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Governo concentra crédito da agricultura familiar
47% do financiamento vai para soja e milho, apesar da busca por diversificação
Sindicalistas e ministro do Desenvolvimento Agrário vêem "contradição" no Pronaf e defendem mudanças na atuação
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Créditos altos, inadimplência baixa, prioridade diante da
reforma agrária e simpatia do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Todos esses aspectos positivos, porém, não impedem
que a agricultura familiar viva
hoje uma "contradição" da monocultura que incomoda tanto
as entidades de trabalhadores
rurais como o próprio governo.
Levantamento do Ministério
do Desenvolvimento Agrário
revela que as culturas do milho
e da soja, juntas, representam
47% de todo o financiamento
de custeio das linhas do Pronaf
(Programa de Fortalecimento
da Agricultura Familiar).
Na safra 2005/2006, por
exemplo, dos R$ 3,3 bilhões financiados em custeio, R$ 1 bilhão foram aplicados em milho
e R$ 492 milhões, em soja.
O mesmo levantamento revela ainda que, dos 902,7 mil
contratos fechados no período
(julho de 2005 a junho de
2006), 427,5 mil estão justamente nos plantios de milho
(326,4 mil) e soja (101,1 mil).
O milho está espalhado por
todo o país, enquanto a soja
aparece mais concentrada no
Paraná e no Rio Grande do Sul.
Tanto no número de contratos como no valor financiado de
custeio, a concentração do milho e da soja é de 47% -distante, portanto, do discurso de "diversificação" da agricultura familiar apontada pelo governo e
esperada pelos movimentos e
entidades do campo.
"Sem dúvida há uma contradição no Pronaf", disse o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário). Segundo
ele, para tentar reverter esse
quadro, o governo estuda uma
forma de "liberar" 30% dos créditos para outras culturas.
Por exemplo: um crédito de
custeio de R$ 5.000 para milho
teria R$ 1.500 obrigatoriamente reservados a outras culturas,
como mandioca e tomate.
O Plano Safra da Agricultura
Familiar 2007/2008 terá R$ 12
bilhões para linhas de custeio e
investimento -alta de 420%
sobre os R$ 2,3 bilhões da safra
2002/2003, no governo FHC.
Em geral, a agricultura familiar representa pequenos proprietários, o que, na prática, impede que seus créditos sejam
destinados à cana-de-açúcar,
vedete do agronegócio. Nas linhas de custeio do Pronaf, a cana tem 0,84% dos contratos e
0,78% do volume financiado.
Dados do governo federal
mostram que a agricultura familiar representa 34,5% de toda a produção agrícola nacional. Algumas culturas aparecem acima dessa média, como
milho (44,3%) e fumo (95,9%).
Na soja, são 27,8% da produção.
Para Antoninho Rovaris, secretário de Política Agrícola da
Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), o agricultor possui alguns "atrativos" para se manter
em culturas tradicionais, como
milho, soja e café.
"A assistência técnica, por
exemplo, está bitolada nisso.
Há também outros atrativos,
como créditos específicos, pesquisas direcionadas e garantia
de preços. É preciso esses mesmos atrativos em outras culturas, principalmente assistência
técnica direcionada", disse.
Somadas, feijão, arroz, tomate e mandioca representam
13% do volume total e 16% dos
contratos de custeio do Pronaf.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, os agricultores familiares são responsáveis por 10% do PIB. Na safra
2005/2006, em todas as linhas
do Pronaf, foram fechados 1,9
milhão de contratos.
Altemir Tortelli, da Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
da Região Sul), diz que o governo precisa iniciar o quanto antes uma segunda etapa na área.
"Já houve uma democratização do acesso ao crédito, com
acesso aos bancos e subsídios,
uma conquista histórica. Agora
é preciso qualificar o crédito,
para induzir, estimular e criar
condições mais favoráveis."
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