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Ministro vê problema real só em 2 Estados
Stephanes diz que apenas os produtores de Mato Grosso e de Goiás atrasaram, em outubro, o pagamento da parcela da dívida
Agricultores reclamam
da falta de comando do ministro para tratar do assunto; Stephanes diz que críticas são "demagógicas"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) disse que somente os produtores de Mato
Grosso e de Goiás deixaram de
pagar a parcela da dívida que
venceu em 15 de outubro. "Os
[produtores de] outros Estados
pagaram a dívida, ou seja, estamos falando de um problema
que é real, mas que não é no
país inteiro."
Ontem, representantes das
entidades que compuseram o
"comitê de crise" em Mato
Grosso apontaram a "falta de
peso político" do Ministério da
Agricultura como um agravante da crise financeira estabelecida no campo brasileiro.
"O ministro Stephanes não
tem força alguma. Não manda
nada e não diz nada. É como
uma rainha da Inglaterra. Hoje,
quem comanda a pasta é o
quinto escalão do Ministério da
Fazenda", reclamou o produtor
Carlos Ernesto Augustin, vice-presidente da Ampa (Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão).
Stephanes definiu as críticas
à atuação do ministério como
"demagógicas". "Não somos
submissos ao Ministério da Fazenda, esse tempo já passou. E
nunca nos negamos a receber
os produtores de soja e de algodão e a discutir alternativas para a crise. Agora, é preciso considerar que a situação é complexa."
A comparação com a crise do
"subprime" norte-americano,
na visão de Stephanes, acerta
na forma, mas não na dimensão. "O fenômeno é idêntico,
mas, no caso de Mato Grosso,
estamos falando de uma dívida
de R$ 1 bilhão, enquanto nos
Estados Unidos eram trilhões",
disse o ministro.
A situação será contornada,
afirmou ele, com a liberação de
uma nova linha para o refinanciamento da parcela não paga.
"Ainda aguardo a confirmação
do Conselho Monetário Nacional, mas será uma linha com taxa de juros de apenas 0,5% acima [da taxa do financiamento
anterior], para contemplar
aqueles que estão inadimplentes", afirmou Stephanes.
Diagnóstico certo
O agricultor José Mário
Schreiner, presidente da Comissão de Cereais, Grãos, Fibras e Oleaginosas da CNA
(Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil), avaliou ontem como "certeiro" o diagnóstico do governador de Mato
Grosso, Blairo Maggi.
Segundo ele, não se trata de
uma "crise localizada". "A situação é mais grave em Mato
Grosso, mas é também séria no
restante do Centro-Oeste e vai
afetar os Estados do Sul", disse.
Os produtores vêm usando as
reservas para o pagamento das
"despesas do dia-a-dia", afirmou Schreiner, mas não têm
condições de financiar a safra e,
ao mesmo tempo, pagar as dívidas dos investimentos.
"O produtor chegou à encruzilhada: se insistir em plantar,
corre o risco de ter de entregar
seu maquinário aos bancos
[por não conseguir pagar as
parcelas do crédito]."
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