São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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Lula avalia novas medidas contra inflação

Governo convoca reunião extraordinária para discutir propostas; aperto fiscal pode ser elevado para até 4,8% do PIB

Para evitar que o IPCA deste ano ultrapasse o teto de 6,5% da meta, Planalto volta a discutir restrições à expansão do crédito


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende discutir com a equipe econômica e conselheiros informais medidas de controle do gasto público e de restrição à expansão do crédito para tentar evitar que a inflação deste ano ultrapasse o teto da meta oficial do governo.
Foi convocada para hoje uma reunião extraordinária sobre o tema. O ministro José Múcio (Relações Institucionais) chegou a cancelar reunião hoje do conselho político para a realização desse encontro de Lula com a equipe econômica e conselheiros informais.
Lula quer ouvir sugestões do que pode ser feito, além do aumento de juros, para conter a inflação. Para Lula, é importante, do ponto de vista político e econômico, respeitar a meta de inflação. Do contrário, ele sinalizaria interna e externamente a chance de um cenário de descontrole de preços a dois anos do final de seu mandato.
No atual modelo, a meta de inflação é de 4,5%, mas há uma margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo a fim de acomodar imprevistos. No ritmo atual de inflação, há o risco de a inflação superar o teto da meta, de 6,5% neste ano, o que Lula quer evitar.
Nas palavras de um ministro, "caiu a ficha" do presidente de que a inflação poderá ser seu pior inimigo no final de governo. Daí Lula ter se convencido de que precisa adotar medidas duras e cumprir a meta no olho mecânico. Em reuniões com economistas, Lula tem dito que não vai medir esforços para evitar o descontrole inflacionário.
Lula já elevou a meta de superávit primário de 3,8% para 4,3%. Ele já autorizou a equipe econômica a perseguir superávit acima de 4,5% do PIB. No governo, há defensores de elevação ainda maior do superávit -economia do setor público para pagar os juros da dívida.
A idéia é o governo promover um aperto fiscal maior para fazer com que o consumo cresça no mesmo ritmo da atividade econômica. Enquanto o PIB cresce a uma velocidade de 5%, o consumo está na faixa de 6%. Para equilibrar essa conta, o governo cogita a possibilidade de elevar em um ponto percentual do PIB o superávit primário -de 3,8% para 4,8%.
Elevar o superávit significa maior esforço fiscal, o que ajudaria o Banco Central a não pesar tanto a mão na política monetária. Ou seja, a elevar menos os juros. Menos juros significa menor custo fiscal para rolar a dívida pública e menos efeito sobre a atividade privada.
Daí Lula admitir agora frear os gastos públicos, que cresceram no segundo mandato na comparação com seu primeiro período presidencial. Se for necessário, um interlocutor freqüente de Lula diz que ele aceita até discutir a possibilidade de promover algum adiamento de obras do PAC.
Lula, por exemplo, havia decidido dar 10% de reajuste para o programa Bolsa Família, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste numa correção menor sob o argumento de não contribuir para acelerar a dinâmica da inflação. De acordo com auxiliares, a tendência de Lula ainda é a de conceder um reajuste maior, mas a pressão para combater a inflação teria "balançado" o presidente.
Outra grande preocupação do governo diz respeito ao crescimento do crédito, que continua se expandindo a um ritmo muito elevado, acima de 20% ao ano. O Banco Central estuda algumas medidas para tentar baixar essa euforia no crédito.
Lula pretende discutir as medidas com os ministros Mantega, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Planejamento). Os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, também são chamados. Na qualidade de conselheiros informais, participam os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Em viagem ao exterior, Meirelles poderá não participar.
Em entrevista à Folha, publicada na última segunda-feira, Belluzzo defendeu freio nos gastos públicos e restrição à expansão do crédito. Dois meses atrás, Mantega propôs restrições ao crédito que foram rechaçadas pelo presidente Lula na ocasião. Agora, há clima para que voltem a ser cogitadas, avalia um ministro.


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