|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INCLUSÃO
Firmas passam por conflito entre informações transmitidas por uma mesma DRT sobre a aplicação da regra
Governo terá que fazer cartilha para orientar empresas
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério do Trabalho, em
parceria com a OIT (Organização
Internacional do Trabalho) e o
Ministério Público do Trabalho,
deve elaborar uma cartilha ou
manual para orientar as empresas
e os órgãos públicos na contratação de portadores de deficiência.
As dúvidas e os conflitos sobre a
legislação que estipula reserva de
vagas para esse tipo de pessoa são
muitos, como reconhece o próprio Ministério do Trabalho.
Não existe um banco de dados
sobre a mão-de-obra portadora
de deficiência por Estado. As
DRTs (Delegacias Regionais do
Trabalho) de São Paulo, do Rio
Grande do Norte e do Rio Grande
do Sul são as que possuem mais
informações sobre as PPDs (pessoas portadoras de deficiência).
A coordenação da ação de inserção dessas pessoas no mercado
de trabalho passou para a Secretaria de Inspeção do Trabalho do
Ministério do Trabalho no final
de janeiro deste ano. Até então, o
assunto era coordenado pela Assessoria Internacional do Ministério do Trabalho dentro do programa de igualdade de oportunidades, com base na OIT.
"Os programas e as leis para inclusão são interessantes. Mas é
preciso tomar cuidado para que
não se desprendam da realidade",
diz Luis Carlos Moro, advogado
especializado em trabalho.
A lei que obrigou os motoristas
a usarem cinto de segurança, na
avaliação de Moro, teve sucesso
porque os carros passaram a ser
comercializados com cinto e houve conscientização da sociedade
de que era melhor usar o cinto.
No caso dos portadores de deficiência, a lei obriga a contratação
a qualquer custo. "O deficiente
tem de se sentir útil, não humilhado, contratado só para a empresa
não pagar multa", afirma Moro.
Na sua análise, ao mesmo tempo em que deve fiscalizar, o Estado tem de ajudar as empresas a
qualificar esse pessoal. "O próprio
Estado não cumpre a legislação. O
concurso público acaba funcionando como pretexto para o não-cumprimento das cotas."
"Cumprimos a lei na medida
em que reservamos um percentual da vagas no edital para a realização de concurso público. Só
que, como os PPDs não passam
nos concursos, as cotas não são
cumpridas", afirma a procuradora do Trabalho Adélia Augusto
Domingues.
Além da falta de PPDs qualificados no mercado, as empresas têm
de passar, segundo informa Neusa Neves, diretora da área de recursos humanos da consultoria
Mercer Human Resource Consulting, por conflito de informações
na DRT. "Cada vez que vamos à
DRT saímos com uma informação diferente", afirma a diretora.
Até agora, a Mercer, que tem
210 empregados e já recebeu carta
para cumprir a lei de cotas, não
sabe se precisa ter seis ou sete
PPDs. É que a sua cota é de 3% sobre o total de empregados, que resulta na obrigação de contratar
6,3 PPDs. "Uns dizem que são seis
pessoas. Outros, sete", diz.
Como falta mão-de-obra especializada -a Mercer tem vagas
abertas para economistas, administradores de empresas e estatísticos-, a consultoria optou por
contratar pessoas que não trabalham no negócio da empresa. Admitiu, por exemplo, uma massoterapeuta só para cumprir a lei. A
Mercer está à procura de mais
cinco ou seis PPDs.
Adilson Ventura, presidente do
Conselho Nacional dos Direitos
das Pessoas Portadoras de Deficiência, diz que há falta desse tipo
de mão-de-obra porque não existe uma política nacional para incluir as PPDs no mercado.
"As empresas podem qualificar
os portadores de deficiência, mas
o governo também tem de destinar verbas para essas pessoas especiais que não querem só emprego. Querem ser úteis para a
empresa", afirma Ventura.
A procura por portadores de
deficiência, segundo informa Moro, já resultou em salários mais altos para PPDs mais qualificados.
"Tem portador de deficiência
sendo contratado a peso de ouro." Moro tem uma cliente com
doença degenerativa, que vai levá-la a utilizar cadeira de rodas,
que está sendo disputada por empresas. "O cadeirante que for esperto e se qualificar vai ter vantagens incríveis."
(FÁTIMA FERNANDES)
Texto Anterior: Luís Nassif: O grande intérprete do Brasil Próximo Texto: Inclusão: Indústria farmacêutica de SP faz 1º acordo para deficientes Índice
|