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ARTIGO
Venda de títulos da dívida pública do Brasil afeta AL
ALEXANDER MANDA
DA REUTERS, EM LONDRES
A onda de vendas de títulos da dívida pública brasileira, que já dura dois meses, foi mais que acompanhada por movimento semelhante no comparativamente novo mercado de swaps de moratória, onde os problemas afetaram também as avaliações do México e do Chile.
Os contratos semelhantes a transações de seguros que esse mercado negocia -conhecidos como CDS- permitem que aqueles que adquirem a proteção
tenham seus títulos pagos pelos vendedores, a um preço preestabelecido, caso seja decretada uma moratória.
Por esse privilégio, as partes
contratantes da proteção pagam
aos vendedores dos contratos
uma taxa calculada na forma de
um ágio sobre a taxa libor.
Os operadores decidem elevar a
taxa, ou reduzir preços, quando o
risco está em ascensão e se torna
menos provável que os compradores mantenham um determinado ativo.
Os swaps brasileiros com prazo
de dois anos estavam cotados a
1.500 pontos básicos (15%) acima
da libor na terça-feira, em comparação com 1.525 na segunda e 535
pontos em abril, antes que a onda
de vendas atual começasse.
"O Brasil arrastou o restante da
América Latina em sua queda.
Qualquer tumulto causará vendas
em outras partes", diz o operador
de um banco alemão.
A porção brasileira no índice
padrão desse segmento, o índice
plus de mercados emergentes do
JP Morgan, estava cotada a 1.263
pontos básicos (12,63%) de ágio
com relação aos bônus do Tesouro dos Estados Unidos, em comparação com os 749 pontos básicos de antes da onda de vendas.
"Os swaps de moratória tendem
a ver ágios crescendo muito mais
rápido do que no caso dos bônus", diz Robert McAdie, estrategista do mercado de derivativos no Lehman Brothers.
Efeito eleição
Os ativos brasileiros estão em queda desde a metade de abril, quando os mercados começaram a acreditar que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha chances de
vencer a eleição presidencial brasileira em outubro.
Os mercados têm medo de Lula porque no passado ele fez da reestruturação da dívida brasileira uma de suas plataformas de campanha eleitoral.
A campanha de Lula apresentou declarações contraditórias sobre suas posições quanto à política econômica, e, na segunda-feira, ele se recusou a indicar quem
comporia sua equipe econômica,
uma providência que talvez tivesse causado o fim das informações
conflitantes.
Os swaps do México e do Chile,
que eram considerados portos seguros na região, também foram
atingidos.
Os CDS de dois anos do México
estavam cotados em cem pontos
básicos de ágio sobre a libor em
abril, mas atingiram os 140 na terça-feira. Os do Chile subiram de
85 pontos básicos para 130.
O mercado agora começa a se
acalmar, graças a um pacote de
medidas econômicas anunciado
na semana passada pelo presidente do Banco Central e pelo ministro da Fazenda brasileiros. Mas é
preciso que o ágio caia muito antes que os níveis anteriores à crise
sejam restabelecidos.
"O mercado de CDS se aquietou. Vê-se muita especulação,
mas não me parece que haja muitas transações. Os níveis não caíram", diz o operador.
Os níveis dos CDS brasileiros
indicam uma probabilidade comparativamente alta de moratória,
diz McAdie, do Lehman Brothers.
Se os detentores de bônus presumirem que seu papel teria valor
equivalente a 30% do valor de face
depois de uma reestruturação da
dívida, o ágio implica uma chance
em três de que o país decrete uma
moratória, estimou ele.
"Os ágios podem se elevar a
ponto de fazer com que os bancos
deixem de se interessar por oferecer proteção aos investidores. Estamos perto disso no momento", declara.
Moratória argentina
Mesmo assim, há quem acredite, nos mercados, que essas crises encorajaram o crescimento dos CDS. Quando a Argentina suspendeu o pagamento de sua dívida externa publicamente negociada, em janeiro, os detentores de
contratos de proteção repentinamente se deram bem. O país decretou moratória bem no final de 2001 devido a uma recessão desgastante que já dura quatro anos.
"Depois da Argentina, as atividades se aceleraram", diz um estrategista de derivativos de um banco europeu. "Depois de moratórias como essas, o interesse na compra de proteção aumenta", acrescentou. Os detentores de
contratos de proteção para papéis argentinos tiveram bons lucros,
em um momento em que os detentores de bônus caíam no vermelho, segundo o estrategista.
Os detentores de contratos de proteção entregaram os bônus aos vendedores dos contratos e receberam o preço preestabelecido por eles. No começo do ano, o
bônus FRB Brady argentino padrão estava sendo negociado por 28,75% de seu valor de face, o que potencialmente daria aos detentores de contratos de proteção um
lucro da ordem de 71,25%.
O pico na demanda - causado
pelos detentores de contratos que
precisavam adquirir bônus a serem entregues aos vendedores de
proteção- fez com que o FRB subisse para 36,25% de seu valor de
face.
No momento, as transações de CDS estão paradas, mas o operador do banco alemão disse que as coisas não ficariam assim por muito tempo.
"As operações se reduziram, mas acredito que as pessoas estejam esperando para ver em que direção o mercado vai", disse. "Depois de duas semanas complicadas, é melhor esperar para ver para onde vai o mercado", acrescentou o analista.
Tradução de Paulo Migliacci
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