UOL


São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENSÃO PRÉ-COPOM

Vice volta a atacar a taxa de juros e diz que a saída é pelo trabalho, pela produção e pela exportação

Alencar vê 2003 perdido para a economia

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O vice-presidente da República, José Alencar (PL), afirmou ontem em Salvador (BA) que 2003 é um ano perdido para a economia por causa das altas taxas de juros.
"Pode-se dizer que sim, o ano está perdido. Nós já perdemos duas décadas [80 e 90] e temos de dar um jeito", disse Alencar, antes de almoçar com o governador Paulo Souto (PFL-BA), no Palácio de Ondina (residência oficial do governo baiano).
De acordo com o vice-presidente, que viajou a Salvador para apresentar o projeto sobre a transposição das águas do rio São Francisco, a alternativa do governo para a retomada do crescimento não passa pelo Copom (Comitê de Política Monetária), que se reúne hoje e amanhã para definir a taxa básica de juros, a Selic. Analistas acreditam na queda de 24,5% para 23% ao ano.
"A saída não é pelo Copom. A saída é pelo trabalho, pela produção, pela exportação, pela construção de elevado saldo da balança comercial e pelas transações correntes. Só assim vamos construir a nossa independência."
Indagado se o governo está "fazendo o dever de casa" para possibilitar a retomada do crescimento, Alencar respondeu: "Está tentando fazer, está tentando fazer".

Juros despropositados
De acordo com Alencar, a redução na taxa básica de juros estabelecida pelo Copom na última reunião (de 26% para 24,5% ao ano) não alterou o panorama econômico. "Não houve queda nenhuma. Eu não entro no assunto Copom, falo do ponto de vista filosófico e político. E, do ponto de vista filosófico e político, as taxas de juros no Brasil são um verdadeiro regime de juros despropositado."
Para defender sua opinião, Alencar comparou as taxas cobradas no Brasil com as de outros países. "Se você pegar 25 países, o Brasil incluído, em determinados casos a taxa cobrada [pelos países] é igual a 10% do que pagamos. Em outros, a proporção é de 5%. E olha que estou falando da taxa básica real, porque, se formos falar em taxa de crédito, o que cobramos é um crime."

Medidas paliativas
Ainda antes do almoço, em conversa reservada com os senadores César Borges (PFL) e Rodolpho Tourinho (PFL) e com o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), Alencar classificou como "paliativas" as medidas mais recentes tomadas pelo governo para acelerar o desenvolvimento da economia. As palavras do vice-presidente foram captadas pelos gravadores dos jornalistas presentes ao Palácio de Ondina.
"Nós precisamos baixar os juros, e não de medidas paliativas para determinado setor, como a indústria automotiva. É um negócio [a redução do IPI para alguns tipos de carros] que dura pouco. Agora, as medidas para incentivar o microcrédito e outras coisas merecem o nosso aplauso. Porém isso não vai retomar o crescimento da economia, pois o que vai retomar o crescimento da economia é o custo do capital."
Antes de embarcar para Brasília, Alencar defendeu o projeto de reforma tributária encaminhado pelo governo ao Congresso. "O projeto é de interesse nacional e de todos os Estados."
Segundo Alencar, o projeto, que vem recebendo críticas de alguns governadores, não foi elaborado apenas pelo governo federal. "Houve a participação do governo e dos 27 Estados. Não temos a pretensão de mandar nada acabado para o Congresso. É lá que o projeto deve receber propostas de emendas para ser aperfeiçoado."


Texto Anterior: Ministros evitam previsões sobre corte
Próximo Texto: Dinheiro fácil?: Lula diz que aposta no tráfico "rende mais"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.