São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CRISE NO CAMPO

Derrota na Câmara anteontem revela força do setor no Congresso, e custo de renegociação de dívidas deve subir

Governo deve ceder mais à bancada ruralista

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de impor nova derrota ao governo no Congresso anteontem, a bancada ruralista espera a definição do pacote agrícola, previsto para o dia 25, para retomar as negociações em torno da medida provisória que beneficia produtores do Nordeste.
Anteontem, os ruralistas, com apoio dos partidos de oposição, derrubaram o texto da MP e restabeleceram o texto do projeto aprovado em fevereiro e vetado integralmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo custo é estimado pelo Tesouro Nacional em R$ 11,7 bilhões.
A vitória folgada dos ruralistas -238 votos a 166- aponta que a área econômica terá de ceder mais do que gostaria ao setor.
"O problema é generalizado, não é de uma cultura ou de uma região. Por isso, queremos esperar até o dia 25 para avaliar como serão as negociações com o governo", disse o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, reduto dos ruralistas.
Os próprios governistas precipitaram a derrota de anteontem, ao insistir na votação da MP editada como paliativo ao veto presidencial ao projeto aprovado pelo Congresso. A intenção dos ruralistas era apenas adiar o exame do texto até a divulgação do pacote nacional, mas, esgotadas as manobras protelatórias, a bancada acabou derrubando a proposta do Executivo, cujo impacto era estimado em R$ 3 bilhões.
Agora, a nova versão da MP, que vai ao Senado, dá aos produtores nordestinos 25 anos, com quatro de carência, para pagar dívidas do crédito rural. Os juros, dependendo do valor original da dívida, são de 1,5% (até R$ 35 mil), 3% (R$ 35 mil a R$ 200 mil) e 5% (acima de R$ 200 mil) ao ano.
O governo propunha limitar as possibilidades de renegociação às operações com recursos do Fundo Nacional do Nordeste, valores originais até R$ 50 mil e que não tenham sido objetos de refinanciamentos anteriores. O prazo máximo seria de seis anos, sem carência, e juros de 6% a 8,75%.
Se o pacote agrícola decepcionar os ruralistas, um impasse estará criado: o Senado deve ratificar o texto da Câmara, e um novo veto de Lula será provável. Nesse caso, os agricultores perderão os benefícios hoje em vigor.
(GUSTAVO PATU)


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