São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Emprego doméstico perde espaço para setor de serviços

Nas empresas, mulheres buscam benefícios que não existem nas casas de família, como pagamento de horas extras e limitação da jornada

Ciclo de crescimento econômico e aumento da escolaridade impulsionaram migração

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O crescimento econômico recente ampliou as vagas para as mulheres e incentivou uma migração do serviço doméstico para outras atividades. Por causa das oportunidades no setor de serviços e no comércio, Natila virou costureira, Lucicleide tornou-se secretária e Leide Jeanne trabalha como vendedora. Elas eram empregadas domésticas desde a infância ou o início da adolescência e agora sonham com qualificação profissão e progresso na carreira.
A mudança no emprego feminino é pesquisada pela professora Hildete de Araújo, da Universidade Federal Fluminense, em um grupo de trabalho organizado pela Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do governo federal, e composto pelo Ipea, pelo IBGE, pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e pelo Unifem (Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher).
"É um fato surpreendente. Embora ainda seja uma ocupação que concentra grande parte do trabalho feminino, o emprego doméstico começa a sofrer a concorrência de outras atividades", afirma Araújo.
Segundo os dados do IBGE, vem aumentando o percentual de mulheres trabalhando no comércio e no setor de serviços e diminuindo o das que atuam como domésticas.
Das mulheres ocupadas no país, eram domésticas 16,6% em 2007 e 18% em 2001. Os dados abrangem as trabalhadoras com e sem registro.
As áreas que mais têm mão de obra feminina são educação, saúde e serviço social, diz o IBGE. Em segundo lugar estão comércio e serviços de reparação, e, em terceiro, o emprego doméstico (veja quadro).
Dados mais recentes, do Dieese, comprovam a perda de participação da profissão: o percentual de domésticos no total da população ocupada em seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo instituto passou de 8,5% em janeiro de 2006 para 7,9% em maio deste ano.
Segundo o Dieese, as regiões metropolitanas em que o emprego doméstico mais perdeu força nesta década foram Salvador, Belo Horizonte e Distrito Federal. Na capital baiana, a proporção de ocupados nos serviços domésticos passou de 10,9% em maio de 2000 para 7,9% em maio de 2009.
Em São Paulo e no Recife o fenômeno ocorreu de forma menos acentuada. Os percentuais passaram de 8,5% para 8,1% na capital paulista e de 10% para 8,9% na capital de Pernambuco.
O estatístico Cimar Azeredo, do IBGE, observa que a migração do emprego doméstico para outros setores é uma tendência no país e ocorre porque o crescimento da massa salarial estimulou o avanço do comércio e dos serviços ligados à renda. Ele cita as companhias de limpeza como uma das responsáveis pela migração. "Nas empresas, as trabalhadoras conseguem benefícios que não têm, como pagamento de FGTS e de horas extras."
Foi com o emprego nesse tipo de empresa que Natila Carine Ferreira Santana, 23, deixou o serviço doméstico. Dos nove aos 21 anos, ela trabalhou em casas de família. Em 2007, foi registrada como auxiliar-geral e, mais tarde, começou um curso de corte e costura em Guarulhos, na Grande São Paulo. Encontrou trabalho como arrematadeira e agora conclui a última parte da qualificação. "A costura era minha vocação, e decidi ir em frente nisso."

Mudança de status
Patrícia Lino Costa, da diretoria técnica do Dieese, destaca que parte significativa das vagas criadas no ano passado foi ocupada por mulheres. O avanço da escolaridade nos últimos anos também criou oportunidades de trocar de emprego.
Clemente Ganz Lúcio, também diretor técnico do Dieese, afirma que a migração das trabalhadoras para outros setores eleva a autoestima delas. "A relação que a empregada tem com a família não é a mesma que tem com a empresa."
A vendedora Leide Jeanne da Silva, 30, e a secretária Lucicleide da Silva, 32, concordam que o ambiente de trabalho mudou depois que deixaram o emprego doméstico. "O trabalho na empresa dá mais chance de crescer", diz Lucicleide.


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