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MERCADO FINANCEIRO
Bovespa funcionará também das 18h às 22h, no "after market", e quer atrair pessoas físicas
Bolsa cria novo horário para investidor
MARCELO DIEGO
da Reportagem Local
Para tentar criar o hábito de investir em ações e popularizar o
mercado, a Bolsa de Valores de
São Paulo está lançando amanhã
o "after market", uma extensão
do horário normal da Bovespa,
mas privilegiando os negócios
com pessoas físicas.
O pregão da Bovespa continuará funcionando no horário normal, das 10h às 17h15. A diferença
é que agora existirá um novo horário, das 18h às 22h, para operações com volume menor, limitação de ganhos e somente pelo
pregão eletrônico.
Essas e outras medidas foram
tomadas pela direção da Bovespa
para evitar manipulações no valor
de papéis. Seria um caminho fácil,
caso as regras não existissem.
Num exemplo hipotético: um
investidor compra, no pregão comum, R$ 100 milhões de uma
ação A, cotada a R$ 1 por papel no
fechamento. Depois, vai ao "after
market" e, numa jogada menor,
de R$ 5 milhões, empurra a cotação do papel para o alto. No dia
seguinte, sai vendendo as ações,
"infladas" artificialmente no pregão noturno.
"As medidas de proteção foram
pensadas para essa fase de implantação. Temos que ter um
controle para evitar que as pessoas tomem decisões no escuro.
Será um processo de aprendizagem", disse Gilberto Mifano, superintendente-geral da Bovespa.
As medidas principais são: limitação de ordens de compra de R$
50 mil por investidor; negociação
de ações cujo preço-base foi fixado no pregão do mesmo dia e variação de 2% no valor do papel
(para cima ou para baixo).
No dia seguinte, o "after market" ("após o mercado", em inglês) será ignorado pelo Índice
Bovespa. Todas as ações voltam
ao pregão com o valor negociado
no fechamento normal do dia anterior.
Em tese, o novo sistema é menos atrativo para as grandes instituições financeiras (responsáveis
por cerca de 44% dos negócios em
Bolsa) e para os investidores estrangeiros (23%), seja pelo pouco
dinheiro que pode ser aplicado,
seja pela capacidade limitada de
ganhos.
"Vai ser uma oportunidade para as pessoas fazerem negócios.
Deve começar devagarinho e ir
crescendo aos poucos", disse Mifano. As pessoas físicas participam de cerca de 13,5% do mercado à vista da Bovespa.
Aparentemente, sua tese é compartilhada pelas corretoras, principalmente as 11 que já operam
pelo sistema de Internet (rede
mundial de computadores).
A perspectiva é que os investidores via Internet constituam os
clientes mais assíduos do "after
market".
"A gente acha que, considerando o tipo de negócio, o público
tende a ser alguém conectado à
Internet", afirmou Mifano.
No pregão normal, grande parte
dos pedidos de compra ou venda
de ações é feita por meio de uma
mesa de operações. Um corretor
ou operador recebe os pedidos e
negocia. Isso permite montar carteiras de investimento. Os volumes são maiores.
No sistema eletrônico, as ordens são emitidas por telefone.
Pela Internet, o próprio cliente faz
seus pedidos de compra ou venda. A corretora apenas ajuíza, dá
assistência e evita que o limite de
operações seja excedido.
"O cliente que está acostumado
a operar pela mesa tende a não
mudar. O que deve ter um salto,
de volume e de clientes, é o negócio com Internet", disse o economista Clodoir Gabriel Vieira, da
corretora Souza Barros.
Criação
As próprias corretoras pediram
à Bovespa para criar o novo horário. O intervalo de tempo foi baseado em pesquisa junto às corretoras. Em média, de 25% a 30%
das ordens de compras de pessoas
físicas acontecem após o fechamento do mercado normal -ficando, até sexta-feira, para o pregão seguinte.
"As pessoas gostam de acompanhar o mercado, mas nem sempre é possível. Agora, poderão colocar suas ordens e seguir a tendência do dia", afirmou Sérgio
Kulikovsky, da NetTrade (ligada
ao BancoCidade).
Segundo a Folha apurou, não
houve unanimidade no pedido
do novo horário. Algumas corretoras acharam que seriam prejudicadas, pois não têm intenção de
usar a Internet como instrumento
de compra e venda de ações. A
maioria (cerca de 50 das 72 corretoras), contudo, prevaleceu.
Nem todas as corretoras vão
aderir ao "after market". Grandes
instituições estrangeiras, por
exemplo, cujos clientes não demonstraram interesse em investir
entre as 18h e as 22h, ficarão de fora. Pelo menos 20 corretoras não
devem trabalhar no novo sistema
(nem são obrigadas a fazê-lo).
Entre as restantes, a maioria vai
montar esquema de plantões e de
rodízio de atendimento nas primeiras semanas. A intenção é reduzir ao máximo o custo de manter uma corretora funcionando
por mais quatro horas ao dia (ainda mais para um mercado que
ninguém sabe como será).
"O custo é inevitável. Vamos
tentar manter uma estrutura mínima de funcionamento, com um
novo supervisor, que será reaproveitado para outras funções", disse Paulo Prado, da Socopa.
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