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análise
Diferencial de juro estimula especulação
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com juros reais negativos
nos EUA, o Brasil fica ainda
mais atraente para o investidor estrangeiro por conta do
diferencial entre os juros internacionais e os locais. Os
títulos do governo brasileiro
pagam hoje uma média de
sete pontos percentuais a
mais que os papéis do Tesouro americano, já descontadas
as respectivas inflações.
No caso da Bolsa, o país
também pode oferecer perspectivas melhores de retorno para as empresas, considerando que a economia
americana enfrenta -ou caminha para- uma recessão,
com crescimento anual previsto de 1%, enquanto no
Brasil a previsão é de alta de
5% do PIB.
Os efeitos de curto prazo
desse diferencial de juros na
economia se traduzem em
uma apreciação do real, que
se soma a uma desvalorização internacional do dólar
-política que ajuda os EUA a
venderem mais no exterior e
a atraírem capitais, financiando o fim da recessão.
Quando entra no Brasil, o
estrangeiro lucra duas vezes:
primeiro, com o retorno
maior, seja por juro alto ou
alta das ações; depois, com o
câmbio, já que o real tem
comprado sempre mais dólares meses depois, na saída.
O esquema permite uma
das operações financeiras
mais rotineiras envolvendo
países emergentes, o chamado "carry trade". Investidores emprestam dinheiro com
juro baixíssimo nos EUA,
Europa e Japão para investir
em emergentes como Brasil,
Leste Europeu e Turquia.
Com o ganho no país emergente, pagam o empréstimo
original e ainda embolsam
uma soma considerável.
"A redução dos juros nos
EUA torna ainda maior o
nosso diferencial de taxa.
Além de um porto seguro, o
Brasil ainda paga sete pontos
percentuais a mais de juros.
Isso vai trazer mais dólares.
Não sei como o governo pensa em equacionar a questão
cambial", disse Jason Vieria,
da UpTrend.
E esse quadro pode ser
acentuado, caso o Banco
Central brasileiro resolva subir os juros para conter eventual pressão inflacionária,
como sinalizou o Copom. "A
ata do Copom foi alarmista.
Não há motivo para subir o
juro. Os outros países estão
baixando os juros, e não há
perspectiva de aumento inflacionário", disse Alcides
Leite, da Trevisan.
Leite reconhece que o diferencial de juros existe, mas
relativiza seu impacto em
momentos de turbulência.
Ele afirma que o diferencial
servirá para "tapar o buraco"
que se abre com o aumento
da aversão ao risco, que prejudica o Brasil. "Um anula o
outro, e fica na mesma. O diferencial de juros é grave,
mas não maior do que já era."
Para Fernando Blanco,
presidente da Coface, empresa de seguro de crédito, o
governo brasileiro não deixará o país virar um "cassino" para especulação com diferencial de juros. "Quem vai
peitar um Banco Central
com US$ 190 bilhões de reservas? O governo já mostrou que está atento e não vai
deixar a moeda se fortalecer
por uma questão temporária.
Depois que o mundo se regulariza, esse dinheiro sai e
causa volatilidade. O país é
um porto seguro porque a
economia está blindada."
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