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Distribuição concentrada encarece álcool
Apesar de uma queda de 39% nas usinas, o preço do produto nos postos recua apenas 8% no Estado de São Paulo
Margens de lucro de distribuidoras e postos de abastecimento aumentam com o início da safra,
que eleva a oferta
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Enquanto o preço médio do
litro do álcool hidratado teve
queda de 39% na porta das usinas paulistas nas últimas oito
semanas, o produto recuou
apenas 8% em média nos postos do Estado de São Paulo,
conforme dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo).
Rubens Ometto, presidente
do grupo Cosan (usinas), atribui essas diferenças a uma concentração na distribuição, o
que distorce o mercado. "Como
está, o mercado não é perfeito.
Quando há excesso de produção, os preços caem nas usinas,
mas essa queda não chega aos
consumidores", afirma ele.
Ismael Perina Júnior, presidente da Orplana (associação
dos plantadores de cana), diz
que a concentração na distribuição e a demora do repasse
dos preços pelos postos acaba
afetando não só os consumidores, que deixam de pagar menos, mas também os produtores, que são pagos conforme os
preços recebidos pelas usinas.
O não-repasse do preço menor praticado pelas usinas para
os consumidores inibe o aumento do consumo, interferindo nos preços finais recebidos
pelos produtores. Com excesso
de oferta, os preços caem e já
não cobrem nem os custos de
produção, argumenta Perina.
A preocupação maior dos
produtores é que esse cenário
persista. Afinal, as usinas ainda
não chegaram ao pico da safra,
quando as 350 unidades produtoras produzirão 50 milhões de
litros de álcool por dia e apenas
30 empresas distribuirão 90%
desse volume ao varejo.
O grande volume produzido
pelas usinas imprime forte recuo de preços ao produto. Essa
redução, no entanto, não é
acompanhada pelas distribuidoras e pelo varejo.
Margem
Há um ano, as margens brutas do setor de distribuição
eram de R$ 0,11 por litro. As da
revenda, de R$ 0,18. Na semana
passada, as distribuidoras conseguiam R$ 0,275 por litro na
margem bruta, e as revendas,
R$ 0,351, conforme dados da
ANP.
As distribuidoras já atuam
com margens menores neste
mês -estavam em R$ 0,44 por
litro na segunda quinzena de
maio. Chegou a vez, no entanto,
dos postos, que subiram as
margens para R$ 0,35, após estarem em R$ 0,25 na segunda
quinzena do mês passado.
Essas margens elevadas provocam distorções no mercado.
O consumidor paulista, apesar
de o Estado ter o menor ICMS
sobre o produto e ter uma melhor logística de distribuição,
paga R$ 1,325 por litro, valor
superior ao R$ 1,304 pago pelos
usuários de Mato Grosso.
Essa concentração, que inibe
o acompanhamento da queda
de preços das usinas para os
consumidores finais, é fruto da
própria "boa intenção" da ANP,
segundo o mercado.
A resolução nš 7, deste ano,
que proíbe o revendedor varejista de adquirir qualquer espécie de combustível (gasolina,
diesel ou álcool) de outra bandeira que não a sua, é boa para
inibir eventuais aditivos ilegais
à gasolina.
Com relação ao álcool, no entanto, ela não faz sentido, segundo produtores do setor. O
álcool seria sempre igual em todas as unidades de produção e
de distribuição, afirmam os
produtores.
Apesar de os preços do álcool
estarem livres nos três elos da
cadeia -produção, distribuição
e revenda-, esse engessamento dos preços prejudicaria o
consumidor e não permitiria
um desenvolvimento maior do
mercado, dizem.
Ometto afirma que o poder
de fogo dos distribuidores é
muito grande hoje, principalmente quando se leva em consideração a distribuição de gasolina, álcool e diesel. O mercado ficaria mais bem adequado
com liberdade de compras e de
vendas e com mudança na legislação tributária, defende ele.
A liberdade de compra e venda permitiria aos postos buscar
o álcool onde fosse mais barato.
Poderiam ser criados centros
de distribuição pelo país, evitando o "passeio" e o encarecimento do álcool. O consumidor
sairia ganhando, e o mercado
seria mais perfeito. Claro que a
ANP continuaria fiscalizando
essas operações para garantir a
qualidade do produto, diz
Ometto.
O empresário acredita, ainda,
que poderia haver mudança do
recolhimento dos impostos nas
unidades produtoras. Se essas
medidas forem adotadas, "o
consumidor vai ganhar, e muito, porque a concorrência passa
a ser perfeita", diz Ometto.
O sistema atual de comercialização restringe as operações e
dificulta o desenvolvimento do
mercado com a participação de
novos parceiros e de negociações em Bolsa, diz o produtor.
O mercado está engessado e é
necessário aumentar o ganho
de eficiência, deixando o setor
mais solto, avalia Ometto.
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