São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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DESCENTRALIZAÇÃO
Maioria dos trabalhadores na indústria está fora dos grandes centros, contra 47% em 89, diz UFRJ
Interior já emprega mais que capitais

Juca Varella/Folha Imagem
Fábio de Souza, 19, chega de bicicleta à fábrica de sandálias onde trabalha como operário, em Sobral (CE), e recebe salário de R$ 146



RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local

PAULO MOTA enviado especial a Sobral (CE) JOSÉ MASCHIO enviado especial a Apucarana (PR) Fábio de Souza, 19, teve mais sorte que seu pai. Na década de 80, Antonio de Souza se cansou da dura vida de pequeno agricultor em Sobral, no Ceará, e migrou para São Paulo.
Analfabeto, Antônio não prosperou e teve de voltar para o Ceará. Seu filho não vai precisar se esforçar tanto para buscar emprego numa fábrica. A indústria está chegando ao sertão.
"Foi uma excelente oportunidade. Agora consigo juntar algum dinheiro para comprar as coisas que quero e não preciso sair da minha cidade", diz Fábio, que recebe R$ 146,00 por mês como operário na fábrica de sandálias da Grendene, em Sobral.
A história da família de Fábio retrata uma mudança profunda no mercado de trabalho brasileiro, detalhada por uma pesquisa recém-concluída pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O estudo mostra, com precisão estatística, como está se tornando possível arrumar emprego em cidades como Sobral e como as antigas locomotivas industriais do país estão parando.
De 1989 a 1997, último dado analisado no estudo, o Brasil perdeu cerca de 1,5 milhão de vagas nas indústrias (redução de 23,4%). Desde então, o país entrou em recessão e o mercado de trabalho piorou ainda mais.
O novo mapa do emprego mostra que em quase todos os Estados houve encolhimento do mercado de trabalho. Mas algumas regiões nadaram contra a corrente e tiveram forte crescimento.
As oportunidades surgiram em cidades do interior, de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul. Todos os Estados do Centro-Oeste e algumas regiões do Nordeste, principalmente no Ceará, cresceram.
De 1989 a 1997, a redução no número de empregos no interior (12,3%) foi bem menos intensa do que nas capitais (33,8%). Até 1989, as capitais empregavam mais (52,8%) que o interior (47,2%). Agora, é o interior que tem mais trabalhadores (54,3%) que as capitais (45,7%).
"Estão ocorrendo dois fenômenos na indústria brasileira", diz o economista João Saboia, autor do estudo. "Um deles é a descentralização regional, com o fortalecimento de Estados com pouca tradição industrial. A outra novidade é a migração de indústrias das capitais para o interior."
O velho caminhão pau-de-arara, que levava os nordestinos para as fábricas do ABC paulista, começou a buscar destinos como Sinop, no Mato Grosso (crescimento de 167,1%), Umuarama, no Paraná (232,2%), e a campeã de alta na oferta de empregos, Pacajus (1.174,7%), no Ceará.


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