São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999


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CÂMBIO
Cotação vai a R$ 1,809, com queda de 1,6%, a maior desde setembro; país atraiu até US$ 400 mi ontem
Entrada de capital derruba o dólar

MAURO TEIXEIRA
da Reportagem Local

A forte entrada de recursos no país levou ontem o dólar comercial ao seu mais baixo patamar em quase cinco meses. A moeda norte-americana fechou o dia sendo negociada a R$ 1,8090, o que representa uma queda de 1,57% em relação a anteontem.
Foi a maior desvalorização do dólar em um só dia desde o dia 8 de setembro. A menor cotação anterior foi registrada em 30 de julho (R$ 1,8020).
Durante o dia, no entanto, o dólar chegou a ser negociado a R$ 1,7960, taxa mínima. A máxima foi de R$ 1,8260.
Segundo analistas, o comportamento do mercado de câmbio nos últimos dias se deve ao fluxo positivo de recursos. Ontem, as entradas foram estimadas entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões, segundo operadores.
Na outra ponta, as saídas de dólares do país têm ficado abaixo das expectativas. Neste mês, os vencimentos de dívidas contraídas no exterior somente do setor privado totalizavam cerca de US$ 1,3 bilhão.
A avaliação do mercado é a de que parte das empresas antecipou as remessas, enquanto outras fizeram rolagem de suas dívidas, o que ajudou a aliviar a demanda por dólares.
No rol das boas notícias que melhoraram o humor do mercado está a melhora das notas atribuídas pela Moody's ao país. A agência aumentou a nota do risco da dívida interna do Brasil e as notas de algumas instituições financeiras.

Atuação do BC
Acima de tudo, a opinião predominante entre analistas e profissionais do mercado é a de que a atuação do Banco Central nos últimos dois meses foi a principal razão para a queda do dólar.
Por trás dessa atuação da autoridade monetária está a preocupação com os índices inflacionários, que tiveram um repique nos meses de outubro e novembro.
O dólar influencia diretamente o índice de preços no atacado (IPA), que é componente importante do IGP (Índice Geral de Preços). O IGP é usada como espécie de indexador das tarifas públicas, o que leva o governo a tentar mantê-lo sob controle.
No final de outubro, o BC conseguiu aumentar em US$ 2 bilhões a sua capacidade para intervir no câmbio. Desde então, foram realizadas seis intervenções diretas, com venda de moeda.
Além disso, a venda antecipada de dólares pelo BC para garantir a liquidez no mercado na virada do ano parece ter afastado de vez os temores pelo bug do milênio.
O BC fez dois leilões de venda e compra casadas da ordem de US$ 1,3 bilhão. O dinheiro será entregue às instituições no dia 29 de dezembro, e recomprado pelo BC nos dias 5 e 10 de janeiro.
"Esses leilões mudaram completamente o cenário e praticamente eliminaram a capacidade de especulação por causa do bug do milênio", diz João Medeiros, da corretora Pioneer.
Outro fator positivo tem sido a recuperação das exportações brasileiras nos últimos dois meses. Neste mês, têm sido detectadas fortes entradas de pagamentos aos exportadores.

"Meta informal" furada
A cotação de ontem deixa longe o que o mercado considerava a "meta informal" do BC para o final deste mês -R$ 1,85.
Agora, a preocupação revelada por alguns analistas é que, se a desvalorização se mantiver neste ritmo, pode afetar a competitividade das exportações brasileiras.
Sobre isso, o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, disse ontem que estão descartadas intervenções para segurar a cotação do dólar.
Segundo ele, a atual política cambial permite a competitividade do setor exportador. "O valor do dólar depende do fluxo de recursos e da percepção que o mercado tem da economia."
Em dezembro, a desvalorização do dólar no mercado comercial já atinge 6%. Desde o pico mais recente, em 19 de outubro, quando sua cotação atingiu R$ 2,003, a queda já alcança 9,7%. No ano, o dólar registrou uma alta de 49,6%.
A valorização real da moeda norte-americana neste ano, considerada a taxa de 9% estimada pelo governo para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), atinge 37,3%.


Colaborou o FolhaNews

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