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Blairo Maggi vê estouro da bolha agrícola
Para governador de MT e grande produtor de soja, agricultura vive "uma das mais graves crises das últimas décadas'
Federação agrícola diz que 70% dos agricultores de Mato Grosso deixaram de pagar débitos; bancos tomam equipamentos
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), disse à
Folha que a agricultura brasileira está diante de "uma das
mais graves crises das últimas
décadas". Segundo ele, a "bolha
do "subprime" agrícola" estourou, com conseqüências graves
para o plantio e a colheita.
Para Maggi, a diferença do
momento atual em relação às
outras crises do setor está na
dificuldade de obtenção de crédito, com as tradings ou com as
instituições financeiras nacionais e internacionais. "O problema é que o fluxo de caixa,
que antes era obtido com o crédito, praticamente secou."
Sem acesso ao crédito para financiar a próxima safra, 70%
dos agricultores do Estado
(maior produtor de soja do
país) deixaram de pagar seus
débitos na parcela de R$ 1 bilhão do financiamento de máquinas agrícolas que venceu em
15 de outubro, segundo estimativa da Famato (Federação da
Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso).
Na semana passada, os bancos ligados às grandes montadoras -Case/New Holland e
John Deere, por exemplo- começaram a seqüestrar judicialmente plantadeiras, tratores,
pulverizadores e colheitadeiras
como garantia de pagamento.
Até sexta-feira, somente no
cartório de Rondonópolis (220
km de Cuiabá), mais de 70 notificações extrajudiciais já haviam sido protocoladas pelos
bancos. Os produtores ainda
foram inscritos como inadimplentes em serviços de proteção ao crédito, como a Serasa.
"É o momento do plantio e
logo virá a colheita, ou seja, a
pior hora para algo assim ocorrer", disse Maggi, um dos maiores plantadores de soja do país.
As primeiras máquinas foram recolhidas na região de
Rondonópolis, mas o processo
deverá se estender Brasil afora,
disse ele. "A bolha do "subprime" agrícola estourou."
"Subprime" são os créditos
de alto risco que, concedidos
maciçamente nos EUA nos últimos anos, resultaram em uma
onda crescente de inadimplência que está no epicentro da crise econômica mundial.
Para Maggi, um cenário semelhante pode ser identificado
no campo: dívidas acima da capacidade de pagamento, custos
de produção em alta, queda no
preço das principais commodities e pouco acesso a crédito.
"Ao produtor não resta alternativa: ou ele paga a conta passada ou planta a safra seguinte.
Não se trata de calote", disse.
Para muitos produtores, afirmou Maggi, acaba sendo "mais
barato" entregar o maquinário
do que pagar o financiamento.
"Há colheitadeiras que hoje
não valem a metade do saldo
devedor do financiamento. Eu
não tiro o direito de os bancos
partirem para este caminho,
mas as conseqüências serão
muito graves para o país."
Segundo o governador, a
questão "é de Estado, e não de
um ou outro produtor". "É fundamental que haja prorrogação
das parcelas deste ano até o ano
que vem. É uma questão de
bom senso. Mas, até agora, não
surgiu nada nesse sentido."
No fim de semana, representantes de entidades do setor
produtivo decidiram constituir
um "comitê de crise", que se
reuniu pela primeira vez ontem
em Cuiabá. "Alertamos o governo sobre as graves conseqüências, e nada foi feito para
neutralizar os efeitos dos mandados de busca e apreensão das
máquinas e equipamentos",
disse o presidente da Famato,
Rui Prado, membro do comitê.
A expectativa do grupo é que
o CMN (Conselho Monetário
Nacional) aprove nesta semana
a prorrogação da parcela dívida
até 2009.
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