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VAREJO
Apesar de alta no consumo, deflação derruba resultados das redes no país, que engordaram estrutura nos anos 1990
Supermercados demitem e fecham pontos
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Está em curso um delicado processo de reestruturação do negócio de supermercados no país. É o
primeiro grande movimento simultâneo nesse sentido, após a fase de gastança milionária das empresas em aquisições nos anos 90
-e visível até mesmo aos consumidores.
As maiores lojas do país cortam
pessoal, fecham lojas do dia para a
noite, decidem reorganizar seus
centros de despesas e até mesmo a
rever o atual modelo dos pontos-de-venda -da cor da parede da
loja à distribuição das gôndolas.
Tantas mudanças ocorrem apesar do aumento no volume vendido de mercadorias nas lojas no
país. Segundo a consultoria ACNielsen informou na última semana, a venda de alimentos, itens
de higiene e beleza e de limpeza
cresceu 4,8% em 2005. Em janeiro, aumentou 5,7%.
O Pão de Açúcar, por exemplo,
emitiu 523 milhões de tíquetes de
venda em 2005 -5,2 milhões a
mais do que em 2004.
O problema não passa, portanto, pelo volume. A questão é que
volume maior comercializado
não é sinal de que o negócio vá
bem. Por mais que se venda, o
brasileiro está gastando menos a
cada compra. A deflação ajuda
nisso. A busca dos consumidores
por itens mais baratos também.
Portanto, a empresa embolsa
valores menores pela quantidade
comercializada. Basta colocar na
ponta do lápis: o brasileiro gastou
9% mais dinheiro em compras
nessas lojas em 2005. Tirando daí
a inflação, o ganho real ficaria entre 4% e 5%.
Mas uma olhada nos números
mostra que as redes no Brasil nem
isso têm crescido.
O Carrefour, que fatura R$ 12
bilhões ao ano, cresceu, sem considerar a inflação, 2,1% em 2005,
segundo balanço mundial. Portanto, a venda real fica negativa.
No Pão de Açúcar, há 11 meses,
desde abril de 2005, a venda da rede deflacionada pelo IPCA registra redução. A margem Ebitda, no
entanto, um indicador de saúde
das operações da empresa, cresceu no ano passado, após três
anos de estabilidade.
"Crise não há. O que existe é
uma necessidade urgente de fazer
ajustes em cima de uma estrutura
que engordou no passado", afirma Nelson Barrizelli, professor de
administração de empresas da
FEA-USP e especialista em varejo.
"O que eles querem é jogar mais
oxigênio no negócio, cortar custos e repassar isso para o cliente.
Mas, aí, não da boca para fora.
Eles precisam fazer isso porque o
Wal-Mart entrou no jogo e quer o
mercado deles", diz Alexandre
Garcia, analista da área da corretora Ágora Senior.
Nesse cenário, não teve jeito: o
Pão de Açúcar começou a demitir
pessoal e deve continuar a fazê-lo
nas próximas semanas. Ao contrário da última "enxugada", em
2001, quando o corte atingiu 550
funcionários, esse deve ser menor
e acontecerá aos poucos, segundo
apurou a Folha.
Não há números fechados. Em
um ano, de 2004 ao final de 2005,
a empresa fechou 17 lojas, mas
abriu 22. Implantou ainda uma
política de "Orçamento Base Zero", com forte controle nas despesas, e fez algo um tanto quanto básico para os analistas de cobrem a
área. Decidiu centralizar a compra de produtos e serviços -por
exemplo, material de escritório.
"Difícil imaginar como uma
empresa como essa não tinha feito algo assim antes", diz Garcia.
"Poderíamos ter feito antes algumas coisas, até poderíamos. Não
fizemos e estamos fazendo agora", afirma Hugo Betlhem, um
dos executivos mais antigos do
Pão de Açúcar e diretor da rede
Sendas/CompreBem.
Na concorrência, há um plano
de reestruturação no Carrefour
oficialmente informado pela matriz em 2003, "visando reduzir a
dívida e elevar o pagamento de dividendos aos acionistas da rede
[no exterior]".
Dentro do planejamento, a empresa anunciou, no balanço anual
de 2005, que fechará parte das
suas lojas Champion -em um
ano, de 2004 a 2005, o total passou
de 97 para 35 pontos- e transformará as lojas que restarem na
bandeira "Carrefour Bairro".
O consumidor percebe tudo isso. No final do ano passado, clientes de Bebedouro (SP), São José
do Rio Preto (SP) e Votuporanga
(SP) foram ao Champion das cidades. Encontraram um cartaz na
porta informando o fechamento.
A modernização dos pontos
prevê mudanças na ocupação de
espaços pelas gôndolas, introdução de produtos e de nova comunicação visual interna, além da
ampliação do setor de serviços e
de conveniências.
Só com esses fechamentos, que
implicam custos, a empresa gastou 196 milhões, segundo a matriz. Foi o maior gasto em reformulação de loja do ano passado
-no Leste Europeu, o segundo
maior, atingiu 63 milhões.
Maior empresa de varejo do
mundo, o Wal-Mart não fornece
dados a respeito de sua saúde financeiro. Diz apenas "que cresce
acima da inflação", segundo Wilson Mello Neto, vice-presidente
de Assuntos Corporativos da rede
Wal-Mart Brasil.
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