São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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China tenta impedir acordo de mineradoras

Associação chinesa de ferro e aço divulga comunicado contra a união das anglo-australianas BHP e Rio Tinto

Entidade chinesa alega que a junção das duas gigantes do setor provocará o aumento do preço do ferro e afetará a concorrência

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A Associação Chinesa de Ferro e Aço pediu ontem ações contra a parceria das mineradoras anglo-australianas BHP e Rio Tinto, gigantes do setor.
Em comunicado divulgado com destaque pela mídia estatal chinesa, a entidade diz que a "união das empresas australianas provocará o aumento do preço global do ferro e fará mal à concorrência".
Segundo o jornal estatal "China Daily", o presidente da associação, Shan Shanghua, esteve no Brasil na semana passada para pedir à Vale uma ação conjunta contra o negócio na Comissão Europeia de Defesa da Concorrência.
A Cisa (como a associação chinesa é conhecida, pelas iniciais em inglês) reclama no texto que a "natureza monopolística do mercado global de minério de ferro dificulta muito um preço justo para a China nas negociações". Diz que o acordo deixará as coisas piores, apesar do anúncio das companhias anglo-australianas de que a parceria é na produção, não nas vendas.
Após seis meses de negociação, a BHP, a segunda maior produtora de minério do mundo, e a Rio Tinto, a terceira, fecharam neste mês um acordo em que combinariam suas minas no Estado da Austrália Ocidental, suas ferrovias e seus portos. A parceria ainda depende da aprovação de órgãos reguladores -daí vem a pressão dos chineses.
Maior mercado consumidor de ferro, a China importou neste ano 600 milhões de toneladas do minério. "Pequim tem sofrido para conseguir qualquer concessão no preço da BHP, Rio Tinto ou da brasileira Vale", diz o "China Daily".
No início do ano, quando tinha estoques e a economia estava em marcha lenta, a China pagava pelo ferro brasileiro 33% a menos do que em 2008. Mas os preços voltaram a subir, estimulados pela recuperação econômica chinesa. Os chineses queriam pagar entre 40% e 50% menos pelo ferro da Vale. As negociações se arrastaram por vários meses, sem acordo.
As três gigantes respondem por 75% do ferro que a China importa. A associação pediu medidas ao governo chinês para que use a legislação antimonopólio para dificultar a fusão.

Boicote e represália
Desde o ano passado, a Cisa, respaldada pelo governo chinês, tem tentado criar divisão entre as três grandes mineradoras. Em setembro, a entidade anunciou boicote contra a Vale por conta da tentativa de aumento de preços do ferro brasileiro para o mercado chinês.
Neste ano, a campanha negativa pendeu para o lado da Austrália. Uma estatal chinesa, a Chinalco, tentou comprar 18% da Rio Tinto por US$ 19 bilhões. A Chinalco já tinha 12% da empresa -compra efetuada logo depois que a BHP tentou comprar a Rio em 2007.
A negociação levou meses e foi barrada por oposição na empresa e no governo australiano. Pouco depois, quatro executivos da Rio Tinto foram detidos em Xangai, no início de julho, acusados de "roubos de segredos de Estado".
Após pressão do premiê australiano, Kevin Rudd, o governo chinês mudou a acusação para "corrupção e propinas". Na época da prisão, a China negociava preço de ferro com a empresa.
Segundo a imprensa australiana, a BHP fazia lobby forte contra a participação chinesa na Rio Tinto e já pensava na aproximação com a então rival.
Dois meses depois, no final de setembro, o Conselho de Revisão de Investimentos Estrangeiros da Austrália mudou a lei que regula investimentos em recursos naturais no país. "Empresas estatais estrangeiras só podem deter até 15% das ações de empresas que detenham recursos minerais", diz a nova diretriz -para muitos, um recado às ambições chinesas.
Em setembro, texto da agência estatal Xinhua dizia que a China deveria se "apoiar mais no ferro brasileiro do que na Austrália, onde o ambiente não é tão favorável aos chineses".


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