São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Bolsa recua ao menor nível em quase 1 ano

Índice Ibovespa desce a 53.326 pontos, menor patamar desde setembro passado; no mês, desvalorização chega a 10%

Estrangeiro mantém venda de ações brasileiras, e Bolsa enfrenta dificuldades para se recuperar; perdas fazem deste ano o pior desde 2002

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bovespa começou mal a semana: com mais uma baixa, passou a acumular desvalorização de 10,38% no mês e desceu a seu menor patamar em quase um ano. A queda no pregão de ontem ficou em 1,69%, o que levou a Bolsa paulista aos 53.326 pontos, mais baixo nível desde setembro de 2007.
O pessimismo que voltou a derrubar a Bolsa veio dos EUA, influenciado pelas preocupações crescentes com o setor financeiro do país. O índice Dow Jones sofreu baixa de 1,55%, e a Nasdaq perdeu 1,45%.
As mais afetadas ontem foram as gigantes financeiras hipotecárias americanas Freddie Mac e Fannie Mae, cujas ações terminaram com baixas de 24,96% e 22,25%, respectivamente. Informações de que as duas terão de receber aporte de recursos do Tesouro devido às dificuldades que enfrentam levaram investidores a se desfazerem dos papéis.
"O setor financeiro nos Estados Unidos estragou novamente o humor do mercado. Os problemas de liquidez no segmento ainda trazem bastante inquietação", disse Rafael Moysés, da corretora Umuarama.
Para Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset, a Bolsa pode cair mais nas próximas semanas até que o volume de negócios se recupere. "A gente ainda não viu o fundo do poço. E um indicador disso é o volume, que continua se reduzindo. O mercado sobe com liquidez. Claramente a liquidez está caindo [na Bolsa]. A gente não vê um motor que faça a Bolsa subir."
Previsões de novas perdas para o banco Lehman Brothers, ainda como reflexo da crise de crédito imobiliário, pioraram as expectativas para o setor.
No Brasil, apesar de os bancos seguirem anunciando lucros robustos, as ações do setor não escaparam das perdas ontem. Entre os maiores privados, houve quedas acima do Ibovespa: Bradesco PN perdeu 2,75%; Unibanco UNT recuou 2,52%; e Itaú PN, 2,47%.
Moysés afirma que a saída de estrangeiros, que se arrasta desde junho, tem punido também papéis de empresas com bons fundamentos. "O estrangeiro continua vendendo, e o investidor local não está com força para segurar a Bolsa. Muito estrangeiro tem vendido ações aqui para cobrir perdas ou mesmo comprar papéis depreciados lá fora", disse.
Até a quinta-feira passada, o balanço mensal das operações dos estrangeiros na Bolsa apontava saída de recursos do pregão de R$ 1,8 bilhão. Entre junho e julho, a Bovespa perdeu outros cerca de R$ 15 bilhões em recursos externos.
As empresas brasileiras ligadas ao setor de commodities não tiveram melhor destino ontem. Para as gigantes Petrobras e Vale, o dia foi de baixa.
Para os papéis da Petrobras, as quedas no pregão foram de 3,03% (PN) e 2,87% (ON). Na Vale, houve baixas de 2,24% (PNA) e 2,22% (ON).
O petróleo desceu mais um pouco ontem em Nova York, para US$ 112,87, em baixa de 0,79%, e está cada vez mais distante de seu pico de US$ 145, registrado em julho. As commodities metálicas também voltaram a se enfraquecer no mercado internacional, o que afetou as siderúrgicas brasileiras. As ações ordinárias da Gerdau perderam 3,13%; e Siderúrgica Nacional ON, 2,18%.
As perdas afetaram a maioria das ações do Ibovespa e não pouparam nenhum setor -aproximadamente 80% dos 66 papéis que formam o índice fecharam em baixa.
Com queda anual acumulada de 16,5%, a Bolsa se tornou uma decepcionante opção de investimento em 2008, após ser destaque de rentabilidade entre 2003 e 2007.

Dólar
O mercado de câmbio acabou escapando do dia turbulento. O dólar encerrou em pequena baixa de 0,06%, vendido a R$ 1,639, após chegar a ser negociado a R$ 1,628 em seu momento mais fraco de ontem. No mês, a apreciação da moeda americana é elevada, de 4,86%.
"A eventual continuidade do fortalecimento da moeda americana lá fora, com quedas ainda mais expressivas das matérias-primas exportadas pelo Brasil, deve continuar a se traduzir em alta para o dólar diante do real e de baixa para o índice Ibovespa", afirmou Miriam Tavares, diretora da corretora de câmbio AGK.


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