São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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MERCADO FINANCEIRO
Bovespa funcionará também das 18h às 22h, no "after market", e quer atrair pessoas físicas
Bolsa cria novo horário para investidor

MARCELO DIEGO
da Reportagem Local

Para tentar criar o hábito de investir em ações e popularizar o mercado, a Bolsa de Valores de São Paulo está lançando amanhã o "after market", uma extensão do horário normal da Bovespa, mas privilegiando os negócios com pessoas físicas.
O pregão da Bovespa continuará funcionando no horário normal, das 10h às 17h15. A diferença é que agora existirá um novo horário, das 18h às 22h, para operações com volume menor, limitação de ganhos e somente pelo pregão eletrônico.
Essas e outras medidas foram tomadas pela direção da Bovespa para evitar manipulações no valor de papéis. Seria um caminho fácil, caso as regras não existissem.
Num exemplo hipotético: um investidor compra, no pregão comum, R$ 100 milhões de uma ação A, cotada a R$ 1 por papel no fechamento. Depois, vai ao "after market" e, numa jogada menor, de R$ 5 milhões, empurra a cotação do papel para o alto. No dia seguinte, sai vendendo as ações, "infladas" artificialmente no pregão noturno.
"As medidas de proteção foram pensadas para essa fase de implantação. Temos que ter um controle para evitar que as pessoas tomem decisões no escuro. Será um processo de aprendizagem", disse Gilberto Mifano, superintendente-geral da Bovespa.
As medidas principais são: limitação de ordens de compra de R$ 50 mil por investidor; negociação de ações cujo preço-base foi fixado no pregão do mesmo dia e variação de 2% no valor do papel (para cima ou para baixo).
No dia seguinte, o "after market" ("após o mercado", em inglês) será ignorado pelo Índice Bovespa. Todas as ações voltam ao pregão com o valor negociado no fechamento normal do dia anterior.
Em tese, o novo sistema é menos atrativo para as grandes instituições financeiras (responsáveis por cerca de 44% dos negócios em Bolsa) e para os investidores estrangeiros (23%), seja pelo pouco dinheiro que pode ser aplicado, seja pela capacidade limitada de ganhos.
"Vai ser uma oportunidade para as pessoas fazerem negócios. Deve começar devagarinho e ir crescendo aos poucos", disse Mifano. As pessoas físicas participam de cerca de 13,5% do mercado à vista da Bovespa.
Aparentemente, sua tese é compartilhada pelas corretoras, principalmente as 11 que já operam pelo sistema de Internet (rede mundial de computadores).
A perspectiva é que os investidores via Internet constituam os clientes mais assíduos do "after market".
"A gente acha que, considerando o tipo de negócio, o público tende a ser alguém conectado à Internet", afirmou Mifano.
No pregão normal, grande parte dos pedidos de compra ou venda de ações é feita por meio de uma mesa de operações. Um corretor ou operador recebe os pedidos e negocia. Isso permite montar carteiras de investimento. Os volumes são maiores.
No sistema eletrônico, as ordens são emitidas por telefone. Pela Internet, o próprio cliente faz seus pedidos de compra ou venda. A corretora apenas ajuíza, dá assistência e evita que o limite de operações seja excedido.
"O cliente que está acostumado a operar pela mesa tende a não mudar. O que deve ter um salto, de volume e de clientes, é o negócio com Internet", disse o economista Clodoir Gabriel Vieira, da corretora Souza Barros.

Criação
As próprias corretoras pediram à Bovespa para criar o novo horário. O intervalo de tempo foi baseado em pesquisa junto às corretoras. Em média, de 25% a 30% das ordens de compras de pessoas físicas acontecem após o fechamento do mercado normal -ficando, até sexta-feira, para o pregão seguinte.
"As pessoas gostam de acompanhar o mercado, mas nem sempre é possível. Agora, poderão colocar suas ordens e seguir a tendência do dia", afirmou Sérgio Kulikovsky, da NetTrade (ligada ao BancoCidade).
Segundo a Folha apurou, não houve unanimidade no pedido do novo horário. Algumas corretoras acharam que seriam prejudicadas, pois não têm intenção de usar a Internet como instrumento de compra e venda de ações. A maioria (cerca de 50 das 72 corretoras), contudo, prevaleceu.
Nem todas as corretoras vão aderir ao "after market". Grandes instituições estrangeiras, por exemplo, cujos clientes não demonstraram interesse em investir entre as 18h e as 22h, ficarão de fora. Pelo menos 20 corretoras não devem trabalhar no novo sistema (nem são obrigadas a fazê-lo).
Entre as restantes, a maioria vai montar esquema de plantões e de rodízio de atendimento nas primeiras semanas. A intenção é reduzir ao máximo o custo de manter uma corretora funcionando por mais quatro horas ao dia (ainda mais para um mercado que ninguém sabe como será).
"O custo é inevitável. Vamos tentar manter uma estrutura mínima de funcionamento, com um novo supervisor, que será reaproveitado para outras funções", disse Paulo Prado, da Socopa.


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