São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009

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Brasil deve ser duro com a China, diz economista

Proposta de usar reais e yuans no comércio bilateral é "nonsense puro", afirma

Arthur Kroeber, dono da consultoria Dragonomics, diz que país deveria imitar a Austrália e exigir da China contrapartidas nos negócios


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A ideia do presidente Lula de que Brasil e China só usem reais e yuans em seu comércio bilateral, prescindindo do dólar, é uma "tolice", segundo o economista americano Arthur Kroeber, dono de uma das mais influentes consultorias da China, a Dragonomics.
Kroeber diz que o pior da crise econômica chinesa "já passou", mas que o pacote de estímulo não responde à necessidade do país de se transformar em uma economia de consumo, em vez de voltada à exportação.
Leia trechos da entrevista que ele concedeu em seu escritório, em Pequim. (RJL)

 


LULA NONSENSE
A proposta do presidente Lula de abandonar o dólar no comércio bilateral e só usar reais e yuans é nonsense puro. Imagine a Baosteel pagando 1 bilhão de yuans pelo minério de ferro da Vale. O que a Vale vai fazer na hora com esse dinheiro? Trocar para dólares, claro. Imagine uma empresa de geladeiras que exporta para o Brasil recebendo em reais na China. O que dá para fazer com reais na China? Nada. É uma ideia tola.

PETROBRAS
A Petrobras tem a tecnologia e os ativos, os campos do pré-sal, e a China tem dinheiro vivo e a demanda por petróleo. Mas, para a parceria, é importante saber negociar.
Veja o caso da Austrália. A mineradora Oz Minerals acaba de ser vendida para a estatal chinesa Minmetal por US$ 1,21 bilhão. Os australianos simplesmente copiaram toda a negociação costumeira dos chineses com os estrangeiros.
Exigiram que a sede administrativa continuasse na Austrália, os diretores fossem australianos, que os preços fossem decididos pela Austrália, e vendeu a preço de mercado. Isso só dá para fazer com uma embaixada bem equipada, formada por diplomatas e técnicos que falem mandarim.

ÁFRICA
Os chineses estão investindo muito na África, mas seria insano que eles quisessem as mesmas condições para investir na América Latina. Eles estão explorando os africanos. As empresas levam a mão de obra chinesa, a infraestrutura chinesa, e as autoridades africanas aceitam. Estou longe de defender o protecionismo brasileiro, a enorme burocracia com que o Brasil dificulta o investimento externo. Acho que o Brasil precisa barganhar duramente, não ser fraco, exigir contrapartidas.

G2
A China gosta mais de relações bilaterais do que de participar de grandes grupos. Esse é um dos motivos da atual obsessão por um hipotético G2, com EUA e China como superpotências. A China sabe que, ao negociar sozinha com outro país, sempre terá mais poder de influência do que se estiver com um grupo. A China está passando para a liga dos grandes atores globais, algo de que Brasil e Índia ainda não participam, ainda não estão no ponto.

PIOR JÁ PASSOU
O pior da crise já passou. O pacote de estímulo de US$ 580 bilhões é suficiente para estabilizar o crescimento do PIB em 7% em 2009 e 2010. Não precisa de outro pacote, mas é um crescimento que não é eficiente. Investir em infraestrutura e construção civil, como o governo chinês faz, não é a melhor garantia de desenvolvimento. Falta crédito para a iniciativa privada, pois os recursos vão para grandes empresas estatais e para a construção de obras públicas. O governo precisa encorajar o setor de serviços.

EXPORTAÇÕES
Em 1980, as exportações eram equivalentes a 6% do PIB. Em 2000, 20%. Em 2007, tinham pulado para 36%. Mas o peso das exportações é menor na economia real, por isso a queda na demanda não foi tão sentida no PIB. O valor agregado na China é bem menor, boa parte das peças é importada.


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