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Crise reduz otimismo e ameaça expansão
Para empresários, turbulência diminui previsibilidade e deve afetar investimentos; duração de incerteza e EUA serão "chaves"
Força do consumo interno e da produção e melhora dos indicadores do país são atenuantes, mas extensão da crise pode afetar economia
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A turbulência financeira da
semana passada congelou muito do otimismo reinante entre
empresários e economistas e
colocou em "ponto morto" as
expectativas de novos investimentos. É ainda um "sinal
amarelo", mas a duração da crise e, principalmente, a sua extensão nos Estados Unidos determinarão se novos projetos
serão engavetados ou continuados.
"A previsibilidade caiu drasticamente e isso é imobilizante.
Podemos esperar uma parada
em processos de investimento
que estavam em curso. Claramente, a direção não é no sentido do neutro, mas no do negativo", afirma Paulo Francine, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para o empresário, "toda a
cadeia que se estabelece agora
está apoiada na incerteza. Seu
efeito não é devastador, mas é
crescentemente negativo".
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (instituto que
reúne 46 empresários de grandes empresas nacionais), teme
que as expectativas negativas
sejam reforçadas neste momento por uma interrupção,
pelo Banco Central, no processo de queda dos juros.
"Neste momento, o melhor
seria o contrário: o BC sancionar as decisões de investimentos já tomadas mantendo a trajetória de queda na taxa", diz.
Para o empresário Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de
São Paulo), "vão colocar o pé no
freio, caso a crise se prolongue", principalmente as empresas médias e menores.
Tabacof lembra que as vendas de máquinas e equipamentos que atendem esses empresários vêm crescendo cerca de
10% ao mês há alguns bimestres, impulsionando de forma
"capilar" vários setores. "Para
essas empresas, uma sinalização negativa na condução dos
juros pode determinar uma parada maior", afirma.
Ele não acredita, porém, que
setores que investem pesado e
a longo prazo, como o siderúrgico, de papel e celulose e o petroquímico, deixem-se influenciar pela crise no curto prazo.
"O risco para esses setores, como para todos, é uma desaceleração maior na economia dos
EUA", diz (ver texto à pág. B4).
Menos vulnerável
O lado positivo, na visão de
empresários e analistas, é que o
Brasil está menos vulnerável.
Na crise externa e interna de
1999, quando o dólar disparou,
o resultado das transações do
país com o exterior era amplamente negativo.
Na época, o Brasil tinha necessidade semanal de financiamento de US$ 1 bilhão e reservas de US$ 35,5 bilhões.
"Era só olhar para as reservas
no BC e fazer a conta para saber
quantos dias faltavam para o
país ficar insolvente. Hoje, somos credores em dólares, com
reservas acima de US$ 150 bilhões, e temos superávit em
nossas contas externas", diz
Fabio Giambiagi, economista
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), ligado ao
Ministério do Planejamento.
Além disso, o setor empresarial está hoje sólido e com um
endividamento em dólares proporcionalmente bem menor.
No primeiro semestre de
2007, os cem maiores lucros
das empresas com ações na Bovespa foram de R$ 68,1 bilhões.
No mesmo período em 1999, de
R$ 22,4 bilhões, em valores
corrigidos pela inflação. As empresas também têm obtido a
maior parte de suas receitas em
um mercado interno aquecido.
"As empresas e o mercado estão bem mais sólidos para enfrentar uma crise", afirma
Claudio Haddad, ex-diretor do
BC e presidente do Ibmec-SP.
No primeiro semestre de
2007, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
registrou recorde de 9,9% nas
vendas do comércio. O aumento esteve apoiado nos crescimentos de 13,1% no crédito e de
6,4% na massa salarial -o que
deve garantir um bom resultado para o PIB (Produto Interno
Bruto) no semestre.
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), 97,1% das 280 negociações de categorias de indústria,
comércio e serviços tiveram
reajustes iguais ou superiores à
variação da inflação nas suas
datas-base.
"Até aqui, a crise é tipicamente financeira, com um epicentro nos EUA. No front interno, há muitos aspectos favoráveis: o crédito e a massa salarial
estão aumentando e, com a receita de tributos "bombando",
estamos longe de um problema
que ameace o lado fiscal do governo federal", afirma o economista Amir Khair, especialista
em contas públicas.
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