São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Economistas esperam que BC mantenha a taxa Selic em 16% na reunião do Copom desta semana

Meta dificulta queda do juro, dizem analistas

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), que definirá os juros básicos da economia, começa amanhã, com expectativa de manutenção da taxa, mas analistas estão atentos ao que pode ocorrer mais à frente.
Até setembro, a maioria afirma esperar que a taxa básica (Selic) continue em 16%. Mesmo depois disso, é pequena a chance de redução da taxa básica, segundo economistas, e, se ocorrer, será ínfima.
Junho e julho, já se esperava, seriam meses ruins para a inflação, em razão do aumento de tarifas, dos preços de commodities industriais, que não caem, e do petróleo, que continua a incomodar. A preocupação, porém, é como se dará a passagem dos preços do atacado para o varejo.
Teme-se que em um ambiente de aquecimento da economia seja mais fácil repassar aumentos para o consumidor. Como o teto da meta de inflação é de 8%, não sobra muito espaço para acomodar alta de preços.
Com relação à inflação deste ano, pouco se pode fazer. Há um espaço de cinco a seis meses para que se percebam efeitos da política monetária. A preocupação transborda para 2005, quando a meta de inflação será menor, de 4,5%. "O foco agora é 2005", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult.
"Não se sabe como será a absorção de preços do atacado com a demanda aquecida -talvez superaquecida, já que se começa a considerar que um crescimento de 4,5% neste ano não será impossível. E aí a pergunta: não deveriam ter mexido na meta?"
A partir de setembro ou outubro, há uma pequena possibilidade, segundo analistas, de alteração nos juros. "Ou não fazem nada, ou baixam muito pouco, ou sobem. Depende de como virá o IPCA de agosto e de como estará o repasse de preços do atacado para o varejo", afirma Simino.
Para uma parcela de economistas, nos próximos meses, a inflação poderá recuar, apesar do aumento das tarifas e do petróleo, considerando a apreciação do câmbio e o arrefecimento de preços livres.
"O cenário externo deu uma clareada, o real se valorizou, o que deve ajudar a não pressionar inflação. Se tudo der certo e a situação se mantiver, a inflação deve vir mais baixa, diz Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.
"À medida em que as pressões de preços administrados se dissiparem, as taxas de inflação deverão voltar para patamares próximos aos observados em meses anteriores", segundo o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
O banco projeta manutenção de juros até o final do ano, embora não descarte "uma redução mais para o final do ano, que seria modesta de qualquer forma."

Capacidade utilizada
Permanece, segundo economistas, a preocupação quanto ao nível de atividade e a sustentação das taxas de crescimento, mencionada no último Relatório de Inflação.
"A grande preocupação é a capacidade de oferta não se expandir. A situação é mais crítica em alguns setores em que a capacidade utilizada é de 95% a 100%", afirma Póvoa.
"O Brasil tem problemas regulatórios. Não se vê investimento entrando, e, com crescimento de 3,5%, 4%, pode começar a gerar problema inflacionário. Sem crescimento da capacidade de oferta, a possibilidade de cortar juros não vai ser muito alta", diz.


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