São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2008

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Ministro vê problema real só em 2 Estados

Stephanes diz que apenas os produtores de Mato Grosso e de Goiás atrasaram, em outubro, o pagamento da parcela da dívida

Agricultores reclamam da falta de comando do ministro para tratar do assunto; Stephanes diz que críticas são "demagógicas"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) disse que somente os produtores de Mato Grosso e de Goiás deixaram de pagar a parcela da dívida que venceu em 15 de outubro. "Os [produtores de] outros Estados pagaram a dívida, ou seja, estamos falando de um problema que é real, mas que não é no país inteiro."
Ontem, representantes das entidades que compuseram o "comitê de crise" em Mato Grosso apontaram a "falta de peso político" do Ministério da Agricultura como um agravante da crise financeira estabelecida no campo brasileiro.
"O ministro Stephanes não tem força alguma. Não manda nada e não diz nada. É como uma rainha da Inglaterra. Hoje, quem comanda a pasta é o quinto escalão do Ministério da Fazenda", reclamou o produtor Carlos Ernesto Augustin, vice-presidente da Ampa (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão).
Stephanes definiu as críticas à atuação do ministério como "demagógicas". "Não somos submissos ao Ministério da Fazenda, esse tempo já passou. E nunca nos negamos a receber os produtores de soja e de algodão e a discutir alternativas para a crise. Agora, é preciso considerar que a situação é complexa."
A comparação com a crise do "subprime" norte-americano, na visão de Stephanes, acerta na forma, mas não na dimensão. "O fenômeno é idêntico, mas, no caso de Mato Grosso, estamos falando de uma dívida de R$ 1 bilhão, enquanto nos Estados Unidos eram trilhões", disse o ministro.
A situação será contornada, afirmou ele, com a liberação de uma nova linha para o refinanciamento da parcela não paga. "Ainda aguardo a confirmação do Conselho Monetário Nacional, mas será uma linha com taxa de juros de apenas 0,5% acima [da taxa do financiamento anterior], para contemplar aqueles que estão inadimplentes", afirmou Stephanes.

Diagnóstico certo
O agricultor José Mário Schreiner, presidente da Comissão de Cereais, Grãos, Fibras e Oleaginosas da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), avaliou ontem como "certeiro" o diagnóstico do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.
Segundo ele, não se trata de uma "crise localizada". "A situação é mais grave em Mato Grosso, mas é também séria no restante do Centro-Oeste e vai afetar os Estados do Sul", disse.
Os produtores vêm usando as reservas para o pagamento das "despesas do dia-a-dia", afirmou Schreiner, mas não têm condições de financiar a safra e, ao mesmo tempo, pagar as dívidas dos investimentos.
"O produtor chegou à encruzilhada: se insistir em plantar, corre o risco de ter de entregar seu maquinário aos bancos [por não conseguir pagar as parcelas do crédito]."


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