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TENSÃO PRÉ-COPOM
Vice volta a atacar a taxa de juros e diz que a saída é pelo trabalho, pela produção e pela exportação
Alencar vê 2003 perdido para a economia
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
O vice-presidente da República,
José Alencar (PL), afirmou ontem
em Salvador (BA) que 2003 é um
ano perdido para a economia por
causa das altas taxas de juros.
"Pode-se dizer que sim, o ano
está perdido. Nós já perdemos
duas décadas [80 e 90] e temos de
dar um jeito", disse Alencar, antes
de almoçar com o governador
Paulo Souto (PFL-BA), no Palácio
de Ondina (residência oficial do
governo baiano).
De acordo com o vice-presidente, que viajou a Salvador para
apresentar o projeto sobre a
transposição das águas do rio São
Francisco, a alternativa do governo para a retomada do crescimento não passa pelo Copom
(Comitê de Política Monetária),
que se reúne hoje e amanhã para
definir a taxa básica de juros, a Selic. Analistas acreditam na queda
de 24,5% para 23% ao ano.
"A saída não é pelo Copom. A
saída é pelo trabalho, pela produção, pela exportação, pela construção de elevado saldo da balança comercial e pelas transações
correntes. Só assim vamos construir a nossa independência."
Indagado se o governo está "fazendo o dever de casa" para possibilitar a retomada do crescimento, Alencar respondeu: "Está tentando fazer, está tentando fazer".
Juros despropositados
De acordo com Alencar, a redução na taxa básica de juros estabelecida pelo Copom na última reunião (de 26% para 24,5% ao ano)
não alterou o panorama econômico. "Não houve queda nenhuma. Eu não entro no assunto Copom, falo do ponto de vista filosófico e político. E, do ponto de vista
filosófico e político, as taxas de juros no Brasil são um verdadeiro
regime de juros despropositado."
Para defender sua opinião,
Alencar comparou as taxas cobradas no Brasil com as de outros
países. "Se você pegar 25 países, o
Brasil incluído, em determinados
casos a taxa cobrada [pelos países] é igual a 10% do que pagamos. Em outros, a proporção é de
5%. E olha que estou falando da
taxa básica real, porque, se formos falar em taxa de crédito, o
que cobramos é um crime."
Medidas paliativas
Ainda antes do almoço, em conversa reservada com os senadores
César Borges (PFL) e Rodolpho
Tourinho (PFL) e com o prefeito
de Salvador, Antonio Imbassahy
(PFL), Alencar classificou como
"paliativas" as medidas mais recentes tomadas pelo governo para
acelerar o desenvolvimento da
economia. As palavras do vice-presidente foram captadas pelos
gravadores dos jornalistas presentes ao Palácio de Ondina.
"Nós precisamos baixar os juros, e não de medidas paliativas
para determinado setor, como a
indústria automotiva. É um negócio [a redução do IPI para alguns
tipos de carros] que dura pouco.
Agora, as medidas para incentivar
o microcrédito e outras coisas
merecem o nosso aplauso. Porém
isso não vai retomar o crescimento da economia, pois o que vai retomar o crescimento da economia é o custo do capital."
Antes de embarcar para Brasília, Alencar defendeu o projeto de
reforma tributária encaminhado
pelo governo ao Congresso. "O
projeto é de interesse nacional e
de todos os Estados."
Segundo Alencar, o projeto, que
vem recebendo críticas de alguns
governadores, não foi elaborado
apenas pelo governo federal.
"Houve a participação do governo e dos 27 Estados. Não temos a
pretensão de mandar nada acabado para o Congresso. É lá que o
projeto deve receber propostas de
emendas para ser aperfeiçoado."
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