São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Objetivo é evitar inflação, diz Malan

Alan Marques/Folha Imagem
Pedro Malan, ministro da Fazenda, que negociou com o FMI nos EUA


MARTA SALOMON
enviada especial a Washington

Ao anunciar ontem o aval do FMI (Fundo Monetário Internacional) à nova política cambial, o ministro Pedro Malan (Fazenda) indicou a possibilidade de aumento das taxas de juros no país. O objetivo é manter a inflação sob controle e, com isso, evitar a expectativa de novas desvalorizações.
Além da alta dos juros, o governo também terá de recorrer a "medidas adicionais" para compensar o impacto da desvalorização da moeda nas metas acertadas com o FMI, anunciou Malan.
Em nota oficial, o ministro fala em "viés ascendente inicial" dos juros, ao recomendar a discussão do assunto na reunião do Copom (Conselho de Política Monetária). Malan recomendou ao Copom, como primeiro passo, uma ampliação da banda da taxa de juros.
O BC decidiu, então, realizar ainda ontem uma reunião extraordinária do conselho no final da tarde.
A queda das taxas, objeto de pressão de políticos e empresários, virá a "médio prazo": "É um erro pensar que apenas porque a política de câmbio mudou, independentemente do que está acontecendo no conjunto da economia, pode-se imediatamente reduzir drasticamente a taxa de juros", resumiu.
O acordo com o FMI permanece de pé, mas sem o repasse antecipado da próxima parcela do empréstimo internacional do país.
O ministro disse que não chegou a discutir com o FMI a antecipação do repasse da próxima parcela do empréstimo internacional de US$ 41,5 bilhões, embora tivesse anunciado a intenção do governo brasileiro de fazê-lo, na chegada aos EUA. "Eu não disse que o objetivo principal da viagem era esse. Possibilidades sempre existem."
Durante a entrevista, Malan argumentou que a nova política cambial reduz a necessidade de o Brasil recorrer a ajuda externa: "A demanda por assistência financeira não tem a mesma importância, sob um regime de câmbio flutuante, de quando você estava tentando defender uma determinada taxa".
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida no FMI:

INFLAÇÃO - Malan planeja uma inflação inferior a 10% neste ano. "As estimativas não são só nossas, mas do mundo acadêmico e do setor privado, e estão na faixa de um dígito. Ouvi de 6% a 8%", disse.

MEDIDAS ADICIONAIS - O ministro anunciou a adoção de medidas adicionais para ajustar a economia à desvalorização do real, mas não deu detalhes.
"Não tenho condições de especificar quais são essas medidas, mas estaremos trabalhando nisso internamente e discutindo com o Fundo, o BID e o Banco Mundial ao longo das próximas semanas."

NOVAS ÂNCORAS - "Muita coisa vai depender da nossa determinação na condução das políticas fiscal e monetária, que passam a ser as grandes âncoras do processo de estabilização da economia."

RECESSÃO - "É muito cedo para fazer uma previsão", disse o ministro sobre o crescimento da economia neste ano. Antes, o governo previa uma queda de 1% no PIB.

REVISÃO DAS METAS - O ministro insistiu que o governo não poupará esforços para cumprir as metas fiscais acertadas com o FMI em novembro passado. Mas a mudança na política cambial impõe a revisão de vários pontos do acordo. Não será um trabalho rápido e depende ainda de um cenário mais claro do futuro da economia.

AVAL À POLÍTICA CAMBIAL - Depois de mais de 20 horas de reuniões com autoridades do FMI, Malan anunciou o aval à nova política cambial. "Eles foram convencidos com argumentos de que esse regime (de flutuação) é o mais apropriado para o Brasil nas atuais circunstâncias desde que acompanhado pelas apropriadas políticas fiscal e monetária."

FMI DENTRO DE CASA - O Fundo deverá abrir um escritório no Brasil, anunciou Malan.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.