São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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Venezuela cria sistema de bandas para dólar

Governo não dá detalhes sobre valor máximo e mínimo para o paralelo, que será controlado pelo BC

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O governo da Venezuela anunciou ontem que o dólar paralelo será regido por um sistema de banda de preços, cotados a partir do valor dos papéis da dívida pública e da estatal petroleira PDVSA no mercado internacional.
O anúncio feito pelo ministro do Desenvolvimento e Planejamento, Jorge Giordani, não sanou todas as dúvidas sobre a nova legislação, aprovada pelo Legislativo na semana passada.
Não há ainda o valor máximo e mínimo da banda cambial. O mercado paralelo é a saída para pessoas físicas e importadores em busca de dólares escassos no sistema oficial, mas seguirá paralisado até que o novo sistema entre em funcionamento.
A paralisia e os dias de incerteza darão mais impulso à inflação, dizem os analistas, quando o objetivo do governo Hugo Chávez com a reforma é frear o efeito da alta recorde do dólar paralelo (8,2 bolívares fortes por dólar) sobre a alta dos preços, 5,2% só em abril.
Chávez, que enfrenta eleições legislativas em setembro, decide mudar o paralelo apenas quatro meses depois de Caracas desvalorizar em mais de 50% a moeda local, em janeiro, e de criar dois tipos de câmbio oficial: 2,6 bolívares fortes para importações de alimentos e remédios e 4,3 bolívares fortes por dólar para os demais.
Analistas ouvidos pela Folha julgam que o governo não ataca as causas de fundo da alta demanda por divisa estrangeira: além da inflação, a falta de investimentos privados e o ambiente de insegurança jurídica.
Sob as novas regras, o banco central será o operador do sistema -as corretoras de câmbio estão excluídas do negócio. Tudo dependerá de quanto em reservas o BC estará disposto de disponibilizar e qual a celeridade do processo. Se houver pouca oferta e lentidão, a reação será o nascimento de um quarto câmbio no mercado negro.
"O governo resolveu redobrar a aposta, com maior ênfase no intervencionismo e no discurso que põe a culpa pela inflação nos empresários", diz Patrick Esteruelas, analista da consultoria Eurasia Group.
Essa também é a opinião de José Guerra, ex-diretor do BC venezuelano. "Para mim, eles realmente acreditam que é uma questão de mais policiamento", diz.
"A Venezuela talvez esteja próxima de um ponto no qual a riqueza do petróleo não seja mais suficiente para mascarar as distorções macroeconômicas politicamente induzidas", afirma um relatório de 30 de março do Morgan Stanley, que prevê nova desvalorização neste ano.
Esteruelas diz que a Venezuela entra mais uma vez no ciclo, que vem de antes de Chávez, de controle de câmbio seguido de inflação e desvalorização, mas não crê que ela ocorra antes das eleições de setembro.


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