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Fed fará injeção trilionária de dinheiro na economia
BC dos EUA surpreende e anuncia mais medidas para ampliar oferta de crédito
Entre as decisões, está a de comprar até US$ 300 bi em
títulos do Tesouro, que terá
mais recursos para agir; anúncio fez Bolsas subirem
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O Federal Reserve (ou Fed, o
banco central dos Estados Unidos) surpreendeu ontem ao
anunciar mais uma injeção trilionária de dinheiro novo no
mercado norte-americano.
O objetivo é restaurar ou ampliar a oferta de dinheiro a bancos, empresas e companhias de
crédito imobiliário, protagonistas da maior crise econômica desde a década de 1930.
Na prática, o Fed poderá imprimir mais de US$ 1 trilhão para comprar títulos do Tesouro
norte-americano e outros papéis lastreados em dívidas imobiliárias já garantidos também
pelo Tesouro.
Com isso, abre espaço para
novas intervenções do Tesouro, à medida que injeta capital
nele e oferece mais liquidez (dinheiro) para operações de refinanciamento de imóveis nos
Estados Unidos.
O banco central norte-americano pretende comprar até
US$ 300 bilhões em títulos de
longo prazo do Tesouro pelos
próximos seis meses e cerca de
US$ 750 bilhões em papéis garantidos por dívidas imobiliárias (além dos US$ 500 bilhões
que já está adquirindo).
O anúncio ocorre após uma
expansão sem precedentes nas
compras desses tipos de título
que o Fed vem fazendo desde
meados de setembro, quando o
pior da atual crise começou. De
lá para cá, o balanço do Fed
com essas compras praticamente dobrou, de US$ 900 bilhões para US$ 2 trilhões.
Agora, em um novo esforço
para "azeitar" o mercado de
crédito, mais US$ 1 trilhão será
acrescentado.
A decisão do Fed foi anunciada depois de dois dias de sua
reunião periódica. Foi unânime. "Perdas de empregos, queda nos valores nos mercados de
ações e imobiliário e aperto na
oferta de crédito vêm pesando
sobre os gastos e a confiança
dos consumidores", afirmou o
Fed em comunicado. "Vamos
empregar todas as ferramentas
possíveis para promover a recuperação econômica e o controlar da inflação."
Juro e reação
O Fed também manteve o juro básico no país (a Selic americana) próximo de zero. Segundo o Fomc (Comitê de Política
Monetária do Fed), "informações recebidas desde janeiro
indicam que a economia continua se contraindo".
Os anúncios provocaram
uma virada na Bolsa de Nova
York, que passou a operar em
alta logo depois de anunciadas
as medidas. O índice Dow Jones fechou em alta de 1,23%, o
S&P 500, de 2%%, e o da Bolsa
eletrônica Nasdaq, de 2%. No
Brasil ocorreu o mesmo.
As decisões do Fed foram tomadas depois de o Departamento do Trabalho anunciar
que a inflação de janeiro subiu
0,4%. Anualizada, a evolução
dos preços segue dentro da meta informal do Fed, de cerca de
2% ao ano.
Isso mantém, ao menos por
enquanto, o espaço para injetar
liquidez na economia (quanto
mais dinheiro disponível em
qualquer mercado, maior a tendência de aumento dos preços,
já que haverá mais recursos sobrando para comprar os produtos disponíveis).
O anúncio da injeção adicional de US$ 1 trilhão em dinheiro novo no mercado também
derrubou as remunerações pagas tanto pelos títulos do Tesouro quanto aos papéis garantidos por dívidas imobiliárias. A
remuneração para os títulos de
dez anos do Tesouro caiu para o
menor patamar desde janeiro
de 1962.
Europa
Na Europa, o empresariado
também defendeu ontem mais
injeção de recursos na economia. O setor pediu que a cúpula
do G20, a realizar-se dia 2 de
abril em Londres, injete dinheiro diretamente na veia das
empresas não-financeiras, por
meio da compra de títulos de
dívida de curto prazo dessas
companhias.
Seria a única maneira de restabelecer o crédito, paralisado
desde a quebra do Lehman
Brothers, há seis meses, "o que
está levando à falência a atividade empresarial em toda a Europa e também afeta empresas
que não estavam ligadas de maneira nenhuma à crise bancária", diz comunicado do BusinessEurope, que diz falar em
nome de 20 milhões de companhias.
Colaborou CLÓVIS ROSSI,
colunista da Folha , em Londres
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