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EUA ficam com juros reais negativos
Fed baixa taxa básica em 0,75 ponto percentual, para 2,25%, com inflação em 2,3%, reanimando as Bolsas pelo mundo
Bush acena com "novas ações, se necessário'; para Nouriel Roubini, redução nos juros indica que
país já está em recessão
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em mais uma tentativa de
golpear a recessão que ronda a
economia norte-americana e
reanimar os mercados, o Federal Reserve (o banco central
dos EUA) baixou a taxa básica
de juros dos EUA em 0,75 ponto percentual, para 2,25%. É o
sexto corte desde setembro
passado, quando a crise imobiliária começou a contaminar
outros setores.
A medida reanimou os mercados após as fortes perdas da
véspera. A Bolsa de Nova York
subiu 3,5%, e a Bovespa, 3,2%.
Agora, a taxa se iguala à de
dezembro de 2004. "A ação deve ajudar a promover um crescimento moderado por algum
tempo e amenizar os riscos da
atividade econômica", afirma o
Fed, em comunicado. "Os riscos para o crescimento, no entanto, continuam." Na mesma
reunião, a autoridade monetária americana baixou a taxa de
redesconto em 0,75 ponto percentual, para 2,50%.
Com a ação de ontem, a economia americana passou a ter
juros reais negativos. Ou seja,
descontada a média da inflação
dos últimos 12 meses, o total é
menor que zero -a taxa de inflação norte-americana atual é
de 3,1%, e o núcleo da inflação,
de 2,3%, ante os 2,25% da nova
taxa de juros.
"É isso o que acontece quando você tem uma recessão, e a
última vez que isso ocorreu foi
logo após o 11 de Setembro de
2001", disse à Folha o economista Nouriel Roubini, conhecido por sua visão pessimista.
Esse último período citado por
ele acabaria no final de 2004.
Como o cálculo do índice de
preços ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês)
mudou nos últimos anos, não é
possível apontar com certeza
todas as outras vezes em que isso aconteceu, mas é consenso
que ocorreu no auge da crise do
petróleo nos anos 1970 e na
Grande Depressão dos anos
1920 e 1930. Para Roubini, o
país está num ciclo recessivo
que deve durar 18 meses, ao final do qual Ben Bernanke, presidente do Fed, terá baixado os
juros para perto de zero.
Com ele concordam diversas
projeções de cortes futuros feitas tão logo o novo índice foi divulgado. O Goldman Sachs
acredita em juros de 2% ao final do ano, número idêntico ao
previsto pelo Citibank para o
meio do ano e que baixa para
1,75% para o JPMorgan.
A medida foi tomada para
baratear o dinheiro disponível
no mercado e tentar conter a
diminuição da oferta de crédito
ao consumidor final pelas instituições financeiras, estimulando a economia. Com isso,
traz embutida o risco de um
aumento da inflação, daí a decisão não ter sido unânime.
Dos dez votantes, o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, e o da Filadélfia,
Charles Plosser, "preferiam
uma ação menos agressiva", segundo a ata do Comitê Federal
de Mercado Aberto (Fomc, na
sigla em inglês).
A preocupação com a inflação foi registrada pela ata, mas
não é a principal. "A inflação
subiu, e alguns indicadores de
projeção de inflação também."
Mas o comitê diz esperar "inflação moderada nos próximos
trimestres". Ainda assim, afirma que "aumentou a incerteza
sobre as perspectivas de inflação" e que será preciso "continuar monitorando atentamente a evolução dos preços".
A reunião de ontem mais as
ações dos últimos dias levaram
analistas a se perguntar se as
duas armas básicas do Fed, mexer nas taxas e injetar dinheiro
na economia, não são limitadas
demais para lidar com a complexidade da economia globalizada atual. "Não espere outros
arroubos heterodoxos como o
empréstimo de US$ 30 bilhões
feito a uma só instituição", disse Roubini, citando a compra
do Bearn Stearns pelo JPMorgan com apoio do Fed.
"Qualquer coisa que fizerem", disse à Folha Mark
Weisbrot, do progressista Centro para Pesquisa Econômica e
de Políticas, de Washington,
"ficará a impressão de que, para essa administração, os banqueiros são mais importantes
do que o cidadão comum."
Bush
Respondendo a essa preocupação do mercado, o presidente
George W. Bush voltou a acenar, em discurso em Jacksonville, na Flórida, com novas medidas. "Se houver necessidade
para novas ações, nós a tomaremos", disse. Fará isso, afirmou,
"de uma maneira que não danifique a saúde de longo prazo de
nossa economia".
Bush não foi claro ao que se
referia, mas políticos em Washington acreditam que era uma
resposta velada às propostas de
pacotes feitas nas últimas horas por lideranças da oposição
democrata e pelos dois pré-candidatos do partido à sucessão na Casa Branca, Hillary
Clinton e Barack Obama. Um
dos pontos comuns é o perdão
da dívida de mutuários inadimplentes que se encaixem em
certas condições, o que é visto
com maus olhos pela equipe
econômica da Casa Branca.
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