 1,14% atual.
Autor de dois livros sobre antidumping, o secretário negou
que o governo proteja a indústria nacional. Ele ressaltou que
metade dos pedidos de defesa
comercial é atendida, o que refletiria o cuidado do país em
aplicar salvaguardas.
"O que é preciso lembrar é
que o Brasil é um dos países
mais criteriosos para a aplicação de medidas de defesa comercial", afirmou.
Barral defende a entrada da
Venezuela no Mercosul. E minimiza as reclamações dos
membros atuais, dizendo que
há uma insatisfação brasileira
para cada queixa argentina.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - A queda no volume do superávit preocupa?
WELBER BARRAL - É natural, na
história brasileira, haver oscilações entre superávit e déficit.
Claro que o superávit é extremamente positivo. Há vários
reflexos, como a valorização do
câmbio nacional. Há um esforço do governo para aumentar
as exportações e a meta de alcançar uma participação maior
no mercado internacional. Temos 1,14% [hoje] e a meta é chegar a ter participação de 1,25%
em 2010.
FOLHA - Não é muito tímido esse
percentual? Países como a China e a
Índia avançam muito mais...
BARRAL - O Brasil começou um
processo de inserção no mercado internacional, que vai implicar aumento de importações e
de exportações. Isso vai ser natural. A China é um fenômeno
que não dá para comparar, é o
maior exportador mundial.
Praticamente todo mundo tem
déficit com ela. Com relação a
países como o Brasil, estamos
com um desempenho muito satisfatório.
FOLHA - Qual é o principal problema do Brasil hoje?
BARRAL - Há um desafio de
competitividade, que implica
reduzir a burocracia. Burocracia é uma preocupação, principalmente pela dificuldade de
pequenas e médias empresas e
novos exportadores ingressarem no mercado internacional.
Logística é uma preocupação.
Eficiência institucional também, que é o governo responder, em curtíssimo espaço de
tempo, às demandas do setor
privado e criar regras que sejam ágeis e que punam os contraventores sem punir quem
age legalmente. Ao lado disso,
acrescentaria a preocupação de
agregar valor às exportações.
Temos de aproveitar o momento em que os preços internacionais são favoráveis e nos preparar para o caso de algum "soluço" internacional.
FOLHA - Como essa turbulência na
área de crédito?
BARRAL - Sendo otimista, esperava-se um impacto muito
maior quando começou a turbulência. O fato de a crise não
ter se refletido como se esperava é um sintoma da relevância
de outros países no cenário internacional. Compare 2007
com 1929. Na década de 1930,
alguns setores do comércio internacional caíram a 10% do
que eram na década de 1920
-uma coisa absurda. Havia um
grande ganhador da Primeira
Guerra Mundial, que eram os
Estados Unidos, com uma participação imensa no comércio
internacional. Isso já não acontece hoje em dia.
FOLHA - Como o sr. vai lidar com as
queixas do Mercosul?
BARRAL - A importância do
Mercosul deve ser sempre ressaltada. Agora, muitas das reclamações dos parceiros comerciais se refletem em um número igual de reclamações do
Brasil. É natural. Todos os quatro países reconhecem que o
Mercosul tem sido extremamente positivo no geral. Há
problemas pontuais, de concorrência desleal, de barreiras,
o mesmo que temos entre as regiões brasileiras. A Zona Franca de Manaus tem suas demandas, por exemplo, e o Nordeste
tem outras.
FOLHA - Como o sr. vê a entrada da
Venezuela no bloco?
BARRAL - Em termos políticos,
foi uma decisão do governo,
que se baseou na vinculação de
mais um Estado extremamente
importante. Tem que se fazer
essa diferença entre o que é o
governo de Hugo Chávez e o
que é a Venezuela como parceiro comercial. Os acordos comerciais são feitos para o futuro, não para o próximo governo. O comércio bilateral poderia ser muito maior. Além do
petróleo, há vários outros produtos com grande competitividade para o Brasil.
FOLHA - Mas ainda falta clareza sobre as tarifas, a Venezuela faltou à
última reunião...
BARRAL - A entrada da Venezuela no Mercosul é o primeiro
passo. Há um longo processo de
negociação sobre desoneração
tarifária, sobre cronogramas de
liberalização, sobre setores que
vão ser liberalizados etc.
FOLHA - Por que acelerar a aplicação de medidas antidumping, como
fez o governo?
BARRAL - O Brasil é um dos países mais criteriosos para a aplicação de defesa comercial
-praticamente 50% das medidas solicitadas redundam na
aplicação. Há mais medidas
porque há mais demandas, mas
não quer dizer que todos os pedidos sejam atendidos.
FOLHA - A aplicação de antidumping vem crescendo?
BARRAL - Tem sido mais comum porque aceleramos o processo. Há um planejamento estratégico que tem facilitado o
acesso da indústria e gerado
mais demanda, tanto de defesa
comercial como de outras matérias. Vamos lançar o novo Siscomex [Sistema Integrado de
Comércio Exterior] e o drawback on-line, para dar mais agilidade. Nosso papel também é
articular com outros ministérios, para que haja uma maior
celeridade no transporte, na logística, na desburocratização e
na fiscalização. Acelerar é o
mote principal.
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