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LUÍS NASSIF
A Embraer chinesa
Nesta terça-feira a Embraer
apresentou o primeiro avião
produzido na China, em uma
joint venture com a estatal chinesa Avic 2, uma das duas estatais
chinesas do setor.
Quando o primeiro avião da
empresa Harbin Embraer -o nome da joint venture- fez o vôo
inaugural, autoridades chinesas e
funcionários brasileiros explodiram em uma salva de palmas.
A entrada do aeroporto da cidade estava enfeitada por um amplo
painel com os retratos de Santos
Dumont e de um chinês, pioneiro
da aviação local, que construiu
seu avião alguns anos depois do
brasileiro.
O processo de negociação da
China com a Embraer é um exemplo concreto de como se pratica
política industrial pragmática.
O grande ativo chinês é seu mercado interno regional. Nos últimos anos ocorreu uma reestruturação na aviação interna, com a
consolidação de três dezenas de
empresas em três grandes empresas estatais, uma das quais com
40% de capital privado. A reestruturação visou preparar as empresas para um ambiente competitivo e para futura privatização.
O setor está em reestruturação,
saindo do velho modelo estatal
para um modelo de competição
regulada. Nesse processo, abriu-se
espaço para a criação da aviação
regional, que inexiste na China.
Contando como trunfo com o
mercado interno, a China sobretaxou os aviões médios em 23%.
Ao mesmo tempo, emissários do
governo chinês passaram a procurar os grandes fabricantes de
aviões regionais sugerindo que a
única alternativa de vender para
o mercado chinês seria produzir
localmente.
Foi um jogo esperto, em que exploraram bastante as rivalidades
entre a Embraer e a Bombardier
(canadense).
Do lado da China, interessa ter
uma fábrica local transferindo
tecnologia. Para a Embraer, interessa o mercado interno chinês. É
um jogo que mais parece o pôquer
do que o xadrez.
A Embraer venceu porque soube
se comportar com humildade na
hora certa, e endurecer na hora
certa também. Alemães e canadenses perderam o bonde por não
abrir espaço para sócios chineses.
A Embraer aceitou a sociedade,
mas exigiu ficar com o controle,
51%, com o argumento de que é a
imagem dela que está em jogo.
No contrato ficou acertado que
não haverá vendas para o mercado externo, sem consulta aos sócios. A Embraer sabe que as regras
poderão ser mudadas a qualquer
momento, mas tem também seus
trunfos. Seus técnicos se precaveram contra possível espionagem
industrial. Mas a garantia maior
é o fato de a empresa só ter aceitado fabricar o ERJ-145, um modelo
que está na metade dos seus 20
anos de vida útil. Não haverá
transferência de tecnologia, nem
desenvolvimento na China.
De qualquer modo, a visão da
Embraer é que o que irá segurar o
acordo será a manutenção de interesses recíprocos. A maneira como as autoridades chinesas falam
de seus "amigos" brasileiros sugere que há um amplo espaço de colaboração entre ambos os países
nos próximos anos.
Mas ninguém tem dúvida: daqui a alguns anos a China estará
competindo no mercado internacional de aviação.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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