São Paulo, sábado, 19 de julho de 2008

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Preço da terra avança 17% em 12 meses

Alta de commodities, escassez de áreas e grau de investimento elevam valor do hectare; média nacional bate recorde

Preço de R$ 4.287 representa crescimento de 41% nos últimos 36 meses; produção de grãos puxa cotações em áreas agrícolas

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A forte alta das commodities, a procura por alimentos, a escassez de áreas agricultáveis no mundo e, mais recentemente, a condição de "investment grade" obtida pelo Brasil estão aquecendo os preços de terras brasileiras.
No bimestre maio-junho, o preço médio atingiu R$ 4.287 por hectare, 17% a mais do que há um ano e 41% de aumento nos últimos 36 meses. É o que mostra o estudo "Análise de Mercado de Terras", do Instituto FNP.
Dessa conjugação de fatores que impulsionam os preços da terra para cima, as commodities são o principal motivo de pressão, segundo Jacqueline Dettmann Bierhals, analista responsável pelo mercado de terras na AgraFNP.
As maiores altas ocorrem, portanto, em áreas destinadas à produção de grãos.
Bierhals diz que, com pagamento indexado em sacas de soja, a terra destinada a grãos não pára de subir. "O número de sacas pedido por hectare continua aumentando e já atinge a estratosférica marca de 600 sacas por hectare."
Outro fator de pressão nos preços da terra são os investimentos estrangeiros. Por ora, como ainda não saiu a anunciada revisão na legislação que regulamenta a compra de terras por investidores externos, a compra ocorre em associações com capital nacional.
Ainda é difícil determinar volume e localização desses investimentos estrangeiros, segundo a analista. Oeste baiano, Piauí, Maranhão e, em menor escala, Mato Grosso têm sido, no entanto, as regiões preferidas do capital estrangeiro.
Muitos desses investimentos são de grupos ligados à agricultura e vêm ao Brasil em busca de locais para a produção de grãos. Outros, no entanto, adquirem a terra para esperar valorização, diz Bierhals.
"Mesmo com o novo patamar de preços e o real fortalecido, as terras no Brasil ainda são mais baratas que em outros países, e isso deve continuar atraindo o olhar dos estrangeiros", afirma a analista da AgraFNP.
A procura maior tem se caracterizado por glebas de terras de grande tamanho, localizadas principalmente em regiões de expansão de fronteiras agrícolas, diz Bierhals.
Investidores estrangeiros e nacionais continuam na busca de ativos reais seguros, já que há um aumento nos riscos nos investimentos no mercado financeiro, segundo ela.
Para a analista da AgraFNP, a entrada de empresários que não são tradicionais do agronegócio pode trazer uma mudança estrutural no setor produtivo. "Eles [novos empresários] tendem a trazer técnicas mais modernas de administração e intensificam o processo de profissionalização do setor."

Pastagens
Terras de pastagens, após perderem espaço para grãos e cana-de-açúcar, começam a recuperar preços devido ao novo ciclo na pecuária. Depois de muitos anos amargando baixa remuneração no boi, os pecuaristas se desfizeram de parte do rebanho, principalmente das matrizes.
O rebanho diminuiu e está havendo uma escassez de animais prontos para o abate. Com a falta de gado, o preço da arroba saiu de R$ 50 para R$ 90 nos últimos meses, elevando os preços das terras de pastagens.
Para Bierhals, "esse tipo de terra deve ficar ainda mais disputado nos próximos anos".
A pressão por terras destinadas à produção de cana-de-açúcar, que avançou sobre áreas de pastagens e de grãos nos últimos anos, principalmente no centro-sul, está diminuindo. A rápida expansão do setor sucroalcooleiro gerou queda nos preços da cana-de-açúcar e provocou uma acomodação na procura por terras.
O ganho de competitividade no setor e os elevados preços do petróleo indicam que, no médio prazo, as condições devem continuar favoráveis para esse setor, que gera açúcar, álcool e energia, diz Bierhals.
Apesar dos problemas da economia mundial, principalmente nos Estados Unidos, o momento ainda é favorável para investimento em terras no Brasil, segundo a analista.


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