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China tenta impedir acordo de mineradoras
Associação chinesa de ferro e aço divulga comunicado contra a união das anglo-australianas BHP e Rio Tinto
Entidade chinesa alega que a junção das duas gigantes do setor provocará o aumento do preço do ferro
e afetará a concorrência
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A Associação Chinesa de Ferro e Aço pediu ontem ações
contra a parceria das mineradoras anglo-australianas BHP e
Rio Tinto, gigantes do setor.
Em comunicado divulgado
com destaque pela mídia estatal chinesa, a entidade diz que a
"união das empresas australianas provocará o aumento do
preço global do ferro e fará mal
à concorrência".
Segundo o jornal estatal
"China Daily", o presidente da
associação, Shan Shanghua, esteve no Brasil na semana passada para pedir à Vale uma ação
conjunta contra o negócio na
Comissão Europeia de Defesa
da Concorrência.
A Cisa (como a associação
chinesa é conhecida, pelas iniciais em inglês) reclama no texto que a "natureza monopolística do mercado global de minério de ferro dificulta muito
um preço justo para a China
nas negociações". Diz que o
acordo deixará as coisas piores,
apesar do anúncio das companhias anglo-australianas de
que a parceria é na produção,
não nas vendas.
Após seis meses de negociação, a BHP, a segunda maior
produtora de minério do mundo, e a Rio Tinto, a terceira, fecharam neste mês um acordo
em que combinariam suas minas no Estado da Austrália Ocidental, suas ferrovias e seus
portos. A parceria ainda depende da aprovação de órgãos reguladores -daí vem a pressão
dos chineses.
Maior mercado consumidor
de ferro, a China importou neste ano 600 milhões de toneladas do minério. "Pequim tem
sofrido para conseguir qualquer concessão no preço da
BHP, Rio Tinto ou da brasileira
Vale", diz o "China Daily".
No início do ano, quando tinha estoques e a economia estava em marcha lenta, a China
pagava pelo ferro brasileiro
33% a menos do que em 2008.
Mas os preços voltaram a subir,
estimulados pela recuperação
econômica chinesa. Os chineses queriam pagar entre 40% e
50% menos pelo ferro da Vale.
As negociações se arrastaram
por vários meses, sem acordo.
As três gigantes respondem
por 75% do ferro que a China
importa. A associação pediu
medidas ao governo chinês para que use a legislação antimonopólio para dificultar a fusão.
Boicote e represália
Desde o ano passado, a Cisa,
respaldada pelo governo chinês, tem tentado criar divisão
entre as três grandes mineradoras. Em setembro, a entidade
anunciou boicote contra a Vale
por conta da tentativa de aumento de preços do ferro brasileiro para o mercado chinês.
Neste ano, a campanha negativa pendeu para o lado da Austrália. Uma estatal chinesa, a
Chinalco, tentou comprar 18%
da Rio Tinto por US$ 19 bilhões. A Chinalco já tinha 12%
da empresa -compra efetuada
logo depois que a BHP tentou
comprar a Rio em 2007.
A negociação levou meses e
foi barrada por oposição na empresa e no governo australiano.
Pouco depois, quatro executivos da Rio Tinto foram detidos
em Xangai, no início de julho,
acusados de "roubos de segredos de Estado".
Após pressão do premiê australiano, Kevin Rudd, o governo chinês mudou a acusação
para "corrupção e propinas".
Na época da prisão, a China negociava preço de ferro com a
empresa.
Segundo a imprensa australiana, a BHP fazia lobby forte
contra a participação chinesa
na Rio Tinto e já pensava na
aproximação com a então rival.
Dois meses depois, no final
de setembro, o Conselho de Revisão de Investimentos Estrangeiros da Austrália mudou a lei
que regula investimentos em
recursos naturais no país. "Empresas estatais estrangeiras só
podem deter até 15% das ações
de empresas que detenham recursos minerais", diz a nova diretriz -para muitos, um recado
às ambições chinesas.
Em setembro, texto da agência estatal Xinhua dizia que a
China deveria se "apoiar mais
no ferro brasileiro do que na
Austrália, onde o ambiente não
é tão favorável aos chineses".
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