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DÉCADA REAL
Autuações contra instituições financeiras recuam de 587 em 1994 para 72 em 2003; sistema é mais sólido, diz governo
Cai o número de punições do BC contra bancos
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O número de punições que o
Banco Central impõe a instituições financeiras e a seus dirigentes caiu consideravelmente se
comparado com o início do Plano
Real, em meados dos anos 90.
Em 1994 e em 1995 o BC abriu,
respectivamente, 587 e 429 processos que resultaram em punições. Em 2003 e em 2002, os processos que geraram punições caíram para 72 e 88, respectivamente. Entre as penas aplicadas pelo
BC estão a inabilitação de dirigentes para comandar instituições financeiras e a cobrança de multas.
Até 2000, quando chegaram a
215, os processos que resultaram
em punições ficavam acima de
100. Caíram para 33 em 2001.
O diretor de Fiscalização do
Banco Central, Paulo Sérgio Cavalheiro, atribui a queda no número de processos à otimização
do trabalho do BC, ao menor número de instituições e à maior solidez do sistema financeiro.
A Diretoria de Fiscalização do
BC já foi muito criticada no passado por não ter evitado grandes
fraudes e quebras de bancos, como as do Nacional e do Econômico, no início do Real, e a do caso
Marka e FonteCindam, em 1999.
Antes de 2000, havia apenas um
funcionário na Fiscalização do BC
responsável por abrir ou não a
maioria dos processos administrativos contra os bancos.
Segundo Cavalheiro, isso muitas vezes gerava distorções. Com
receio de ser acusado de leniência
ou de favorecimento, o responsável pelo caso instaurava processos
mesmo sem necessidade. "Havia
uma banalização", disse o chefe
do Departamento de Combate a
Ilícitos Cambiais e Financeiros do
BC, Ricardo Liao.
Em 2000, o BC criou o Comitê
de Instauração de Processos Administrativos, centralizado em
Brasília. É composto por 15 integrantes. Cavalheiro disse que o
comitê tornou mais objetiva a
análise dos casos acompanhados
pela Fiscalização, evitando aberturas desnecessárias de processos.
Cavalheiro lembra também que
o número de instituições financeiras em operação no Brasil tem
caído ano a ano. Isso cria dois
efeitos, segundo ele. Há menos
bancos, corretoras e distribuidoras de valores para fiscalizar.
Além disso, o sistema financeiro
tende a se tornar mais sólido, uma
vez que as instituições mais fracas
deixam o mercado, seja porque
foram compradas, fundiram-se
ou porque se tornaram operacionalmente inviáveis.
Em 1998, havia 813 instituições
financeiras no país. No ano passado eram apenas 652.
De acordo com Cavalheiro, o
modo de trabalho da Fiscalização
hoje é de supervisão do sistema financeiro. "Fazemos um trabalho
mais preventivo. Acompanhamos a saúde financeira das instituições para evitar desequilíbrios
que afetem o sistema", disse.
Excesso de normas
No passado, quando ainda não
havia o sistema de metas de inflação, a Fiscalização era obrigada a
criar uma série de normas, cujo
objetivo era "complementar" a
política monetária, lembram Liao
e Cavalheiro.
Na década de 80, o BC operava
com o sistema de agregados monetários, pelo qual se controla a
quantidade de dinheiro em circulação na economia. Além disso, os
anos 80 foram marcados pela hiperinflação.
Uma série de indexadores de
preços era utilizada na economia
e precisava ser respeitada pelos
bancos. Cavalheiro cita os exemplos da correção dos balanços das
instituições financeiras e de contratos imobiliários. "Havia contratos corrigidos pela ORTN
[Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional]. Outros pela OTN
[Obrigação do Tesouro Nacional]. Se o banco empregasse um
indexador diferente daquele exigido pelas normas do BC, isso geraria um processo", disse.
Em 1990, o BC editou 507 normas. No ano passado, foram 186.
Um número reduzido de normas
significa menor possibilidade de
regras a serem desrespeitadas. Logo, segundo ele, menos processos
administrativos abertos.
"Havia um volume absurdo de
normas a cada momento, o que
gerava distorções. A Fiscalização
tinha que se ater a detalhes, ver se
as normas estavam sendo cumpridas. Mas não havia relação entre cumprimento de norma e solidez do sistema financeiro", disse
Alberto Borges Matías, da ABM
Consulting.
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