|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desequilíbrio fiscal ameaça crescimento
Economistas criticam medidas como lei que exclui PAC do superávit primário e veem "herança maldita" para o próximo governo
Aumento de gastos fiscais,
que deixa menor espaço
para reduzir juros e ampliar
a produção, já afeta risco
do país nos juros futuros
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão do governo de dar
mais flexibilidade aos gastos
públicos, permitindo que as
despesas com projetos do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento, plano de investimento do governo) não sejam
consideradas na hora de avaliar
a performance fiscal da União,
reacendeu o debate sobre o
equilíbrio fiscal no país daqui
para a frente, especialmente no
início do mandato do próximo
presidente, em 2011.
Entre os economistas, já se
fala "na herança maldita" que o
presidente Lula deixará para o
sucessor. Desde o início do governo petista, a questão fiscal
era considerada debate secundário no mercado financeiro.
Nas últimas duas semanas,
porém, ela tem ocupado espaço
cada vez maior. A dúvida dos
investidores sobre o futuro do
equilíbrio fiscal já responde por
uma parte do risco atribuído ao
Brasil nos juros futuros.
A taxa dos contratos referenciados em janeiro de 2011, por
exemplo, que era de 9,42% ao
ano no início de junho, está em
alta. Uma pequena parcela do
aumento é atribuída a dúvidas
fiscais, segundo especialistas.
O peso das incertezas fiscais
aumentou nesta semana, com a
aprovação, no Congresso, da
LDO de 2010 (lei que dá as diretrizes para os gastos orçamentários do próximo ano).
Com o texto, o governo legalizou uma brecha que já havia
sido aberta informalmente para este ano e que, na prática,
permite que os ministérios gastem mais com investimentos
sem serem acusados de irresponsáveis fiscais.
Diferença
No entanto, há uma diferença no debate sobre a questão
fiscal. No passado, ele era vinculado à solvência do país, colocando em dúvida se o governo
teria capacidade de fazer economia (chamada de superávit
primário) suficiente para manter o pagamento da sua dívida
em dia e evitar um calote.
Agora, a discussão está diretamente relacionada ao crescimento da economia. "A questão é se o "mix" de política econômica que o país seguirá irá
assegurar crescimento econômico", afirma Roberto Padovani, economista para América
Latina do WestLB.
Isso porque, quanto maior o
gasto fiscal, menor o espaço para a redução dos juros e, portanto, para elevar a capacidade
produtiva do país.
Segundo o economista Samuel Pessoa, professor da FGV
(Fundação Getulio Vargas), o
tema estará inevitavelmente na
pauta de debate da sucessão
presidencial.
"O próximo presidente pegará um país crescendo, mas com
pressão inflacionária e sem poder cortar gastos públicos porque eles cresceram com despesas permanentes."
Ele critica o aumento do funcionalismo nos últimos anos,
considerado "fora da realidade
do país". Além disso, o governo
prepara um novo reajuste para
o Bolsa Família e diminuiu a
contrapartida que Estados e
municípios são obrigados a arcar nos projetos do PAC, sobrecarregando os desembolsos da
União.
Para Pessoa, "o governo jogou a toalha da responsabilidade fiscal nos últimos dois anos e
vai deixar uma herança maldita
para o próximo presidente".
A economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, diz que a
flexibilidade para investir veio
com o engessamento das despesas de custeio. "O governo
não quis fazer um ajuste e cortar gastos. Com a queda na arrecadação, preferiu reduzir a
meta de superávit primário."
A brecha para mais gastos,
que pode abrir precedentes para que outras despesas sejam
incluídas, pegou carona na crise financeira mundial e ganhou
o rótulo de política anticíclica.
"Essa política pressupõe aumento de gastos quando a economia vai mal e cortes quando
a economia se recupera. Como
o aumento se deu em gastos
permanentes, está sendo feita
uma política anticíclica de um
lado só", diz Fábio Akira, economista-chefe do JPMorgan.
Texto Anterior: Rubens Ricupero: História de duas repúblicas Próximo Texto: Brasil será superpotência, diz especialista Índice
|