São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Os ricos estão inquietos


Relatórios e pesquisas de bancos falam de "crash", "fuga de ações" e de "indecisão" no BC dos EUA e no da Europa

FEZ ALGUM BARULHO ontem a divulgação de um relatório do Royal Bank of Scotland. Seus economistas dizem aos clientes que deve ocorrer um "crash" nas Bolsas mundiais daqui até setembro. O relatório não é lá muito circunstanciado, mas é bastante terrorista -fala em queda de 25% num índice importante da Bolsa americana, o S&P 500 (em baixa de 9% neste ano). Depois de uma ilusória recuperação no início de julho, viria a tormenta.
Como o dia ontem foi ruim para os povos dos mercados do mundo todo, a repercussão foi um pouco maior na mídia, nas fofocas e no universo blogueiro das finanças (em geral liderado por pequenos gestores de ativos). Mas o palpite financeiro também foi agitado pelo bafafá do encontro anual dos gestores ("donos") de hedge funds, em Mônaco.
Uma das estrelas da companhia, John Paulson, disse no encontro que as perdas do sistema financeiro mundial devidas ao estouro da bolha de crédito ainda irão a US$ 1,3 trilhão (estão em US$ 398 bilhões, na conta da Bloomberg). Paulson é estrela porque ganhou estimados US$ 3,7 bilhões em 2007 -bilhões, sim, não é erro de digitação. Apostou na ruína imobiliária e se deu bem. Seu prestígio é ainda maior porque os hedge funds "vão mal" -decerto ninguém ficou pobre, mas o fluxo de recursos para os fundos no primeiro trimestre deste ano bateu em apenas 25% do que era no final de 2007.
Paulson acredita que a recessão nos EUA virá no segundo semestre. Diz que está "vendido" (aposta em baixa) em ações e qualidade de crédito (acredita em calotes e falências crescentes). Sim, previsão macroeconômica de hedge fund vale ainda menos que as demais, mas onde o homem coloca o dinheiro tem alguma relevância. E Paulson não era excentricidade em Mônaco. Pesquisa dos organizadores do megaevento dá conta de que a crise de crédito ainda pioraria para 80% dos presentes à reunião no balneário bilionário. Para piorar, enquete da Merrill Lynch indica que grandes investidores estão pessimistas com ações e lucros de empresas européias.
Um relatório do Morgan Stanley, publicado na terça, pôs outra brasinha na fogueira dos palpites. Os economistas do banco chovem no molhado ao reafirmarem a opinião geral de que o Fed está entre a cruz e caldeirinha, entre o risco de a inflação subir e o de a crise piorar, caso aumentem os juros. Mas o pessoal do Morgan soprou a brasa ao dizer que a indecisão do Fed e uma alta de juros na Europa poderiam deflagrar uma crise, parecida com o rolo do sistema monetário europeu de 1992.
Para o Morgan Stanley, juro mais alto na Europa e estável nos EUA abalaria economias periclitantes, como Reino Unido, Espanha, Itália, Portugal, Grécia (com crises imobiliárias à vista e/ou déficits em conta correntes monstruosos); esfriaria o ponto forte do continente (a Alemanha); e levaria pânico à parte do Leste Europeu, em boom de crédito.
Os BCs mais importantes do mundo estão meio perdidos entre opções igualmente duras -o Fed vive entre o temor do fantasma (apenas simbólico e extremamente exagerado) da Grande Depressão e o da Grande Inflação dos anos 1970. O petróleo continua a inflar e a economia americana manda sinais contraditórios.
Os ricos estão inquietos.

vinit@uol.com.br


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