|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ONU E DESENVOLVIMENTO
Para Ricupero, encontro em SP mostrou que países em desenvolvimento precisam reduzir dependência ed produtos primários
Sem avanço comercial, evento serve de alerta
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na ausência de avanços significativos nas negociações agrícolas
que correram paralelamente à 11ª
reunião da Unctad (Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), o encontro fez um alerta para os países em
desenvolvimento.
"Esse encontro fez os países ficarem mais atentos para o fato de
que é preciso reduzir a dependência de produtos primários", disse
o secretário-geral da Unctad, Rubens Ricupero.
Os encontros da Unctad, que é o
braço das Nações Unidas para comércio e desenvolvimento, não
têm caráter regulatório. Mas havia uma grande expectativa em
torno das reuniões paralelas: do
G20 (grupo formado por países
em desenvolvimento), do NG5
(Brasil, Índia, Austrália, EUA e
UE) e da União Européia com o
Mercosul.
Na avaliação do Itamaraty, ao
fazer com que EUA e União Européia concordassem em eliminar
subsídios à exportação na Rodada
Doha, a liberalização comercial
da OMC (Organização Mundial
do Comércio) ganhou um novo
fôlego. "O encontro possibilitou
identificar convergências potenciais para que os técnicos continuem a negociar", diz Amorim.
Para Adriano Campolina, da
ONG Action Aid, porém, esse resultado foi bastante tímido.
Já no caso UE-Mercosul, o ceticismo predomina. Os dois lados
argumentam que fizeram as melhores ofertas possíveis. Ao término do encontro, porém, não houve declarações de avanço no acordo, previsto para ser finalizado
em outubro deste ano.
No caso do bloco sul-americano, foram colocadas na mesa
ofertas para o setor de investimentos e de serviços. Do lado europeu, uma abertura agrícola sobretudo por meio de um sistema
ainda pouco claro de aumento de
cotas para produtos sensíveis, como açúcar. "A UE quer tudo do
Mercosul e nos oferece espelhinhos e miçangas", diz Pedro de
Camargo Neto, do conselho da
Sociedade Rural Brasileira.
Para os especialistas e para a
Unctad, o maior lucro da jornada
de encontros foi o lançamento da
nova rodada de negociações do
SGPC (Sistema Global de Preferências Comerciais), que prevê a
redução de barreiras tarifárias entre os 44 países signatários.
"O anúncio das novas negociações Sul-Sul tem potencial para se
tornar um benefício significativo
para a integração econômica dos
países em desenvolvimento", argumentou a Oxfam.
Segundo Ricupero, outros destaques foram: o lançamento de
uma força-tarefa para acompanhar o mercado de commodities e
a iniciativa de fazer relatórios freqüentes sobre os setores comerciais mais dinâmicos das economias dos países pobres.
Especialmente nos LDCs (países com menor grau de desenvolvimento), as dificuldades para a
elaboração de estatísticas sobre o
desempenho econômico e indicadores sociais dificultam o planejamento de políticas públicas para o
desenvolvimento.
Os países em desenvolvimento
comemoram o avanço do reforço
do papel da Unctad.
"O principal resultado da conferência da Unctad foi o fortalecimento da própria instituição. Ela
pode não ter poder de decisão,
mas o seu poder de inspiração é
muito importante", disse ontem o
chanceler Celso Amorim.
Ao final da jornada de debates,
que terminou ontem, a 11ª Conferência produziu dois documentos: o "Consenso de São Paulo" e
o "Espírito de São Paulo". O primeiro resume as diretrizes básicas
acordadas os Estados participantes e o segundo faz um apanhado
dos debates. A sugestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
criar um fundo internacional para
o combate à fome também será
incluída no documento.
"Há uma voz conjunta dos países em desenvolvimento. A Unctad pode promover desenvolvimentos interessantes. O momento atual é muito importante", disse o especialista em comércio exterior Raul Gouveia.
Criada em 1964, na esteira do
movimento dos países não-alinhados na Guerra Fria, o órgão
viu seu poder de interlocução pelos países pobres diminuir na
mesma proporção em que as economias desses países foram sacudidas pela crise do petróleo, nos
anos 70, e pela crise da dívida externa, na década de 80.
Com uma gradual recuperação
das economias emergentes, os
pleitos dos países pobres começaram a ganhar mais relevância nos
anos 90.
Mesmo o papel da Unctad de
ser um fórum de debates e uma
"usina de idéias", como definiu o
chanceler Amorim, ainda está
aquém das aspirações das ONGs.
"A parte ruim dessa conferência é
que a Unctad não recebeu um
mandato para fazer um trabalho
mais significativo", diz a Oxfam.
Texto Anterior: Semente da discórdia: Presidente chinês diz ao Brasil que espera solução para o caso da soja Próximo Texto: Frases Índice
|