São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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ENERGIA

Para reduzir "risco Bolívia", Petrobras elevará produção e testará álcool como substituto em usinas; diesel poderá incluir óleo vegetal

Governo cria plano contra dependência de gás

Ana Marques/Folha Imagem
José Sérgio Gabrielli (Petrobras) e Silas Rondeau (Minas e Energia) anunciam oferta adicional de gás


HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PATRÍCIA ZIMMERMANN
DA FOLHA ONLINE

A Petrobras anunciou ontem que irá aumentar a oferta de gás natural produzido no Brasil em 24,2 milhões de metros cúbicos por dia a partir de 2008. O Brasil continuará importando gás boliviano, mas o aumento da demanda nos próximos anos poderá ser atendido por gás do país. O gás adicional virá de novas descobertas na bacia do Espírito Santo.
"Nós temos um contrato com a Bolívia, que eu espero que esteja em vigor até 2019, para transporte de 30 milhões de metros cúbicos por dia, que nós transportamos hoje 25 milhões. Esse contrato está em vigor e continuará em vigor. Nós estamos falando em 24,2 milhões de metros cúbicos adicionais", informou José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras.
Hoje o país consome 36 milhões de metros cúbicos por dia. A demanda até 2010 deve subir 20% ao ano. A decisão da Petrobras quer evitar uma dependência maior da Bolívia.
O anúncio foi feito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) ontem no Palácio do Planalto. Na mesma reunião, a Petrobras informou que concluiu os testes para introduzir o óleo vegetal no processo de produção do óleo diesel. "Esse conjunto de ações faz parte do plano de redução de dependência energética do país", disse o ministro Silas Rondeau (Minas e Energia).
O uso de óleo vegetal na produção do diesel foi considerado um "paradigma tecnológico", e a estatal está patenteando o processo. O óleo vegetal vai aumentar o volume de diesel produzido e melhorar a qualidade do produto, segundo a empresa.
Hoje a demanda de óleo diesel no país é de aproximadamente 45 bilhões de litros por ano, parte dela importada. O aumento na produção com o uso do óleo vegetal não poderá, a princípio, substituir o volume importado.
De acordo com o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), o uso de óleo vegetal poderá criar uma demanda adicional para a soja de aproximadamente 1,2 milhão de toneladas, colhidas em cerca de 420 mil hectares, que produzirão cerca de 6 bilhões de litros de óleo vegetal . O aumento da demanda levará a uma melhor cotação da soja.

Termelétricas
Rondeau anunciou também que a Petrobras irá testar o uso de álcool como combustível das usinas termelétricas. Os primeiros testes serão realizados em setembro, na usina Barbosa Lima Sobrinho, no Estado do Rio de Janeiro, mas o governo ainda não tem prazo para o uso do produto em escala industrial.
Os técnicos ouvidos pela Folha avaliam que o programa precisa ser encaminhado com cuidado, pois poderia afetar diretamente o mercado de álcool dos automóveis. Isso porque o país enfrentou recentemente uma crise no abastecimento de álcool durante a entressafra de cana, quando os preços do produto subiram de forma preocupante, e o governo precisou interferir no mercado.
O próprio ministro Roberto Rodrigues reconheceu que o programa será implementado como alternativa, e não como substituto do gás natural, e que será necessário um programa de estocagem do produto.
Nas termelétricas, o gás natural pode ser substituído, além do álcool, por óleo diesel (caso de algumas usinas hoje), GLP (gás liqüefeito de petróleo) e GNL (gás natural liqüefeito).


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