São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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Fed fará injeção trilionária de dinheiro na economia

BC dos EUA surpreende e anuncia mais medidas para ampliar oferta de crédito

Entre as decisões, está a de comprar até US$ 300 bi em títulos do Tesouro, que terá mais recursos para agir; anúncio fez Bolsas subirem


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Federal Reserve (ou Fed, o banco central dos Estados Unidos) surpreendeu ontem ao anunciar mais uma injeção trilionária de dinheiro novo no mercado norte-americano.
O objetivo é restaurar ou ampliar a oferta de dinheiro a bancos, empresas e companhias de crédito imobiliário, protagonistas da maior crise econômica desde a década de 1930.
Na prática, o Fed poderá imprimir mais de US$ 1 trilhão para comprar títulos do Tesouro norte-americano e outros papéis lastreados em dívidas imobiliárias já garantidos também pelo Tesouro.
Com isso, abre espaço para novas intervenções do Tesouro, à medida que injeta capital nele e oferece mais liquidez (dinheiro) para operações de refinanciamento de imóveis nos Estados Unidos.
O banco central norte-americano pretende comprar até US$ 300 bilhões em títulos de longo prazo do Tesouro pelos próximos seis meses e cerca de US$ 750 bilhões em papéis garantidos por dívidas imobiliárias (além dos US$ 500 bilhões que já está adquirindo).
O anúncio ocorre após uma expansão sem precedentes nas compras desses tipos de título que o Fed vem fazendo desde meados de setembro, quando o pior da atual crise começou. De lá para cá, o balanço do Fed com essas compras praticamente dobrou, de US$ 900 bilhões para US$ 2 trilhões.
Agora, em um novo esforço para "azeitar" o mercado de crédito, mais US$ 1 trilhão será acrescentado.
A decisão do Fed foi anunciada depois de dois dias de sua reunião periódica. Foi unânime. "Perdas de empregos, queda nos valores nos mercados de ações e imobiliário e aperto na oferta de crédito vêm pesando sobre os gastos e a confiança dos consumidores", afirmou o Fed em comunicado. "Vamos empregar todas as ferramentas possíveis para promover a recuperação econômica e o controlar da inflação."

Juro e reação
O Fed também manteve o juro básico no país (a Selic americana) próximo de zero. Segundo o Fomc (Comitê de Política Monetária do Fed), "informações recebidas desde janeiro indicam que a economia continua se contraindo".
Os anúncios provocaram uma virada na Bolsa de Nova York, que passou a operar em alta logo depois de anunciadas as medidas. O índice Dow Jones fechou em alta de 1,23%, o S&P 500, de 2%%, e o da Bolsa eletrônica Nasdaq, de 2%. No Brasil ocorreu o mesmo.
As decisões do Fed foram tomadas depois de o Departamento do Trabalho anunciar que a inflação de janeiro subiu 0,4%. Anualizada, a evolução dos preços segue dentro da meta informal do Fed, de cerca de 2% ao ano.
Isso mantém, ao menos por enquanto, o espaço para injetar liquidez na economia (quanto mais dinheiro disponível em qualquer mercado, maior a tendência de aumento dos preços, já que haverá mais recursos sobrando para comprar os produtos disponíveis).
O anúncio da injeção adicional de US$ 1 trilhão em dinheiro novo no mercado também derrubou as remunerações pagas tanto pelos títulos do Tesouro quanto aos papéis garantidos por dívidas imobiliárias. A remuneração para os títulos de dez anos do Tesouro caiu para o menor patamar desde janeiro de 1962.

Europa
Na Europa, o empresariado também defendeu ontem mais injeção de recursos na economia. O setor pediu que a cúpula do G20, a realizar-se dia 2 de abril em Londres, injete dinheiro diretamente na veia das empresas não-financeiras, por meio da compra de títulos de dívida de curto prazo dessas companhias.
Seria a única maneira de restabelecer o crédito, paralisado desde a quebra do Lehman Brothers, há seis meses, "o que está levando à falência a atividade empresarial em toda a Europa e também afeta empresas que não estavam ligadas de maneira nenhuma à crise bancária", diz comunicado do BusinessEurope, que diz falar em nome de 20 milhões de companhias.


Colaborou CLÓVIS ROSSI, colunista da Folha , em Londres


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