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TRABALHO
Empresa que não dará reajuste é incluída nas listas de acordos divulgada
Sindicato da Força Sindical "turbina" acordos salariais
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os acordos salariais de emergência feitos pelo Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo (Força
Sindical) para repor as perdas
causadas pela inflação não são o
que parecem. Os números foram
exagerados para mostrar o poder
de fogo da central e pressionar
mais indústrias a concederem antecipação salarial de 10%.
Empresas foram incluídas nas
listas de acordos divulgadas diariamente pelo sindicato quando
ainda negociavam a reposição ou
tinham feito apenas acordos "no
fio de bigode" (na confiança). Algumas das listadas nem sequer
têm intenção de dar reajuste.
Os 1.773 acordos feitos em 48
dias para 177,4 mil metalúrgicos,
como informa o sindicato -número considerado "fenômeno"
até por sindicalistas da central-,
incluem empresas representadas
em acordos fechados por setor.
Não são por fábrica, como anunciado especialmente no início da
campanha salarial de emergência,
que começou em 26 de março.
O que o sindicato fez foi somar
empresas representadas em acordos com sindicatos patronais, as
que sinalizaram com possíveis
acordos, as que fizeram negociação apenas verbal e as que de fato
formalizaram o acordo para mostrar sucesso nos números.
Mesmo levando em conta as
1.036 empresas que integram os
acordos por setor (máquinas, distribuição de produtos siderúrgicos, fundição e autopeças), há
uma diferença de 600 empresas.
É que, até a última sexta-feira, a
Folha teve acesso a nomes de apenas 137 empresas que teriam feito
acordo. Esse número foi obtido a
partir de material divulgado pelo
sindicato. A reportagem solicitou
várias vezes a lista completa das
indústrias que fizeram acordos.
O presidente do sindicato, Eleno José Bezerra, disse há dez dias
que estava preparando a documentação sobre os acordos para
levar à Folha. Não o fez até o fechamento desta edição.
No dia 11 de abril, o sindicato divulgou que havia feito até aquela
data -ou seja, em 17 dias- 1.031
acordos: uma média de 60 acordos por dia. Para que isso tivesse
ocorrido, nenhuma empresa poderia ter dito "não" ao sindicato
no período.
"Subidinha"
"A papelada que envolveria a
formalização desses acordos é
enorme. Um sindicato não consegue fechar mil acordos em menos
de 20 dias", diz Dráusio Rangel,
negociador do Sindipeças (reúne
autopeças). Três dirigentes da
Força, que preferiram não se
identificar por temerem retaliações políticas, confirmaram à Folha a "subidinha" nos números.
Contam que houve um boom na
abertura de negociação, mas só
uma parte resultou em acordos.
Ao consultar metade dessas 137
empresas divulgadas pelo sindicato, a Folha constatou que são
raros os casos em que a antecipação de 10% foi concedida de uma
só vez, como o sindicato dava a
entender no início da campanha.
As indústrias e o sindicato parcelaram os reajustes em até quatro
vezes. Isto é, os 10% "cheios" só
incidirão mesmo sobre os salários
a partir do quarto mês de reajuste.
O abono, criticado pelo sindicato dos metalúrgicos por ser estratégia usada pela rival CUT, também fez parte, sim, dos acordos da
Força, no caso de salários mais altos desde início da campanha. E,
na última quinta-feira, o sindicato
aceitou o abono por setor: fechou
acordo com o Sindipeças, com intermediação da Justiça do Trabalho, que vai valer para 325 empresas e 17 mil trabalhadores.
A Electron, uma das empresas
que está na lista das que fecharam
acordo de antecipação, diz que fez
uma negociação informal com o
sindicato. "Uma coisa é dizer que
concordo com o aumento de 10%.
Outra é assinar um papel que estabelece um reajuste em tantas vezes e vencimentos. O fato é que
não fechei acordo com o sindicato
nem temos condições de dar esse
aumento agora", diz Christine
Ritter Von Weiss, sócia da metalúrgica Electron.
A autopeças Mauser é outra que
foi incluída na lista do sindicato
sem ter feito acordo. Wagner Ribeiro, gerente, informa que havia
uma proposta de acordo até a última quinta-feira, quando foi feita
uma assembléia na fábrica. Os
funcionários aprovaram o pagamento de 10% de antecipação em
três vezes. O sindicato, porém, divulgou em e-mail enviado à Folha
no dia 16 de abril que já havia fechado acordo com essa empresa.
Para José Roberto Mello, gerente da Rolamentos Fag, o movimento por reajuste, que levou o
principal sindicato da Força ao
noticiário, também tem objetivo
político. "As cartas também estão
sendo colocadas na mesa em razão das eleições no ano que vem",
diz, ao se referir ao fato de o presidente da central, Paulo Pereira da
Silva, estar interessado na vaga de
prefeito de São Paulo.
Na ponta do lápis
A pedido da Folha, economistas
compararam os acordos de antecipação com os de abono, considerando um salário de R$ 1.000
em março. No caso de a antecipação ser três parcelas de 3,23% (sobre o salário do mês anterior), o
trabalhador recebe R$ 12.430,43
(valor nominal) em 12 meses. No
caso do abono (R$ 900 pagos em
duas vezes), receberá R$ 12.900. A
diferença é de R$ 469,57. Considerando nesses cálculos férias,
FGTS, 13º e Imposto de Renda, a
diferença cai para R$ 116,03.
Ao divulgar que conquistou em
média 10% de antecipação, o sindicato reforçou a idéia de que alguns reajustes foram superiores a
esse percentual. Não foi o que
ocorreu. O máximo foi 10%.
Na Rayton, os 8,5% são divididos em maio, junho e julho para
quem ganha até R$ 1.800. Na Fanandre, 7% em junho, julho e
agosto para quem recebe até R$
2.200. A Samot foi a única indústria, entre as consultadas pela Folha, que concedeu a antecipação
de 10% de uma vez só em maio.
Sem registro
O sindicato dos metalúrgicos
informa que fez esse montante de
acordos, mas não há comprovação pública de que existem -não
foram registrados na Delegacia
Regional do Trabalho. Para o sindicato, não é preciso. O Ministério
do Trabalho não pensa assim.
"Para ter força e serem fiscalizados, precisam ser registrados", diz
Nelson Santos, do ministério.
Se um trabalhador recorrer à
Justiça para cobrar uma antecipação acertada e não paga, diz, ele
terá de mostrar o protocolo do registro do acordo na DRT.
A Associação dos Advogados
Trabalhistas de São Paulo encaminhou há uma semana ofício ao
sindicato e à DRT para obter cópia dos acordos para poder prestar serviços aos trabalhadores, caso queiram recorrer à Justiça.
Ainda não obteve resposta.
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