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VINICIUS TORRES FREIRE
A reforma e as fontes da bandalha
Financiar campanha eleitoral com dinheiro público e mudar regras de votação não afetam corrupção dentro do Estado
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É DIFÍCIL AINDA levar a sério a
reforma política que tramita
no Congresso depois de assistir à demonstração, mais outra, de
histrionismo, ignorância, vileza,
má-fé e despropósito que foi em geral a sessão de ontem da Comissão
de Ética do Senado -lá eram ouvidos o advogado da moça que teve
uma filha com Renan Calheiros e
um amigo do senador, aquele que
trabalha numa empreiteira.
Mas nada como um dia pior que
outro para sacudir o desânimo profundo. A perspectiva do saco sem
fundo de motivos de desprezo ressuscita alguma resistência. Além do
mais, a reforma política intenta tratar de temas como o patrimônio suspeito de políticos, assunto que deveria ter sido objeto da comissão do
Senado, no entanto muita vez preterido pelo enxovalho e pela fofoca.
Debate-se no Congresso se a lista
fechada, o financiamento público de
campanhas e a cassação de deputados que mudam de partido reduziriam a corrupção e o paroquialismo
parlamentares. Na eleição de deputados por lista fechada, vota-se na legenda, apenas. Os partidos escolhem os parlamentares a serem eleitos. O método reforçaria a solidariedade partidária, diz-se, pois os candidatos fariam campanha pelo partido, e não por si próprios. Os programas partidários ganhariam relevância, pois os parlamentares deixariam de dar excessiva atenção a sua
clientela local, sua base de voto.
Primeiro problema: como seriam
escolhidos os candidatos da lista?
Candidatos com mais recursos (ilegais) não seriam privilegiados pela
cúpula partidária? Mesmo vedado o
financiamento privado da campanha, tal recurso vai desaparecer?
Por que não é contido agora o financiamento ilegal? Se houver prévias
para a escolha dos candidatos, o problema ressurge: haverá uma pré-eleição. Quem vai financiá-la?
Segundo, o sistema de lista fechada pode provocar uma distritalização informal das candidaturas, pois
seria racional os partidos evitarem a
concentração de candidatos em
uma região específica. Não parece
um bom modo de evitar a municipalização clientelística dos mandatos.
Terceiro, a corrupção parlamentar não está ligada apenas ao financiamento das campanhas, e tal financiamento deixou de ser motivo
central de corrupção, mas apenas
um de seus canais e motivações. O
Congresso tornou-se um modo de
ascensão social e de expansão do capital dos parlamentares. A acumulação do patrimônio desenvolve-se no
lobby parlamentar mais particularista ou mesmo na participação em
bancadas transpartidárias, que defendem grupos de interesse (por vezes de modo até legal e legítimo!).
Quarto, os métodos de apreciação,
votação e liberação do Orçamento,
seja na tramitação mesma do Orçamento ou nas medidas provisórias
ou leis que o emendam, é um grande
canal de malversação de dinheiros e
condutas. O Orçamento é definido
pelo Executivo; o Congresso debate
migalhas particularistas. A reforma
não evita tal fonte de corrupção.
Quinto, o excesso de cargos de nomeação livre no governo é outra fonte de barganha ilícita e pasto de bancadas bandidas. Enfim, a reforma
eleitoral é inócua em termos políticos (pode haver boas e más democracias com diversos sistemas de voto) e não contém a corrupção.
vinit@uol.com.br
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