São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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BC projeta rombo externo recorde de US$ 40 bi em 2010

Aumento de remessas e saldo menor na balança elevarão deficit, prevê Banco Central

Investimentos diretos e em aplicações devem cobrir deficit; analistas questionam dependência do capital externo para país crescer

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A necessidade de poupança externa para financiar o crescimento do país em 2010 fará o Brasil registrar deficit recorde nas suas transações com o exterior no próximo ano. A recuperação da economia nos últimos três meses levou o BC a aumentar a previsão para esse resultado negativo de US$ 29 bilhões para US$ 40 bilhões.
Embora esse seja o maior deficit registrado nas estatísticas oficiais, que datam de 1947, o governo e os analistas do mercado financeiro não avaliam os números como algo ruim no curto prazo. No próximo ano, por exemplo, o BC prevê que o investimento estrangeiro no setor produtivo -a principal fonte de financiamento do deficit- deva superar esse valor e chegar a US$ 45 bilhões.
O país deve receber ainda US$ 25 bilhões por meio das aplicações de estrangeiros em ações e títulos públicos. Apesar de o valor estar abaixo do recorde já alcançado neste ano, de quase US$ 46 bilhões até a metade de dezembro, ainda é um resultado expressivo para as contas externas.
Há, no entanto, preocupações em relação à dependência de capital externo para manter esse ritmo de crescimento do país nos próximos governos. Principalmente devido ao efeito dessa entrada de dólares sobre o câmbio.
O componente que mais pesou no aumento dessa previsão foi a revisão na estimativa de remessas de lucros e dividendos para o exterior, que dobrou, para US$ 30 bilhões. Também se espera que a recuperação da economia puxe ainda mais a demanda por serviços do exterior, o que gera mais gastos com transportes, computação, aluguel de equipamentos e viagens internacionais.
Outro fator que vai influenciar essa conta é a redução no superavit comercial do Brasil com o exterior. O BC projeta uma queda de quase 40% no próximo ano em relação a 2009, devido ao aumento das importações a uma velocidade superior à das exportações.
De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o deficit do Brasil com o exterior apresenta hoje características "mais saudáveis" em relação à década passada. Antes, o passivo externo do país era composto por dívidas, o que gerava um forte fluxo de saída de dinheiro para pagamento de juros. Agora, as remessas se devem ao retorno dos investimentos feitos no crescimento do país.
"O país tem um estoque de investimentos diretos e no mercado de capitais bem mais elevado. É de esperar que as empresas remetam mais recursos em cima desses estoques. E, como a economia vai estar em um ritmo mais forte, vai gerar mais lucros", disse Altamir.
O economista André Sacconato, da consultoria Tendências, avalia que o resultado negativo nas transações correntes pode ficar até abaixo do previsto pelo BC. "Estamos até mais otimistas. De todo modo, isso não é preocupante, pois as fontes de financiamento cobrem com tranquilidade esse deficit. O mundo está disposto a financiar o Brasil", diz ele, que projeta resultado negativo de US$ 35 bilhões para o próximo ano.

Balança
Para o presidente da Sobeet (sociedade de estudos da globalização), Luís Afonso Lima, o ponto negativo nos resultados esperados para 2010 é o desempenho da balança comercial, que inverteu a tendência vista desde o início da década de expansão mais forte das exportações do que nas importações.
Há também a questão da dependência brasileira de recursos externos, já que o aumento dos gastos públicos reduz a capacidade de investimentos do país e inviabiliza a criação de uma poupança interna para financiar o crescimento.
Além disso, essa entrada de dólares influencia o câmbio, que é uma das principais preocupações do governo e do exportador. "O ideal seria termos também nossa poupança interna, reduzir o deficit fiscal e elevar o investimento, para financiar o nosso crescimento. Mas estamos caminhando no sentido contrário disso", diz Lima.


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