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BC projeta rombo externo recorde de US$ 40 bi em 2010
Aumento de remessas e saldo menor na balança elevarão deficit, prevê Banco Central
Investimentos diretos e em
aplicações devem cobrir
deficit; analistas questionam
dependência do capital
externo para país crescer
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A necessidade de poupança
externa para financiar o crescimento do país em 2010 fará o
Brasil registrar deficit recorde
nas suas transações com o exterior no próximo ano. A recuperação da economia nos últimos
três meses levou o BC a aumentar a previsão para esse resultado negativo de US$ 29 bilhões
para US$ 40 bilhões.
Embora esse seja o maior deficit registrado nas estatísticas
oficiais, que datam de 1947, o
governo e os analistas do mercado financeiro não avaliam os
números como algo ruim no
curto prazo. No próximo ano,
por exemplo, o BC prevê que o
investimento estrangeiro no
setor produtivo -a principal
fonte de financiamento do deficit- deva superar esse valor e
chegar a US$ 45 bilhões.
O país deve receber ainda
US$ 25 bilhões por meio das
aplicações de estrangeiros em
ações e títulos públicos. Apesar
de o valor estar abaixo do recorde já alcançado neste ano, de
quase US$ 46 bilhões até a metade de dezembro, ainda é um
resultado expressivo para as
contas externas.
Há, no entanto, preocupações em relação à dependência
de capital externo para manter
esse ritmo de crescimento do
país nos próximos governos.
Principalmente devido ao efeito dessa entrada de dólares sobre o câmbio.
O componente que mais pesou no aumento dessa previsão
foi a revisão na estimativa de
remessas de lucros e dividendos para o exterior, que dobrou,
para US$ 30 bilhões. Também
se espera que a recuperação da
economia puxe ainda mais a
demanda por serviços do exterior, o que gera mais gastos com
transportes, computação, aluguel de equipamentos e viagens
internacionais.
Outro fator que vai influenciar essa conta é a redução no
superavit comercial do Brasil
com o exterior. O BC projeta
uma queda de quase 40% no
próximo ano em relação a
2009, devido ao aumento das
importações a uma velocidade
superior à das exportações.
De acordo com o chefe do
Departamento Econômico do
BC, Altamir Lopes, o deficit do
Brasil com o exterior apresenta
hoje características "mais saudáveis" em relação à década
passada. Antes, o passivo externo do país era composto por dívidas, o que gerava um forte fluxo de saída de dinheiro para pagamento de juros. Agora, as remessas se devem ao retorno
dos investimentos feitos no
crescimento do país.
"O país tem um estoque de
investimentos diretos e no
mercado de capitais bem mais
elevado. É de esperar que as
empresas remetam mais recursos em cima desses estoques. E,
como a economia vai estar em
um ritmo mais forte, vai gerar
mais lucros", disse Altamir.
O economista André Sacconato, da consultoria Tendências, avalia que o resultado negativo nas transações correntes
pode ficar até abaixo do previsto pelo BC. "Estamos até mais
otimistas. De todo modo, isso
não é preocupante, pois as fontes de financiamento cobrem
com tranquilidade esse deficit.
O mundo está disposto a financiar o Brasil", diz ele, que projeta resultado negativo de US$ 35
bilhões para o próximo ano.
Balança
Para o presidente da Sobeet
(sociedade de estudos da globalização), Luís Afonso Lima, o
ponto negativo nos resultados
esperados para 2010 é o desempenho da balança comercial,
que inverteu a tendência vista
desde o início da década de expansão mais forte das exportações do que nas importações.
Há também a questão da dependência brasileira de recursos externos, já que o aumento
dos gastos públicos reduz a capacidade de investimentos do
país e inviabiliza a criação de
uma poupança interna para financiar o crescimento.
Além disso, essa entrada de
dólares influencia o câmbio,
que é uma das principais preocupações do governo e do exportador. "O ideal seria termos
também nossa poupança interna, reduzir o deficit fiscal e elevar o investimento, para financiar o nosso crescimento. Mas
estamos caminhando no sentido contrário disso", diz Lima.
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